Crise de identidade

crise de identidade

Para entender a crise de identidade é necessário inicialmente entender a identidade. A identidade é formada por um processo complexo de socialização. Processo esse que se dá a partir dos contatos sociais que o indivíduo vai tendo ao longo de sua vida.

O conceito “identidade” vem sendo reutilizado com grande freqüência entre as ciências humanas devido ao que tem sido chamado de “crise de identidade”.

Tal crise se dá devido aos impactos da sociedade moderna sobre o indivíduo. Como Bauman bem apresentou em seu livro “Modernidade Líquida”, vivenciamos um período de grande fluidez, marcado por rápidas mutações.

Se a identidade é formada pelo contato social e este tem sido cada dia mais superficial e transitório, consequentemente haverá uma tendência de estarmos sujeitos a sermos influenciados por um número cada vez maior de tendências, a qual, devido ao rápido e superficial contato, produzirá  influência sobre nossos hábitos, gostos, preceitos, etc; porém de forma momentânea. Ao mesmo tempo em que as influências superficiais e transitórias deixam uma pequena marca em nossa personalidade, via socialização, o número de influências será cada vez maior e variada, o que nos traz a sensação de não possuirmos uma identidade. Aí está a crise.

Mas a crise é apenas um processo, também transitório da modernidade líquida. A liquidez moderna deixa uma sensação de ausência de identidade em meio a uma sociedade em rápida transformação. Mas não seria essa “metamorfose ambulante (para lembrar o Raul Seixas)” a identidade da sociedade moderna?

Eu? “Eu prefiro ser aquela metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”.

 

A identidade é um conceito central na sociologia, pois ela influencia a maneira como as pessoas se percebem e se relacionam com os outros. A crise de identidade é um tema bastante discutido na área, e se refere a um estado de incerteza e instabilidade em relação à própria identidade, o que pode levar a sentimentos de ansiedade, insegurança e confusão.

De acordo com a socióloga Anthony Giddens (1991), a crise de identidade é resultado de mudanças sociais que impactam a maneira como as pessoas constroem e mantêm suas identidades. Em sociedades tradicionais, a identidade era determinada principalmente pela tradição, pela religião e pelo status social. As pessoas sabiam quem eram e qual era o seu lugar na sociedade, e isso lhes proporcionava segurança e estabilidade.

No entanto, com o advento da modernidade, ocorreram mudanças significativas nas estruturas sociais e culturais que afetaram a forma como as pessoas se identificam. A industrialização, a urbanização e a globalização transformaram radicalmente as condições de vida e trabalho, tornando a vida mais dinâmica e fluida. Com isso, as pessoas se viram diante de um grande número de opções e possibilidades, e tiveram que lidar com a responsabilidade de construir e manter suas próprias identidades.

Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman (2005), essa situação de incerteza e insegurança é agravada pela sociedade líquida moderna, em que as relações sociais são cada vez mais voláteis e instáveis. As pessoas têm que se adaptar constantemente a novas situações e contextos, o que torna difícil a construção de identidades estáveis e coerentes.

Para o sociólogo Erving Goffman (1959), a identidade não é algo dado, mas sim algo que é constantemente construído e negociado nas interações sociais. As pessoas usam diversas estratégias para apresentar e manter suas identidades, como a manipulação da linguagem, do corpo e das roupas. No entanto, essa negociação da identidade pode ser ameaçada por situações que exponham a fragilidade ou a incoerência da identidade construída.

Assim, a crise de identidade pode ser vista como um reflexo das mudanças sociais e culturais que impactam a forma como as pessoas se identificam. É um fenômeno complexo e multifacetado, que pode ter consequências negativas para a saúde mental e emocional das pessoas. Por isso, é importante que a sociologia continue a investigar esse tema e a propor soluções para ajudar as pessoas a lidar com a crise de identidade.

Referências bibliográficas:

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. In: A representação do eu na vida cotidiana. 2011. p. 231-231.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

2 Comments

  1. Legados e heranças culturais nos atravessam sem exigir necessariamente, de nós, fixações identitárias neuróticas e teritorializantes. Essas 'exigências' se dão pelos agenciamentos institucionalizados: família, nação, grupo, etc. Apesar dos legados e das heranças nos terem constituido inicialmente (nomes, propriedades, bens…) de modo algum determinam definitivamente nosso DNA identitário, i.é, nosso mito pessoal fundador não é uma 'carteira' de identidade fixa e imutável… Acho duvidoso que a 'identidade' tenha que ser o resultado, ou função, necessário/a das heranças e legados simbólicos que possuímos e que nos constituem. Mesmo a ideia de identidades processuais – identificações – me parece ainda conceder a ideia de que agem/atuam constituindo unidades coerentes e homogêneas… A ideia de identidade é ilusória, abstrata, só pode ser concebida a partir da ilusão do Ego/Eu.
    Mais do que isso, a repulsa de grupos contra outros me faz lembrar uma análise de Lacan sobre o que une a tropa: algo que é comunicado entre o grupo sem palavras, o ódio. Ele ainda diz que o significante destacado dentre outros que vai representar o sujeito ou o grupo sempre é erigido em posição de ficar contra o outro. Fixações identitárias é uma aberração sintomática que pode até falar em nome de uma união, mas é a união de uns contra outros. É verdade, não é necessário concordar, dar a razão para o outro, mas assumir uma posição subjetiva de tentar compreender as razões já é um bom sinal de saúde mental. Sempre queremos que a razão fique só de um lado, ao ponto de dizer que o louco é um sem-razão! Nunca escutaram a lógica do delírio…
    Sem dúvida, tem esse aspecto, que parece ser o desencadeador mais nuclear desse complexo – próprio de uma psicologia de grupo. Tem me intrigado a força que os grupos possuem ao exigir e impor 'identidades' e 'identificações' para se manter coeso e aplacar as angústias do indiferenciado; evitando um devir mais nômade, menos territorializado ou fixo. É algo que é dificil de se trabalhar analíticamente dentro das instituições, onde as formações subjetivas estão controladas por interesses de prestígio, poder, status, recursos, etc. – capitais venais e simbólicos de todo tipo… Parece que só se pode falar disso e analisar isso, de fora, na fronteira…

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