Plano de aula de Sociologia

Todo início de ano é comum professores de diversas ciências se depararem com a seguinte inquietude:
Devo partir de que assunto? Como tornar minha disciplina mais atraente, assim como levar meus alunos a compreender sua importância?
Com a Sociologia não é diferente! É sabido que para cada realidade social existe uma fórmula diferente. Mas, grosso modo, existem uma base que pode ser (tomando os devidos cuidados) replicados em vários contextos escolares.
Os principais pensadores das teorias sociais, tais como Karl Marx, Emile Durkheim, Mauss, Spencer, Max Weber, entre outros, se debruçaram sobre a relação individuo e sociedade, sobre a dialética, a contradição, os nexos, a interdependência, enfim, sobre como os indivíduos criam as estruturas sociais e são criados por elas. Acredito que esse pode ser o ponto de início da disciplina. Desta forma, podemos partir da persanalidade dos alunos, levando-os a compreender quem são e como se formaram no que são. Buscando indicar de quais formas a sociedade influencia em nossa formação e de quais formas podemos construir ou transformar a sociedade.
“A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida intima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem freqüentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade moderna e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transforma em participação nas questões públicas.
O primeiro fruto dessa imaginação _ e a primeira lição da ciência social que incorpora _ é a ideia de que o individuo só pode compreender sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias em que ele. Sob muitos aspectos, é uma lição terrível; sob muitos outros, magnífica. Não conhecemos os limites da capacidade que tem o homem de realizar esforços supremos ou degradar-se voluntariamente, de agonia ou exultação, de brutalidade que traz prazer ou deleite da razão. Mas em nossa época chegamos a saber que os limites da ‘natureza humana’ são assustadoramente amplos. Chegamos a saber que todo individuo vive, de uma geração até a seguinte, numa determinada sociedade; que vive uma biografia e que vive dentro de uma seqüência histórica. E pelo fato de viver, contribui, por menos que seja, para o condicionamento dessa sociedade e para o curso de sua história, ao mesmo tempo em que é condicionado pela sociedade e pelo seu processo histórico.
A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa é sua tarefa e sua promessa. A marca do analista social clássico é o reconhecimento delas […]” (Mills, 1975, p.11-12).
Entendendo que somos e como nos formamos e nos reformamos, podemos partir para a discussão dos problemas que nos afligem. É certo que, geralmente, não trata-se de apenas problemas pessoais, desconexos com a sociedade. Assim poderemos discutir os problemas sociais mais amplos e identificarmos o quanto é importante compreendermos a sociedade para compreendermos nós mesmos.
“Talvez a distinção mais proveitosa usada pela imaginação sociológica seja a entre as ‘perturbações pessoais originadas no meio mais próximo’ e ‘as questões públicas da estrutura social’. Essa distinção é um instrumento essencial da imaginação sociológica e uma característica de todo trabalho clássico na ciência social.” (MILLS, 1975, p.14)
[…] Nessas condições consideremos o desemprego. Quando, numa cidade de cem mil habitantes, somente um homem está desempregado, isso é seu problema pessoal, e para sua solução examinamos adequadamente o caráter do homem, suas habilidades e suas oportunidades imediatas. Mas quando numa nação de 50 milhões de empregados, 15 milhões de homens não encontram trabalho, isso é uma questão pública, e não podemos esperar sua solução dentro da escala de oportunidades abertas às pessoas individualmente. A estrutura mesma das oportunidades entrou em colapso. Tanto a formulação exata do problema como a gama de soluções possíveis exigem que consideremos as instituições econômicas e políticas da sociedade e não apenas a situação pessoal e o caráter de um punhado de indivíduos.” (MILLS, 1975, p.15)

 

Assim, podemos levar os indivíduos a descombrirem que os outros influenciam em nossa vida, assim como os influenciamos. Compreendermos que a imaginação sociológica é fundamental para sermos pessoas melhores.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

1 Comment

Deixe uma resposta