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O risco da desinformação e deformação da sociedade


desinformação

Por Cristiano das Neves Bodart

 
Não seria melhor ficar off-line e voltar para os livros ou para onde eu possa encontrar fontes mais confiáveis de informação ou onde eu possa acompanhar o fluxo desta?
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Temos presenciado um crescimento gigantesco no número de informações que circulam, sobretudo, via redes sociais. Se por um lado, isso é sinal de maior democratização da informação, por outro, nos deixa em alerta para o risco eminente de uma “desinformação” da sociedade, ou, diria, uma deformação.
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O número de informações e sua velocidade impossibilita uma análise mais profunda e atenta do que lemos nas redes sociais, assim como nos impossibilita de checarmos cada uma das informações. Mentiras, verdades e meias verdades (muitas vezes via fake news) “voam” juntas, mais confundíveis que joio e trigo, que alho e bugalho.
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O risco da desinformação se dá por três motivos combinados: i) por termos um sistema de ensino, sobretudo o público, com qualidade duvidosa; ii) crescente ampliação de canais de infomações, tais como as redes sociais, onde todos são receptores, transmissores e produtores de informações sem pré-requisito e; iii) a falta de interesse e incapacidade de muitos leitores em checar as informações recebidas antes assimilá-las ou de passar a diante.
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O resultado dessa combinação se manifesta em informações que desinformam mais do que informam. Notícias e comentários mal explicados e inverdades são rapidamente compartilhados, desinformando a população; formando indivíduos equivocados quanto a vida política, econômica, social e cultural do país e do mundo. 
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Junto com a democratização da informação e da mídia informatizada, multiplicam-se os jornalistas amadores, assim como “críticos”, “ensaístas”, “sociólogos” e “filósofos” de plantão que tratam de tudo e de todos, disputando um “lugar ao sol”, ou melhor, uma curtida ou compartilhada de seus posts. São verdadeiros caçadores de seguidores; sedentos por visualizações rápidas de tudo que expõem nas redes sociais. Se antes clamávamos por mais informação para a formação do cidadão, agora o risco de formação propiciada por esse tipo e volume de “informação” nos assombra.
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O leitor, que antes era apenas receptor, bombardeado por tantas “notícias” acaba assimilando e reproduzindo um amontoado de informações, muitas vezes desconexas com a realidade. São tantos “especialistas em nada” que escrevem sobre “tudo e todos” que chega a me assustar. Quero ter viva a esperança que tudo isso levará as pessoas a lerem e a escreveram mais e melhor. Mas no momento presente estou um pouco assustado com o que vejo sendo compartilhado e curtido por milhares de internautas-leitores-autores e com o volume de informações não “ruminadas”.
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Não que o leitor não encontre muitas informações úteis e importantes nas redes sociais. Tal espaço é importante e frutífero, mas também perigoso, sobretudo àqueles que não tiveram acesso a uma educação de qualidade. Temos que ler com muita atenção cada informação e examinar os argumentos e as ideias apresentadas; isso se o fluxo nos permitir, sendo ele bem maior que o tempo disponível.
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É cada “coisa” compartilhada nas redes sociais que tem hora que pergunto a mim mesmo: o que estou fazendo aqui nas redes sociais? Não seria melhor ficar off-line, voltando para os livros ou para onde eu possa encontrar fontes mais confiáveis de informação, ou, pelo menos, as quais em possa ler com mais atenção e analisar?.

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Texto originalmente publicado no “Jornal do Leitor” AQUI

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

3 Comments

  1. Adorei o texto.
    Realmente há uma problemática na questão de selecionar nossas leituras. Além do noticiado, é necessário buscar a fonte dessa informação. Dessa forma, é importante posicionar-se criticamente perante a demasiada rede comunicativa que existe no Brasil e no mundo…

  2. Interessante o texto, porém discordo da colocação referente à escola pública. Mais um rótulo para nós, profissionais da educação pública…Também acho importante CHECAR o que se compartilha porém, acho que as redes sociais traduzem o comportamento da fala do cidadão brasileiro: o famoso telefone sem fio. A diferença é que quando se diz não há provas, mas, por escrito a responsabilidade é maior.

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