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A difícil tarefa de criticar

A difícil tarefa de criticar

Por Cristiano das Neves Bodart
“Criticar é fácil, difícil é fazer!” Essa frase é muito utilizada como sendo completamente verdade, quando não o é. Por outro lado não presenciamos frases do tipo “elogiar é fácil, difícil é fazer uma crítica”.
Fazer, dependendo do que seja, pode ser realmente difícil, mas criticar também não é nada fácil. Elogiar já é bem fácil, pois não é necessário conhecimento de causa e nem cria desconforto.
Primeiramente, é necessário deixar claro do que estamos tratando, no caso, o que seria uma “critica”? A palavra crítica é de origem grega e que vem de Kritikos. Esta refere-se a alguém que está “apto a fazer um julgamento”. No Português, o adjetivo “crítico” tem uma origem direta da palavra “crise”. Nos momentos de crise, existe um sentimento de incertezas, onde passamos a julgar toda a realidade aparente. Ser crítico é justamente julgar as aparências, as informações recebidas, a contestar, a buscar saber “dos porquês”? Para que? Onde? Como? Para quem? Enfim, é buscar compreender o mundo que nos cerca, para que possamos atuar plenamente sobre ele. Criticar não é emitir julgamentos vazios. Trata-se de apresentar elementos que colocam as “verdades” à prova. Isso sim é criticar, o resto é “falar mal” ou coisa do tipo.
Dito isto, não me parece fácil estar apto a julgar, pois demanda pelo menos duas coisas: conhecimento e coragem. Conhecimento para ir à raiz das coisas e analisar com profundidade, para então emitir um julgamento racional. Coragem para sair do conforto das certezas. Coragem para fazer frente ao senso comum; o que demanda conflito e desconforto.
Fazer, muitas vezes é mais fácil do que criticar. Fazer o que sempre foi feito, o que não altera a ordem das coisas é mais cômodo do que se pôr à frente do status quo e questioná-lo.
É preciso coragem para dizer que existem outros mundos de possibilidades para além de nossas cômodas vidas cotidianas. É preciso conhecimento para voltar-se para as “incertezas que o mundo nos apresenta fora da caverna”, dando às costas as “sombras das falsas certezas”.

Lembre-se, criticar é se opor, logo, é sair à batalha. O elogio é mais fácil e cômodo, sobretudo em uma sociedade que preza pelo jeito cordial de ser “à lá Holanda”.Elogiar é fácil, difícil é criticar!

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

7 Comments

  1. …..tudo certo, exceto sobre a crítica do "jeito à la Holanda", pq esse cara foi profundo estudioso de nossa cultura, e mais: um verdadeiro visionário. Ao afirmar o legado que a civilização brasileira ofereceria ao mundo, nem de longe se referia a comodismo ou conformismo, mas a uma ginga necessária à dura tarefa de "conviver com as diferenças". Nenhum povo do planeta é mais criativo e adaptável às circunstâncias do que nosso vulgo viralatismo…….

  2. Conhecimento é coragem! Isso está faltando nos dias de hoje,mais conhecimento do que coragem,pois realmente na aparente “zona de conforto” no momento do “falar” a coragem prevalece pois realmente fica “fácil “, mais o conhecimento avezes deixa a desejar.. e me desculpe pois sou leigo no assunto e meus parabéns pelo texto.

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