Jornais e palanques eleitorais. você consegue diferenciar?

Por Cristiano Bodart

Sabemos que todos os indivíduos e grupos têm suas opções e opiniões diante da realidade social. Igualmente temos ciência de que ninguém fala ou escreve de forma neutra, sem por à mesa suas considerações pessoais. O fato é que, a “imparcialidade” é um mito; porém a clareza da parcialidade deve ser posta à mesa, isso chama-se honestidade. Essa honestidade parece estar escassa entre os meios de comunicação. Conta-se nos dedos de uma das mãos os veículos jornalísticos importantes que abrem espaço para as multiplicidades de opiniões. Quero dizer com isso que, você, leitor, deve estar atento a “manipulações” ideológicas e partidaristas tão presentes nos jornais que circulam nossa região. Parecem, se não os são, verdadeiros palanques eleitorais.

Essa semana, por exemplo, me deparei com um exemplo claro que mencionarei aqui por ocorrer em todos os cantos do país. O Caso embora particular, retrata a realidade da região de muitos leitores. O jornal “O Capixaba” [jornal impresso de circulação em duas cidades capixabas, Anchieta e Piúma] trazia em capa a manchete “100 dias de gestão”, afirmando que a equipe do jornal teria realizado um balanço da gestão de Marcus Assad, prefeito em Anchieta, e da gestão de Samuel Zuqui, prefeito de Piúma. No primeiro momento, achei bem válido e propício o tema. Mas isso só nos primeiros segundos que duraram a leitura da manchete. Ao continuar observando e lendo o jornal, notei posição partidarista política do editor.

Ainda na capa, duas imagens. Uma representando Anchieta,ES e outra Piúma,ES. Na imagem representativa de Anchieta estava um urubu comendo lixo na rua. Na imagem que representava Piúma, a avenida beira mar cheia de gente próxima ao trio elétrico. O editor poderia facilmente ter invertido as legendas, haja visto que as praias de Anchieta igualmente estiveram repletas de turistas e as ruas de Piúma igualmente urubus mexendo no lixo. Desta forma, notei, logo na capa “de onde estava falando o editor”: da oposição à Marcus Assad e em defesa de Samuel Zuqui, prefeitos de Anchieta e de Piúma, respectivamente.

Ao continuar lendo o referido jornal, logo no editorial, há uma reclamação de que o assessor de comunicação de Marcus Assad teria excluído seus jornais de uma reunião ou coletiva. O editorial clama por bom tratamento, mas não disfarça, em seu jornal “O Capixaba”, a oposição ferrenha ao prefeito de Anchieta, Marcus Assad.

Fui à leitura do texto que supostamente estaria apresentando um balanço dos 100 dias de administração de Assad e de Zuqui. Na suposta avaliação da gestão de Marcus Assad, o jornal trouxe o título: “Marcha à ré em Anchieta: cem dias, sem nada (de bom)”. Sob esse título o que se lê é uma listagem dos supostos aspectos negativos e uma defesa do que chamou de “imaculada gestão passada”. O trecho onde afirma que “se as ações para se  manter no mínimo o ritmo de competência e avanços já conquistados, se novos projetos em favor da população forem criados estaremos aqui, nesse mesmo espaço, tecendo elogios […] (sic)” (O Capixaba, Abril, 2013, p. 3), deixa claro que a matéria tem por objetivo tecer críticas e não fazer uma avaliação da gestão, o que é uma pena não ocorrer.

Virando a página, fui à leitura da suposta avaliação da gestão de Samuel Zuqui. O título da matéria era “Prefeito Samuel Zuqui faz balanço de 100 dias de mandato e anuncia aumento do ticket aos servidores”. Logo me veio a seguinte pergunta: a avaliação da gestão de Assad foi uma forte crítica, evidenciando apenas supostos pontos negativos identificados pelo jornal que ficou “zangado” por ter sido excluído de uma reunião e a avaliação da gestão de Samuel Zuqui foi feita por ele mesmo? Fico imaginando como se tem dois pesos e duas medidas quando interesses ocultos (pelo menos pra mim) estão envolvidos.

Se o mesmo peso e a mesma medida fossem usados, a matéria seria bem diferente; a começar pelo preço do ticket que continua bem abaixo do valor pago pela prefeitura de Anchieta. Quanto à suposta valorização do servidor, o jornal poderia, por exemplo, ter mencionado que o referido prefeito processou a categoria dos professores por buscar diálogo e que andou não recebendo em seu gabinete os responsáveis legais pela categoria. Poderia ter feito menção de que a cidade anda às escuras por não ter empresa contratada para manutenção da iluminação pública, assim como tem deixado as ruas repletas de entulhos por não ter local onde depositá-los. Poderia citar que desrespeitosamente não cumpriu com sua palavra no que diz respeito a colocar nas secretarias equipes técnicas invés de cabos eleitorais e resultados de acordos políticos. Poderia ter feito menção ao fato dele não cumprir com o documento assinado em público em outubro de 2012, no qual se comprometia, se eleito fosse, colocar em prática o programa de combate a corrupção elaborado pela sociedade civil e assinada, em forma de abaixo-assinado, por centenas de pessoas. Várias coisas poderiam ser citadas, caso o peso e a medida fossem a mesma para ambos os prefeitos.

Não é objetivo nesse texto avaliar ambas as gestões, apenas demonstrar, como a política partidária continua nos jornais que circulam em nossa região. Para perceber como alguns jornais se transformaram em palanques, basta ver que alguns outrora denunciavam os problemas da sociedade; mas hoje, abraçado financeiramente pelo poder público municipal, apenas tecem elogios descarados. Ao invés de informar, querem formar opiniões favoráveis aos seus interesses partidaristas.

Leitor, esteja atento para identificar o que é jornal e o que é palanque eleitoreiro.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

2 Comments

  1. Cada pessoa tem uma Forma diferente de interpretar um problema , e quando se depara com um problema e bem difícil lidar com situações diferenciados do nosso dia dia ,
    Essa semana, por exemplo, me deparei com um exemplo claro que mencionarei aqui por ocorrer em todos os cantos do país. O Caso embora particular, retrata a realidade da
    região de muitos leitores

  2. Cada individuo tem seu jeito de opinar e expressar diante de uma sociedade então se isso ocorre sua forma de resolver o problema tambem e parecida com seus pensamentos.
    Esse pensamento que ele(individuo) tem ,vem as vezes como consequência que sao tentar fazer alguma coisa por esse problema, as vezes temos que ter cuidado pois esta tentativa pode acabar em algum resultado bem ou mal.

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