Taquigrafando o social: Uma metodologia para cientistas sociais*

Taquigrafando o social: decifra-me ou te devoro

Por Weslei Pauli**

 

Em qualquer pretensão científica os conceitos são fundamentais e, esta condição se torna mais exigente ainda quando pensamos nas Ciências Sociais. Cabe, portanto ao cientista social, sabê-los criar, e de certa forma, ligá-los uns nos outros para torná-los grandiosos, capazes de descobrir e interpretar os fatos sociais. Toda e qualquer pesquisa nas Ciências Sociais, sendo ela em torno do mesmo fato ou problema, sempre tem suas peculiaridades, seus problemas particulares. Para serem explicados de forma consistente, exigem que o cientista social adote uma metodologia constante, começando sempre do zero, usando teorias e conceitos já descobertos para alcançar o centro gravitacional de novos conceitos e novas teorias, reinterpretando o social, numa abordagem completamente diferente, mas comprometido com cientificidade da abordagem.
Taquigrafando o social
Para qualquer pessoa que queira dominar alguma coisa, seja um trabalho manual, seja um assunto qualquer, além de saber a teoria e ter conhecimento de causa, requer experiência. O cientista social não foge a regra, dominar o conteúdo é tão fundamental quanto sabê-lo utilizar para criar e descobrir novos conhecimentos. Entram aqui no contexto do trabalho do cientista a técnica e os meios para se elaborar um bom texto. Não cabe julgar os meios para a sua produção é através de papel e caneta ou por no computador. Para o cientista social que sabe usar as suas ideias, os dados de pesquisas, as leitura de conceitos e teorias, o meio a parti do qual está trabalhando é um mero detalhe. Quanto mais dados utilizados, quanto mais pesquisas elaboradas e quanto mais leituras feitas, o cientista social enriquece seu texto, tornando seus argumentos mais firmes e de difícil contestação.
Porém para seguir com sua investigação científica, o cientista social deve se afastar das crenças, do pensamento comum, do cotidiano. Esse afastamento do que é comum é necessário porque a sociologia tenta se redescobrir como ciência, apresentar diferencial de outros discursos, tornado-se dona de si mesma. Não que as Ciências Sociais queriam se sobrepuser as outras formas de ver o mundo, muito pelo contrário, mas isso se faz necessário pelo fato de que é se afastando do imediato, que se chega perto do que é real. Cabe, portanto, ao cientista social saber transpor a barreira da realidade imediata para mostrar, através de conceitos e da técnica, a realidade que vai além dos acontecimentos cotidianos.
Para que as Ciências Sociais se redescubram como ciência “Taquigrafando o social”, fazem-se necessários lugares onde suas teorias e abstrações ganhem vida. Não é necessariamente na sociedade que isso acontece, mas também em instituições como os centros de pesquisa e, principalmente, em Universidades. Nenhum cientista social deve ter a pretensão de sozinho, mudar o mundo. Ele precisa dos seus pares, as ciências sociais precisam de diversos olhares para se manter atualizadas e assim sobreviver. E é dentro das universidades e institutos de pesquisa que se é cultivada novas ideias. Porém, deve-se tomar cuidado com a mercantilização do saber, pois também dentro dessas instituições essa pratica acontece, o que colabora para o enfraquecimento do saber.
Diante do que foi exposto, não há como contestar que as Ciências Sociais progrediram, “Taquigrafando o social”, porém, nem tudo são flores. Veio junto com o avanço, problemas, principalmente a fragmentação de sua ciência, que ao invés de colocar as Ciências Sociais em posição de destaque em sua totalidade, só ajudou a “despedaçar”, fragmentar o seu campo de estudo. Surgiram através dos pequenos grupos, assuntos diversos, como governos, partidos, cultura popular, etnia, gênero, sociologia urbana, rural e entre outras áreas. Tudo o que foi exposto vem em confronto com o principal objetivo das Ciências Sociais, que seria: Compreender a sociedade na sua totalidade. Outro problema é a adoração aos múltiplos fundadores das Ciências Sociais, o que acarreta rigidez e, dificulta o surgimento de outras e novas teorias. Como Renato Ortiz relata em seu texto: “Taquigrafando o Social”: como nos rituais religiosos, celebra-se a memória do que se conhece há tempos.
Todos os problemas expostos, toda a sua importância descrita, é fato que as Ciências Sociais têm seu percentual de grandiosidade em ajudar a desvendar o mundo onde vivemos. Pelo fato de o mundo viver em constante movimento e transformação. Cabe ao cientista social estar atento a tudo isso e procurar descrever o real. Para isso os estudos clássicos são essências, porém cabe uma ressalva; os estudos clássicos devem ser como molas propulsoras as novas teorias, e não ao engessamento do novo conhecimento.
* O título é o mesmo que aquele escrito por Renato Ortiz e o tem por base interpretava.
**Weslei Pauli é graduando em Curso de Ciências Sociais – Universidade do Contestado – Mafra. 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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