O Príncipe. Cap. 3-8

No capítulo III de sua obra “O Príncipe”, Noccoló Machiavelli (Nicolau Maquiavel), apresenta diversos conselhos aos principados mistos, a fim de traçar aspectos que podem possibilitar a manutenção do poder. No capítulo IV buscou apresentar os motivos para que um reino recém conquistado não sofra rebelião. Já no capítulo V Maquiavel aponta caminhos para o exercício do governo em principados onde estes possuíam leis próprias. No capítulo VI buscou tratar especificamente dos principados recém conquistados de forma nobre e por meio de armas, apresentando como o novo príncipe deve se portar para não perder o poder. No capítulo VII buscou apontar as condições daqueles príncipes que conquistam o principado por meio da virtude de outrem. Maquiavel destina o capítulo VIII para traçar as condições e situações dos príncipes que alcançam o poder através do crime. Buscaremos aqui traçar alguns pontos que mais nos chamou atenção nesses capítulos.

Dentre os conselhos e observações de Maquiavel apresentados no capítulo III está a orientação de que em principados mistos existem muitos inimigos: de um lado aqueles que não concordam a ocupação do principado e do outros, os que colocaram o príncipe no poder, uma vez que não é possível agrada-los sempre.

Para Maquiavel, estados conquistados e anexados a Estados antigos são de difícil governo quando não possuem a mesma língua ou os mesmos costumes, principalmente quando estão acostumados a viver livres. Nesses governos mistos, deve o príncipe observar duas regras: 1) extinguir toda a linha sucessória do antigo príncipe para que não haja quem o reclame; 2) não alterar as leis nem os impostos. Outra sugestão dada é que o príncipe habite a terra conquistada, a fim de levar os súditos a ficarem satisfeitos com o maior acesso ao novo príncipe. O príncipe deve também: organizar colônias (é mais barato); ser visto como defensor dos mais fracos e fomentando-os sem aumentar sua força; enfraquecer os poderosos; buscar conhecer os males com antecedência e; nunca consentir um mal para evitar a guerra, pois só estará a adiando para a sua própria desvantagem.

No capítulo IV Maquiavel apresenta exemplos de príncipes bem sucedidos que agiram conforme aquilo que achava necessário para o exercício do governo, ao mesmo tempo em que cita exemplos opostos de fracassos.

Dentre os principais conselhos (capítulo V) de governança em principados onde estes possuíam leis próprias está duas orientações para casos diferentes: para províncias anteriormente livres não há maior garantia do arruinar destes para não ser posteriormente arruinado; para províncias antes governadas, aconselha a extinção da família do antigo príncipe.

No capítulo VI, destaca-se a importância, pelo menos nos casos de príncipes nobres, em pensar alto para atingir bons resultados. Desta Maquiavel neste capítulo que leis novas podem ser perigoso. Destaca ainda a importância das armas na manutenção do pode.

Dentre as observações apontadas no capítulo VII está a de que aqueles que adquirem o principado por virtude de outrem terão dificuldade para mantê-los. Estes devem destruir os inimigos e criar amigos, dissolver a milícia infiel e criar uma outra submissa a seu comendo.

Dentre as considerações efetuadas no capítulo VIII destaca-se a orientação de que o mal deve ser feito de uma só vez, enquanto que as benevolências devem ser feitas de vagar, a fim de que os súditos possam saborear tais benefícios.

Contextualizado adequadamente, os escritos de Maquiavel apresentam ainda significativas contribuições para a Ciência Política, além de ter sido uma obra que abriu caminho para o estudo da política sem o véu da religião.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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