Valdemir Pires. |
Perdoem-me os que estão comemorando, mas, neste 1/4 de século em que atuo como professor, não vejo mais do que demagogia e falta de conhecimento da situação educacional na proposta de “irrigar” o setor educacional com mais dinheiro público.
Não há recurso financeiro que possa modificar o quase-menosprezo mútuo que foi se acumulando nas relações professores-alunos, tornando-os quase-inimigos hoje em dia.
Não há grana que possa tapar o buraco profundo cavado pela subordinação da escola quase que exclusivamente à busca de emprego (da parte dos alunos) e de avanços tecnológicos altamente lucrativos (da parte dos atores que, indevidamente, assumiram, por meio de “laranjas” ilustrados, o controle de parte significativa das verbas disponíveis).
Não há moeda que possa promover o resgate de instituições e práticas pedagógicas cujas características defasadas em relação à cultura, à economia e à sociedade aceleradamente mutantes são nostalgicamente defendidas pelos indivíduos, acriticamente, sem perceber as contradições estruturais e conjunturais envolvidas.
Dinheiro pode melhorar infraestrutura? Sim. Pode levar à remuneração mais digna dos professores? Sim. Pode viabilizar à melhora da capacitação dos agentes e gestores educacionais? Sim. Mas isto, só, não basta, embora ajude. Qual o papel que a educação formal ainda joga na sociedade atual? Para cumprir este papel, que projetos educacionais (nacionais, estaduais, municipais e em cada unidade educacional) são necessários? Qual deve ser o perfil dos professores? E dos alunos? O que é necessário fazer, e onde, para que alunos e professores adquiram o perfil próximo do ideal para, ao se relacionarem, produzirem as transformações esperadas das trajetórias formativas? Até que ponto a Educação pode auxiliar a sociedade a suprir suas necessidades de capacitação para os fazeres e de difusão de valores para a convivência?
Educação rima com chavão, mas só rima, não combina. É preciso debater seriamente e com compromisso. Mas parece que já não sabemos discutir e esquecemos o que é compromisso.
Desculpem-me pela acidez, inevitável diante de tanto alarde otimista, quando, quotidianamente o que se vê são retrocessos inimagináveis há uma década.