Corrupção no Brasil

A leitora Estela Duarte Orestes, nascida em Barretos, Sao Paulo, estudante de International Business and Management Studies (Negócios Internacionais e Estudo de Gestão) na Hogeschool Rotterdam, na Holanda me propôs algumas perguntas sobre Corrupção no Brasil. Segue abaixo o conjunto que perguntas (quatro, ao todo) com as respostas dadas por mim. Posto aqui por acreditar que são consideração breves e que você possa colaborar com sus comentários.

Segue a baixo:

1 – Quais aspectos da sociedade brasileira, de uma forma geral, o senhor considera mais influentes nos (ainda) altos níveis de corrupção no Brasil? Por quê?

  Grosso modo, diria que são:

  • A cultura do “Jeitinho brasileiro” – esse comportamento se manifesta em diversa escala hierárquica da sociedade;
  • A cultura individualista herdade da cultura ocidental;
  • O sistema econômico que pressiona os indivíduos a possuírem (é a valorização do TER sobre o SER), somado à desvalorização do caráter (importante e valorizado são os potenciais consumistas);
  • O tipo de coerção (branda) adotada pelo Estado;
  • A impunidade marcante em nosso país.

2 – Quais aspectos culturais o senhor pensa que possam influenciar os níveis de corrupção no Brasil? Por quê?

Para responder esta pergunta eu desdobro três itens destacados a cima.

  • A cultura do “Jeitinho brasileiro” – esse comportamento se manifesta em diversa escala hierárquica da sociedade;
  • A cultura individualista herdade da cultura ocidental;
  • O sistema econômico que pressiona os indivíduos a possuírem (é a valorização do TER sobre o SER), somado à desvalorização do caráter (importante e valorizado são os potenciais consumistas);

 A ideia vendida no Brasil, onde o Jeitinho é supra-estimado, dá margem para ações imorais (a partir de meu julgamento) na prática cotidiana (como furar fila de banco, pagar propina para se obter algum benefício, etc.) Essas práticas acabam sendo naturalizadas. Eu, particularmente, prefiro chamar o tal “jeitinho brasileiro” de corrupção. Levando isso para o plano macro, é comum se ouvir no país a seguinte expressão: “rouba, mas faz”. Essa aceitação é, em parte, acarretada pela cotidianidade das práticas imorais (ao meu ver) o que, de certa forma, as legitimam. Parece que roubar pode, desde que não seja de forma exagerada (legitimada pelo mito criado de que todo político é ladrão). O político e o juiz de alto escalão também são brasileiros, que foram criados no Brasil, onde o jeitinho foi absorvido em sua formação. Assim, tais indivíduos estarão suscetíveis a praticarem o jeitinho e outras formas de corrupção em sua prática cotidiana.

Quanto a ideia de individualidade, não transcorrerei por ser apresentar de forma clara. Apenas indico que o modelo de sociedade que temos, classificada como “orgânica” (Durkheim), onde cada indivíduo faz sua parte e esta colabora para os demais, é um modelo que induz a individualidade. Como somos racionais (invoco aqui a Teoria da Escolha Racional), tendemos a buscar maximizar nossos ganhos. Como não vivemos em uma sociedade “mecânica” (mais uma vez utilizando o conceito durkheimiano) tenderemos a individualidade dos resultados (competição) e como estes estão atrelados a ganhos financeiros em um ambiente de imoralidade, tenderão os indivíduos à corrupção.

 A valorização do Ter sobre o SER, clássico na prática cotidiana das sociedades capitalistas pressiona os indivíduos a terem cada vez mais. Somado as questões anteriores, certamente teremos alguns indivíduos propícios à prática de corrupção (gostaria de lembrar que não temos uma corrupção generalizada, uma vez que se trata de um Fato Social Patológico).

3 – Quais aspectos políticos o senhor pensa que possam influenciar os níveis de corrupção no Brasil? Por quê?

Grosso modo podemos destacar:

  • A má escolha dos representantes;
  • Criação de redes que se transformam em “verdadeiras quadrilhas” – Fato, em parte, gerado pela existência de cargos comissionados;
  • Falta de uma política judiciária rígida e indiscriminatória;

  4 – Quais aspectos da legislação brasileira o senhor pensa que possam influenciar os níveis de corrupção no Brasil? Por quê?

A legislação brasileira é falha em diversos aspectos, tais como:

  • Discriminação legal – Para cada tipo de criminoso há um tipo de lei (uma mais branda, outra mais severa, tendendo ser mais severa em casos não políticos, sobre indivíduos sem escolaridade ou capital econômico); O que determina a pena sem sempre é o delito, mas o delinqüente.
  • As leis brasileiras são muitas e “não pegam”;
  • Existe uma expectativa de impunidade, uma vez que a burocracia brasileira é muito lenta; 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

3 Comments

  1. Cristiano,

    sabemos que teu post trata sobre um assunto de suma importância para os rumos a serem tomados por nosso país. Não venho, por ora, fazer comentário algum de maneira mais elaborada. Meu objetivo principal é marcar esta postagem para comentá-la num momento em que eu contar com mais tempo e me for mais oportuno. Faço, porém, alguns apontamentos.

    Acredito que o "jeitinho brasileiro" seja um mito. Parece-me estar mais ligado a certa idealização da figura do malandro carioca e à generalização de suas características a todos os brasileiros. Não digo que a corrupção se restrinja ao Rio de Janeiro, senão que temos um continuum de corrupção que vai do faceiro/safo ao mais austero.

    Também não penso que compartilhemos o individualismo da civilização ocidental. Em verdade, penso que caberia a distinção entre individualismo e personalismo (diferentes na sociologia respectivamente, penso, como um "x" e "a" na matemática). Neste ponto, penso ser melhor seguir pela vereda trabalhada por Raízes do Brasil, com as ressalvas da maturidade de Sérgio Buarque de Holanda.

    Por ora, é só.

    Abraços,
    até logo!

  2. Caro Vinícius,
    Concordo com você apenas em parte. Vamos lá:


    – "Acredito que o "jeitinho brasileiro" seja um mito" – O jeitinho brasileiro não é um mito, uma vez que é facilmente identificado na vida cotidiana, assim como descrito por muitas pesquisas antropológicas e sociológicas (se quiser poderia lhe indicar várias delas). É claro que trata-se de um conceito extrapolado (por exemplo, não é algo exclusivo do Brasil, como nos induz pensar Roberto Damatta). Mas ele existe e faz parte de nosso cotidiano. Diria que esse jeitinho brasileiro se manifesta por mais vezes no Brasil devido nosso "jeito cordial (Lembra do conceito "Homem Cordial"?)".
    Essa coracterística cordial proporciona condições para a manifestação do jeitinho brasileiro (que prefiro chamar de corrupção da moral).


    "Parece-me estar mais ligado a certa idealização da figura do malandro carioca e à generalização de suas características a todos os brasileiros".
    – Quando Damatta propós sua análise ele não a limitou, em sua generalização, ao carioca (embora sua pesquisa de campo tenha como plano de fundo o carióca). Não resido no Rio, mas vejo o jeitinho brasileiro se manifestando por aqui rotineiramente.


    "Também não penso que compartilhemos o individualismo da civilização ocidental".
    – Nesse aspecto não concordamos de forma absoluta.


    "Em verdade, penso que caberia a distinção entre individualismo e personalismo".
    Nesse ponto concordamos. Em minhas respostas a cima não mencionei questões igualmente importante, como o personalismo e o clientelismo, assim como outras coisas que podemos está acrescentando ao debate (o tema é muito amplo – por isso prezo pelos comentários dos leitores);


    "penso ser melhor seguir pela vereda trabalhada por Raízes do Brasil, com as ressalvas da maturidade de Sérgio Buarque de Holanda".
    – Nesse ponto concordo em parte, uma vez que podemos ter várias bases teóricas para análise de uma dada realidade. Eu poderia utilizar, por exemplo a Teoria da Escolha Racional, por exemplo.

    Por fim, acredito que esse tema estará sempre longe de ser esgotado. Mas tentamos apontar alguns pontos (nunca todos).
    Aguardo seus comentários para que o debate seja cada vez mais rico.
    Por enquanto, obrigado pelas críticas.

  3. Não Percebemos mais somos nós que bancamos essas corrupção, a corrupção Brasil é muito mais profunda. Acredito que apenas uma pequena parte dos casos seja descoberta e venha a público. Imagino que grande parcela fique escondida nas entranhas públicas. Temos a corrupção política, a corrupção de servidores e de cidadãos desonestos. A corrupção sempre tem dois lados, um corrompendo e outro sendo corrompido.
    É nítido que a máquina pública está comprometida. Desde criança escutamos falar sobre a tal da corrupção, agora vemos, todo dia, ao vivo e a cores na TV.

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