/

Fetichismo da Mercadoria: documentário para entender este conceito

Por Cristiano das Neves Bodart
O conceito de “fetichismo da mercadoria” foi cunhado por Karl Marx (1818- 1883) na obra-prima intitulada O Capital (1867), estando diretamente ligado a outro conceito, o de “alienação”. Palavra alienação vem do Latim “alienus”, que significa “de fora”, “pertencente a outro”. Karl Max em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844, utilizou a palavra “alienação” para designar o estranhamento do trabalhador com o produto do seu trabalho, ou seja, o trabalhador não mais dominando todas as etapas de fabricação e não possuindo os meios de produção para tal, acaba não se reconhecendo no produto produzido, passando a não ser visto como ligado ao seu trabalho. É como se o produto tivesse surgido independente do homem/produtor, como uma espécie de feitiço, daí o termo utilizado por Max: Fetichismo da mercadoria.
Para Marx (1867, p.25), “O carácter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente em que ela apresenta aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como se fossem características objectivas dos próprios produtos do trabalho, como se fossem propriedades sociais inerentes a essas coisas”.
Assim, o “Fetichismo da Mercadoria” caracteriza-se pelo fato das mercadorias, dentro do sistema capitalista, ocultar as relações sociais de exploração do trabalho.

Um programa norueguês, chamado “SweatShop: Dead Cheap Fashion” é uma ótima forma de despertar as pessoas para esse conceito marxista. O referido programa, a partir de um reality show, denuncia as péssimas condições de trabalho às quais são submetidos alguns dos trabalhadores que criam as peças de roupas que usamos. No programa três blogueiros de moda foram convidados a passar um mês trabalhando em uma fábrica têxtil no Camboja, para conhecer e compartilhar a realidade dos trabalhadores locais, vivendo uma vida nas mesmas condições. Tal programa desperta os telespectadores para (além das relações de exploração latente no sistema capitalista) o “Fetichismo da Mercadoria”, a qual nos leva a consumir diversos produtos sem, contudo, levar em consideração as relações sociais existentes na sua produção.

O programa pode ser assistido em inglês (aqui) e espanhol (aqui).
Veja abaixo o trailer do reality show:

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

7 Comments

  1. Falando em fetichismo, então podemos supor que
    alguém que ajuda a produzir um barco, deveria ter
    capital para comprá-lo. O trabalho é uma forma de tirar homens
    da situação de pobreza extrema, o maior problema do nosso país
    hoje são os altos tributos o quais não possibilitam que tenhamos
    uma melhor condição, e as vezes nem atender necessidades básicas.

    • A maior prova de "fetiche da mercadoria" está nos ideólogos marxistas-socialistas no poder. Nenhum deles dispensa um relógio rolex, charuto cubano, ilhas paradisíacas, ouro, conta na Suiça, barcos, automóveis de lucho (proibitivo para a massa de manobra usada para ascenderem ao poder) e etc. etc. etc.

    • Se a classe trabalhadora tudo produz, a ela tudo pertence e isto inclui o rolex, os barcos, os Iphones e demais aparatos tecnológicos produzidos pelas suas mãos. Ocorre que na sociedade capitalista as mãos dos trabalhadores produzem com a “matéria prima do patrão”(embora esta matéria-prima já contenha a mais-valia extraída anteriormente de outros trabalhadores, ou seja, se formos a fundo, nem mesmo esta matéria prima pertence ao patrão) impedindo que este trabalhador possa de apropriar do próprio trabalho. Numa outra sociabilidade, que não a capitalista, certamente não precisaríamos ter um barco para cada pessoa, isto faz parte do fetiche da mercadoria que com o auxílio das revistas burguesas colocam a elite em passeios na Ilha de Caras e fazem com que este seja o padrão de consumo e felicidade a ser atingido. Seria perfeitamente possível que todos acessassem um passeio de barco se houvesse nas cidades (que tem rios e mares navegáveis, é claro) uma política de transporte público. Ou seja, o trabalhador não precisaria ser o dono do barco para poder passear, ele usufruiria do trabalho coletivo da classe mesmo que ele seja um professor, por exemplo. Ele poderia usufruir do trabalho do marceneiro que construiu o barco oferecendo seus serviços de professor como troca para a sociedade. E assim segue o raciocínio para os demais aparatos, sejam relógios, ou telefones, etc. Se eles são necessidades humanas precisam estar acessíveis a todos mas na sociedade capitalista, através do fetiche, as mercadorias perdem seu valor de uso. Sabemos que usar um rolex não é exatamente para cumprir uma necessidade de ver o horário num relógio, não é a toa que Luciano Hulk anda de Rolex. A necessidade é muito mais de demarcação de uma posição social do que propriamente uma necessidade de se localizar no tempo. Agora se o Rolex fosse realmente indispensável para a vida humana era uma questão de produzir-lo em larga escala e torná-lo acessível a todos.
      Penso que uma questão importante a se falar sobre uma sociedade alternativa é de que ela não tem planos de generalizar a pobreza, pelo contrário, a ideia é socializar a riqueza acumulada e produzida por nós. Quem promove a pobreza generalizada é o capitalismo ao concentrar a renda ( no Brasil são apenas 10 mil famílias, por exemplo). E nós certamente fazemos parte da porção mais pobre da sociedade mesmo que não vivamos um alto grau de precariedade. A pergunta essencial é: Você viveria sem trabalhar? Você é rentista que vive de juros e especulações? Se a resposta é NÃO então você faz parte da MAIORIA, ou seja, você é classe trabalhadora e não burguês mesmo que tenha uma pequena/ média empresa. Agora se você é dono do Itaú ai esta lógica te interessa. Mas meu palpite é que você, assim como eu, vive do próprio suor.

      • “Se a classe trabalhadora tudo produz, a ela tudo pertence e isto inclui o rolex, os barcos, os Iphones e demais aparatos tecnológicos produzidos pelas suas mãos.” Essa premissa não faz sentido, que direito um operário tem de possuir o produto que ele participou da produção ? Se ele vendeu sua mão de obra, os frutos dessa venda (salário) será seu direito.

        “Ocorre que na sociedade capitalista as mãos dos trabalhadores produzem com a “matéria prima do patrão” impedindo que este trabalhador possa de apropriar do próprio trabalho.” A unica participação do trabalhador é na mão de obra, continua não fazendo sentido esse direito dele se apropriar do produto final.

        “Numa outra sociabilidade, que não a capitalista, certamente não precisaríamos ter um barco para cada pessoa” Quem iria determinar quantos barcos uma pessoa precisa ? O estado ? Se sim, com que autoridade pode afirmar isso ? Essa ideia do estado determinar o que você precisa ou não foi vista nos países socialistas, e claramente não da certo. Além de permitir estados fascistas dizendo quem você deve obedecer, o que você deve dizer, e por ai vai.

        To com preguiça de escrever mais, tchau. (by the way ótimos argumentos :), só não concordo mesmo).

  2. Eu ia dizer "proibitivo ao populacho" e "automóveis de luxo" ao invés de "lucho". Desculpem, mas não sei como corrigir na publicação, então fica aqui a correção.

Deixe uma resposta