Aula: fotografia e meio ambiente

Por Cristiano Bodart

Hoje, buscando em meus arquivo pessoais, encontrei um “projeto” que desenvolvi em 2008 com meus alunos de Ensino Fundamental em uma escola do interior do município de Anchieta (cidade cujo nome era até algumas década Benevente). Na ocasião o projeto obteve o primeiro lugar em um concurso promovida pela Secretaria Municipal de Educação de Anchieta (cujo prêmio, para variar, não foi entregue – era um Notebook para o professor e DataShow, notebook e aparelho DVD para a escola, além de uma passeio com os alunos em um parque aquático).

[Pena que as fotografias ficaram com a escola]

A temática envolvia os temas meio ambiente e pertencimento. Segue:

TRATOS E RETRATOS DE MEU BENEVENTE

1 – Justificativa: O presente projeto está diretamente inserido à realidade de nossa região, uma vez que se apresenta como uma contribuição importante no processo de conscientização/mobilização da comunidade inserida na Bacia do Benevente. Desta forma este se apresenta com dois objetivos centrais: 1) devido à insensibilidade que tem caracterizado um grande seguimento da sociedade residente na região localizada na Bacia do Benevente/ES, busca-se, por meio deste, promover uma maior divulgação dos perigos que nos cercam referentes aos impactos sobre a referida bacia, bem como divulgar suas belezas e apontar ações importante para a sua preservação; 2) frente à necessidade de promover uma educação ambiental coerente com a realidade dos educandos e do currículo nacional, objetiva-se integrar os educandos a ações de conservação e conscientização ambiental. Assim, os alunos não serão, na execução do projeto, agentes passivos, mas ativos, estando incluídos como os principais executores do mesmo. Em síntese, o presente trabalho apresenta aspecto conscientizador ambiental e formador de agentes defensores da bacia do Benevente/ES.

2 – Delimitação do objeto e do público alvo O objeto deste projeto é a Bacia do Rio Benevente localizada no estado do Espírito Santo, entre os municípios de Alfredo Chaves, Iconha e Anchieta. O Rio Benevente é o principal rio desta bacia. Este rio nasce no município de Alfredo Chaves, cortando a área urbana deste município, vindo a percorrer todo o município de Anchieta no sentido oeste – leste, desaguando no Oceano Atlântico, nas águas da praia central de Anchieta. Muitos de seus afluentes perpassam por comunidades rurais, incluindo a comunidade de Baixo Pongal/Anchieta, onde está a escola realizadora deste projeto.

O público alvo do projeto não se limita aos educandos da escola de Baixo Pongal, mas aos educandos das principais comunidades inseridas na Bacia do Benevente e ao público da área central dos municípios que compõem a bacia. Esse amplo campo de atuação está diretamente ligado ao fato de se tratar de um projeto itinerante, o qual será executado em diversas escolas e áreas centrais dos municípios supracitados.  3

– Referencial Teórico TRATOS E RETRATOS DE MEU BENEVENTE Uma das principais características da sociedade contemporânea é, por parte daqueles mais informados, a perplexidade mediante as duas grandes crises vivenciadas pela humanidade. Referimos-nos à crise da natureza e à das relações humanas de produção e sociabilidade (ABDALLA, 2004; IANNI, 2004).

Com relação à crise da natureza, ninguém nega a forma depredatória com a qual o homem vem explorando os recursos naturais e agredindo-os através de emissões de poluentes e dejetos industriais e residenciais. Um grande problema que se soma a isto é a falta de sensibilidade das pessoas. Por ser algo corriqueiro – já alertava o sociólogo alemão Georg Simmel nas últimas décadas do século XIX – as pessoas têm perdido a sensibilidade necessária para se opor a tal situação. Informação não tem faltado! É comum a mídia tratar de assuntos ligados à preservação do meio ambiente, e isso já não “dá mais ibope” como antes.  Sennet (2002) denuncia o declínio do homem público, afirmando que as pessoas têm perdido o interesse pelo bem público. Notamos que em nossa região a situação não tem sido diferente.

O sociólogo Sennet (2003) aponta que o mundo moderno tem criado homens indiferentes face aos problemas de ordem pública. Os problemas de ordem coletiva não sensibilizam os moradores. Por ser algo coletivo, acredita-se que alguém o resolverá ou buscará faze-lo, não necessariamente precisando ser ele, desta forma, todos pensando da mesma forma, acaba ocorrendo que ninguém tomando medidas cabíveis. É necessário um despertar para as questões coletivas, assumindo-as para si. Passar a usar, nesse contexto, a tão utilizada palavra “meu”.

O meio ambiente é um bem público e deve ser encarado como “meu”, num sentimento de pertencimento. Por que em uma sociedade onde a noção de meu é tão usada para designar o privado é tão esquecida em se tratando de um bem público? Eis aqui um dos problemas de sociabilidade!

O bem público é algo que por ser imensurável não pode ser apropriado por um indivíduo ou grupo, antes sendo pertencente à coletividade. O meio ambiente também é um bem público, pois todos se utilizam do mesmo, sendo seu valor incalculável (embora, em sentenças judiciais, determinados crimes ambientais tenham seu valor “estimado” – a multa). Da mesma forma que a sociedade, como destacou Sennet (2003), tem deixado a outro a tarefa de se envolver com bens públicos, como política e planejamento urbano, têm também desprezado seu papel em relação às questões ambientais. O presente projeto prima pelo despertar da sensibilidade dos cidadãos, especificamente sobre aqueles inseridos em um grande e imensurável bem público: a Bacia do Benevente. Destarte, levar o sentido de pertencimento, do significado da expressão “meu” em relação aos recursos hídricos de nossa região.

A importância do presente projeto se dá em quatro âmbitos, os quais se inserem no contexto transcrito anteriormente: 1) despertar os educandos, especialmente, mas não exclusivamente, àqueles envolvidos diretamente no projeto, para a importância do sentimento de pertencimento em relação à Bacia do Benevente; 2) buscar despertar a atenção dos habitantes inseridos na bacia do Benevente para a causa ambiental através de mensagens visuais (painéis fotográfico e slides projetados via Datashow) e da internet (blog), uma vez que a presente sociedade é também conhecida como a sociedade da imagem e da informação, isso devido a forte influência destes sobre as mentalidades coletivas e individuais (IANNI, 2004; BOURDIEU, 2002); 3) desenvolver atividades ecológicas, a fim de promover uma educação alinhada aos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998, pp. 169 – 233); 4) transmitir aos educandos e a comunidade inserida na Bacia do Benevente uma educação pautada na racionalidade sustentável, em detrimento a cultura do consumo e do desperdiço.

É sabido que as crises aqui mencionadas – a ecológica e de sociabilidade – não serão transpostas através deste projeto, mas em nível local, quem sabe, pode vir a ser uma contribuição para aqueles que já estão inseridos na causa da Bacia do Benevente, despertando outros civitas a se preocuparem com tal bem público, desta forma a contribuição seria em amenizar, em nível local, tais crises, em síntese buscar promover um meio ambiente em equilíbrio e indivíduos conscientes. Divulgar os “Tratos” através de “retratos” é uma forma de confirmar em diversas mentalidades uma coisa: O Benevente é meu!

4 – Objetivo Geral ·      Despertar a consciência ambiental da comunidade inserida na Bacia do Benevente através de um projeto itinerante.

5 – Objetivos específicos ·      Capacitar os educandos da escola de Baixo Pongal para serem agentes ativos no processo de conscientização dos demais indivíduos inseridos à Bacia do Benevente/ES; ·      Promover aulas práticas e em campo relacionadas ao meio ambiente; ·      Desenvolver habilidades artísticas, poéticas e de comunicação; ·      Ampliar a auto-estima dos educandos da escola de Baixo Pongal; ·      Promover a sociabilidade entre educandos de diferentes escolas; ·       Despertar o interesse pela causa ambiental da comunidade em geral; ·      Apontar os riscos ambientais existentes na Bacia do Benevente; ·      Divulgar as belezas naturais da referida bacia.

6 – Cronograma
Atividades
Agos.
Set.
Out
Nov.
Aulas
referentes ao meio ambiente
_
_
Visita
ao Rio Benevente/Aula de Campo
_
Atividade
de fotografia
_
Elaboração
do Blog e atualização do mesmo
_
Elaboração
dos slides para o Datashow
_
Produção
de poesias e pinturas
_
Produção
dos painéis
_
Produção
das molduras para as fotos e poesias
_
Exposição
do projeto em espaços urbanos e escolas
_
_
7 – Recursos
Material
Proveniência
Quantidade
Valor Unitário (R$)
Valor total
Máquinas
fotográficas

disponível
04
0,00
0,00
Computador
/ internet

disponível
01
0,00
0,00
Revelação
de fotos
Recursos
do projeto
A
definir
Compensados
Recursos
do projeto
A
definir
Dobradiças
Recursos
do projeto
A
definir
Tinta
Recursos
do projeto
1
Massa
para madeira
Recursos
do projeto
1
Barco
para visita ao Rio Benevente
Recursos
do projeto/ alunos
A
definir
5,00 por aluno
A
definir
Condução
itinerante
à
buscar parceria com a SMEC
01
0,00
O,00
Obs: Valores
pesquisados no dia 02 de junho de 2002. Os itens que estão a serem definidas
estarão dependendo do valor do premio auferido ao projeto.
8 – Referências Bibliográficas
ABDALLA, Mauríco. O princípio da Cooperação: em busca de uma nova racionalidade. Paullus, Rio de Janeiro. 2004.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Bertrand, Rio de Janeiro. 2002.
IANNI, Octavio. Capitalismo, Violência e Terrorismo. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. 2004. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Temas transversais. MEC/SEF, Brasília. 2001.
SENNET, R. Carne e Pedra. Record, São Paulo. 2003. __________. O Declínio do Homem Público. In: As Tiranias da Intimidade. Cia das Letras. São Paulo. 2002.
SIMMEL, George. A Metrópole e a Vida mental. In: VELHO, O. O Fenômeno Urbano. Zahar, Rio de Janeiro. 2002. ______________. O Indivíduo e a liberdade. In: VELHO, O. O Fenômeno Urbano. Zahar, Rio de Janeiro. 2002.
9 – Anexo
9.1 – Modelo dos painéis

 

 

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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