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Educação: Revisão gramatical ou ressignificação do nosso conceito?

Educação é objeto de disputa de vários grupos políticos, movimentos sociais, intelectuais porque remete a ideia de construção de um projeto de sujeito que determinada sociedade almeja.

A palavra “Educação”…

deveria ser verbo e não substantivo. Devendo estar sempre no gerúndio. Poderia ser acompanhada por artigo indefinido e partitivo (não quantificável), como existente em outras línguas. Se assim fosse, entenderíamos sua presença constante e progressiva em nossa vida. Compreenderíamos que trata-se de algo imensurável em sua quantidade e valor.

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O verbo…
educar ao ser representado na fala ou na escrita deveria tomar sempre o formato plural e, quando no infinitivo, impessoal. Dessa forma, expressaria sua essência coletiva e interacionista. Educar é definitivamente um ato que só ocorre entre “eu” e o “outro”, ou entre os “outros”: nunca comigo mesmo… sempre plural, já apontava Paulo Freire!
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Levando ao extremo, na gramática, “mim” como sujeito deveria ter uso proibido na mesma frase que contenha a palavra educação. Esse “mim” não funciona como sujeito da ação… e a ação é inerente a educação. Da mesma forma, não poderia ser usada juntamente com conjunção coordenada adversativa “mas”. Deveria ser usada apenas com advérbio de intensidade “mais”. Assim ele nunca nos remeteria a adversidade, mas a seu aspecto intensivo e somatório. Compreenderíamos que a educação apenas acrescenta.
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Sabe-se que a palavra educação é feminino. Talvez para fazer alusão à sua capacidade reprodutora. É a única riqueza que quanto mais usamos, mais adquirimos.
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Educação…
deveria ser conjunção. Assim, entenderíamos que ela cria vínculos e promove união. A educação deveria nos tornar  mais iguais: humanos! Não deveria ser entendida como medalha que colocada no peito nos torna melhores do que os outros.
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Educação e suas variantes deveriam permitir apenas contração e não junção com prefixos. Dessa forma denunciaria sua capacidade de troca recíproca. É ensinando que se aprende… A educação é marcada pela interação social, o que vai além do mero contato físico. Trata-se de um processo de troca de significados que inicia quando nascemos e termina apenas com o fim do contato
com a sociedade, normalmente quando morremos. Por isso, reitero, educação deveria ser gerúndio
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Será que precisaremos alterar a gramática para entendermos as virtudes da educação?
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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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