Sobre a espiral de uma categoria: “apercepção sociológica”.

Por Camillo César Alvarenga*

Em Uma História da Filosofia Ocidental (HAMLYN; 1990), nos introduz a um caso curioso na história do conceito de apercepção. Reconheço também ter encontrado por ocasião uma presença em Hurssel dessa noção de apercepção, e que considero a mais importante no desenvolvimento dessa categoria, mas não poderei desenvolver no ensaio, entretanto a peleja entre Leibniz e Kant sobre o conceito nos esclarece questões para a construção de uma visão fundamental do conceito de “apercepção sociológica”.

Segundo (HAMLYN; 1990; 213) “Como quer que seja, Kant acha que demonstrou que a única concepção legítima do “eu” é a que está envolvida no “eu penso” da unidade de apercepção”. O ponto de vista em Leibniz, que é um dos compõem o cenário do idealismo filosófico alemão, nos sugere o seguinte, que

“Como quer que isso possa ser, o termo “percepção” é de uso natural para referir-se a uma entidade espiritual que reflete o mundo de seu ponto de vista. Poderão as mônadas que constituem os corpos, contudo, ter percepções em qualquer sentido literal? Leibniz insistiu em que tinham, fazendo uma distinção entre percepção e apercepção, esta última envolvendo o tipo de conhecimento consciente que acontece na percepção humana ordinária. Isto implica a possibilidade de percepção inconsciente. Leibniz aduziu vários argumentos em favor dessa possibilidade, nem todos eles muito bons. O mais importante entre eles gira em torno da ideia de “petites perceptions”. Chamou a atenção para o fato de que, quando ouvimos o som do mar, escutamos uma combinação de grande número de ruídos produzidos por ondas diferentes. Não escutamos conscientemente esses ruídos distintos. A percepção consciente única, disse, é constituída de grande número de “petites perceptions” que não são conscientes. Percepções claras implicam apercepções; percepções confusas envolvem, pelo menos em parte, outras que são petites, ou inconscientes. (HAMLYN; 1990; 149)

Essa distinção, entre “percepção” e “apercepção” nos propõem um espaço no self de não dominação pela estrutura, o que nas ciências sociais podem ser referidas a estruturas sociais, assim tem-se um instante passível de cognosicvidade, como aparece em Giddens no sentido em relação a questão da agência, espaços epistemológicos ou metodológicos como esse permitem um redefinição nos estudos sobre as práticas e interações sociais. Do lado de Kant, este por sua vez

“(…) expõe uma teoria de juízo e suas pressuposições, bem como outra sobre o ser ou sujeito que faz tais julgamentos. A fim de ser expressável em juízos objetivos, a experiência tem que ser organizada de tal forma que seja de um objeto e pertença a um objeto. Estes são os dois lados, objetivo e subjetivo, do que Kant chama de “unidade transcendental da apercepção”. Mas da mesma maneira que não há acesso às noumena que se escondem por trás de phenomena, não há tampouco acesso ao ser noumenal, o ser real, para o qual os phenomena são aparências.( (HAMLYN; 1990; 202)

Os recursos desenvolvidos para a compreensão desse fenômeno, parte desde a psicologia, a filosofia e as ciências sociais, os pontos de conversão de um pensamento sobre determinado pelas formas sociais abre espaço para a presença de uma subjetividade definida entre a identidade do sujeito e a forma do objeto em sua manifesta essencial, ou melhor, em sua substância como incide o ponto que norteia essa corrente de pensamento numa espécie de metafísica transcendental.

Mas quando usada em paralelo a outras formas de conhecimento permite a hermenêutica avaliar a condição do indivíduo frente à realidade e de que forma se processam as configurações sociais, do ponto de vista cognoscente do sujeito e as implicações de caráter cognoscível do objeto.

Quando percebemos um grupo de experiências como um único múltiplo, e assim admitimos a possibilidade de que sejam experiências de um único objeto, temos que ser capazes de guardar na mente experiências que correram antes na sequência, quando estamos interessados em itens posteriores. Kant acha que isto é função da imaginação, embora as duas primeiras sínteses sejam de fato inseparáveis. Em terceiro, há a síntese do reconhecimento em um conceito. Ao múltiplo deve ser dada uma autêntica unidade como experiência de uma única coisa. O conceito proporciona esse tipo de unidade. O processo como um todo, a síntese tripla, constitui a apercepção transcendental – aquela forma de consciência que é condição necessária da experiência objetiva. A síntese, contudo, deve ser feita de acordo com uma regra, que prescreve como deve ser efetuada com sucesso, com o resultado de que há um único objeto para uma única consciência. Essas regras têm seus fundamentos em conceitos formais, gerais, do princípio da unidade no juízo.(207)

É claro que nesse ponto acima descrito, Kant ao prescrever a imaginação como responsável pela capacidade de processar a experiência anterior dá a ela uma faculdade de engendrar a memória a partir da percepção que compõem uma narrativa, essa capacidade do homem produzir seu próprio enredo revela uma autodeterminação cognoscente sobre a experiência social da realidade. Pensarmos a dimensão da consciência responsável pela caracterização do estado no qual o “eu pensante” se encontra com a realidade exterior, objetiva.

A tese da unidade objetiva da consciência afirma correlativamente que ela não pode ser uma questão contingente a que grupo, qua objeto, pensa-se que as impressões pertencem. A unidade transcendental da apercepção, diz Kant, “é aquela unidade através da qual todo o múltiplo dado em uma intuição é unido em um conceito de um objeto”. A implicação de Kant é que são correlativos esses dois aspectos da unidade da apercepção. A consciência de alguma coisa como um objeto implica autoconsciência e vice-versa. Este é um resultado importante em si e suficiente para fornecer uma contestação ao pensamento humano, segundo o qual o conceito de um ser e o conceito de um objeto são produtos da imaginação – conceitos cuja aplicação não pode ter justificação. Podemos entender que Kant responde que o trabalho da imaginação envolve juízo e as próprias condições da possibilidade disso pressupõem os pontos em discussão. (207)

O sistema dialético sujeito e objeto pensa a relação com um fluxo de determinação multicausal, logo a centralidade da difusão desta “unidade transcendental da apercepção” intui um conceito que pode objetivar-se na realidade, tornando assim o eixo de origem do pensamento um ponto de partida no qual a reciprocidade da percepção ao produzir uma relação de reconhecimento entre sujeito e objeto, ou num plano sócio-antropológico, indivíduo e sociedade, num lócus determinado pelo corpo e pela sua dimensão subjetiva, ou espiritual, envolvidas em processos de subjetivação.

Os paralogismos referem-se à tentativa de identificar, como uma substância, o sujeito que tem a unidade de apercepção e, além do mais, como uma substância que é simples, que mantém uma identidade através do tempo, e que, de algum modo, relaciona-se aos objetos do espaço, particularmente com o próprio corpo do sujeito. Há realmente quatro paralogismos que dizem respeito ao ser como substância, como simples, como tendo uma unidade ou identidade no tempo, e como tendo relações com corpos no espaço. Diz Kant que toda a psicologia racional é sumariada em um silogismo: “Que aquilo que não pode ser pensado de outra maneira que como sujeito não existe, a não ser como sujeito, e é, por conseguinte, substância. Um ser pensante, considerado meramente como tal, não pode ser pensado outra coisa que um sujeito. Por conseguinte, ele existe também apenas como sujeito, isto é, como substância”. (HAMLYN; 1990; 212-213)

Essa espiral sujeito e objeto, se complexifica quando a unidade de apercepção condiciona o processo de identidade com o tempo, o espaço e o corpo do sujeito, ainda o corpo, esta forma-mercadoria na qual se manifesta a fantasmagoria da sociedade enquanto suas práticas são as formas objetivas de expressão da subjetividade revestida num formato simbólico e cultural, se em um pós neo-kantismo, tem-se condições “a priori”de estados de alma, num plano de consciência social historicamente determinada, e avançando avistamos a ideologia produzida pelo binômio Mercado /Estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

HAMLYN, David Walter. Uma História da Filosofia Ocidental.Tradução de Ruy Jungmann. Jorge Zahar Editor. 1990.

*Graduando em Ciências Sociais/UFRB, e Pesquisador na Fundação Hansen Bahia.  Blog: https://scombros.blogspot.com.br/ Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/3835461164143283

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

24 Comments

  1. Percepção se refere a filosofia que se referir-se a uma entidade espiritual que reflete o mundo de seu ponto de vista, de modo que pensa.,Kant acha que demonstrou que a única concepção legítima do “eu” é a que está envolvida no “eu penso” da unidade de apercepção”. Que se refere a sociologia, a vida social.?

  2. A percepção em que se refere ao que deixamos de ver ou de ler o que refletir sobre o mundo o as coisas que acontecem o tem nele uma percepção das relações em que se tornam complexos sobre o processo de identificação.

  3. Percepção se refere a sociologia e tambem a filosofia que se referir-se a uma entidade espiritual que reflete o mundo de seu ponto de vista, de modo que pensa.Kant acha que demonstrou que a única concepção legítima do eu é a que está envolvida no eu penso da unidade de apercepção”. Que se refere a sociologia,referese entrando sociadade do nosso mundo.

  4. Muito legal o texto que pra se ter uma sociologia boa tem que se passa por uma filosofia e é isso que o texto escrito acima esta fazendo alem de passa por um ponto de vista muito pouco olhado pela sociedade.

  5. legal o texto que pra se ter uma sociologia boa tem que se passa por uma filosofia e é isso que o texto escrito acima esta fazendo além de passa por um ponto de vista muito pouco olhado pela sociedade.
    Percepção se refere a sociologia e tambem a filosofia que se referir-se a uma entidade espiritual que reflete o mundo de seu ponto de vista, de modo que pensa.Kant acha que demonstrou que a única concepção legítima do eu é a que está envolvida no eu penso da unidade de apercepção”. Que se refere a sociologia,referese entrando sociadade do nosso mundo.

  6. Para ter uma sociologia é necessário muitas coisas uma das mais importantes é ter reflexao e percepçao sobre a filosofia. Isso faz voce ter um ponto de vista sobre o mundo.
    O texto fala sobre percepçaode um ponto de vista de uma entidade espiritual sobre o mundo.

  7. Muito bom o texto, bem escrito.. e mostra mais uma vez o quanto a sociologia é importante, uma coisa legal também é que a sociologia também tem um pouco de filosofia no meio.. bastante interessante o texto !

  8. muito bom adorei,no texto mostra que a sociologia esta se tornando cada vez mais importante,e dentro da sociologia existe tambem filosofia,que eu acabo não entendo mas e vida que segue e vivendo e aprendendo que se ganha uma vida.

  9. Texto ótimo, bem elaborado, e diz tudo. Assim podemos ver a grande importância da Sociologia no mundo atual, cujo é às vezes aquela matéria que estuda os seres humanos de hoje, as suas ações na sociedade como um todo! : (Que raramente são ações boas! Assim temos também aqueles cidadãos cujo pensam nos outros , ajudam os mais necessitados e por ai vai, Mais no que diz respeito a sociologia é isso, as ações desses indivíduos na sociedade!

  10. Dentro de sociologia sempre existe um pouco de filosofia, as duas estão sempre em conjunto. Temos sempre que estar preocupados com as nossas ações dentro da sociedade, será que tudo o que estamos fazendo está sendo o suficiente para tornar uma sociedade melhor?

  11. este texto esta se referindo a tudo.Para nos alcançarmos a sociologia temos que ter um pouca de entendimento da filosofia e é por isso que as vezes fico sem entender o sociologia

  12. este texto esta se referindo a tudo.Para nos alcançarmos a sociologia temos que ter um pouca de entendimento da filosofia e é por isso que as vezes fico sem entender o sociologia

  13. Percepção se refere a sociologia e tambem a filosofia que se referir-se a uma entidade espiritual que reflete o mundo de seu ponto de vista, de modo que pensa.Kant acha que demonstrou que a única concepção legítima do eu é a que está envolvida no eu penso da unidade de apercepção”. Que se refere a sociologia,referese entrando sociadade do nosso mundo.

  14. Texto muito bom que explica o envolvimento da filosofia na sociologia com o conceito de aceptação. Com conceitos fundamentais para a sociologia. Deixando bem claro q o texto foi uma historia contada, com a vida de Hurssel, q é uma historia da filosofia ocidental.

  15. Para poder enterder tudo o que esta ao nosso redor é preciso ter PERCEPÇAO. Isso quer dizer, entender; compreender; o que esta acontecendo. Por isso é tao importante ter essa percepçao na hora em que voce quer enterder a sociologia e saber do que ela se trata.

  16. Para conseguirmos entender o mundo ao nosso redor é necessário estudarmos, analisarmos o que se trata e termos uma resposta, e a filosofia vem para nos perguntar e a sociologia para nos responder, por isso devemos nos aprofundar tanto diante das mesmas.

  17. Para conseguirmos entender o mundo ao nosso redor é necessário estudarmos, analisarmos o que se trata e termos uma resposta, e a filosofia vem para nos perguntar e a sociologia para nos responder, por isso devemos nos aprofundar tanto diante das mesmas.

  18. O texto nos mostra a distinção da percepção e apercepção assim que a experiência tem que ser organizada de forma que seja de um objeto e pertença a ele ao mesmo tempo. Assim sendo estudado o sujeito individualmente para entender ele em conjunto da sociedade.

  19. O texto nos mostra a distinção da percepção e apercepção assim que a experiência tem que ser organizada de forma que seja de um objeto e pertença a ele ao mesmo tempo. Assim sendo estudado o sujeito individualmente para entender ele em conjunto da sociedade.

  20. Esse texto na minha opinião expressa tudo , pois ele mostra a grande importância que a sociologia tem no mundo atual , e com isso contamos com a ajuda da sociologia e da filosofia , a filosofia nos ajuda com as perguntas e sociologia vem respondendo essa perguntas.

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