Por que há tanta adesão ao discurso reacionário?

O discurso reacionário e  o aumento da onda conservadora

discurso reacionário
Por que há tanta adesão ao discurso reacionário?

Por Roniel Sampaio Silva

As ideias reacionárias têm penetração e aceitação entre o público em geral por serem simplistas, reducionistas e mexerem com a aparência de forma demagógica, ocultando a essência do problema social. É fácil de serem entendidas e têm jargões de fácil reprodução. Elas costumam mexer com sentimentos de forma exagerada (vingança, euforia, rivalidade) e são reforçadas por um moralismo particularista. Ainda que seja uma das principais estratégias de propaganda da extrema direita,
algumas vezes é utilizado também pela extrema esquerda.
Tal discurso reacionário não é apenas uma postura política, é uma identidade por conta da falta de flexibilidade e maturidade para analisar e processar argumentos com base em novas fontes e dados para avaliar os posicionamentos. Há pessoas que se identificam com as alcunhas: “reaça”, “ultra-conservador” e “coxinha”. Sentem orgulho de tal adjetivo a ponto de serem contra tudo que o seu grupo arquirrival defende; a esquerda.
Sua voracidade em discutir temas complexos com frases simplórias, falácias e raciocínios truncados tem como pano de fundo o senso comum, reforçado pela grande mídia. Estes indivíduos criaram uma metodologia de análise baseada na centralidade do umbigo e da experiência particular, assistemática e pseudo-universal com ataques à pessoa, apelo sentimental e demasiado moralismo.
Como exemplo disso, é comum ouvir frases como: “Eu tenho vivências, você não conhece a realidade”; “Quando for você que for violentado vai saber”; “Pra resolver, tem que moralizar”; “pra ser a favor do casamento gay, tem que ser homossexual”; “é preciso transformar-se árvore pra ser ativista do Greenpeace”. O Egoísmo é o principal referencial. Para eles, é necessário que você pertença ao grupo, senão o crivo egoísta não te habilita a defender ou questionar uma ideia. Como se não bastasse, também é comum ouvir um apelo a uma exclusiva responsabilidade pessoal. Obviamente, todos nós temos participação na resolução dos problemas sociais, mas não dá para resolvê-los sozinho.
Problematizar uma ideia para eles é válida apenas se você ignora a dimensão social do fato e toma para si uma responsabilidade individualizante. Quer uma melhor divisão social da riqueza? Doa teus bens. Quer melhores políticas públicas para segurança? Adota um bandido. Mesmo que façamos tudo isso, o problema social vai permanecer.
A grande “isca” da extrema direita é um moralismo barato que ignora a concretude e faz um apelo a um “passado mitológico” com retrocessos, floreado de harmonia social. Querem resolver um problema a qualquer custo, ainda que se crie novos e mais graves problemas.   Uma oração curta resume toda a problemática e leva a uma solução mágica e com uma frase de efeito que leva a um equívoco.
negacionismo
A população menos letrada – sobretudo as que se referenciam apenas na grande mídia –  são as primeiras a cair nesta cilada discursiva. Em seguida vêm aqueles que frequentam ou frequentaram a escola ou universidade, mas têm dificuldade de identificar causa e efeito, identificar falácias ou contextualizar um problema de modo que seja possível identificar minimamente quem se beneficia e quem se prejudica com o discurso que elas próprias reproduzem.
Cada medida da direita moralista beneficia a minoria em detrimento da maioria. O que é vendido como solução, muitas vezes ao contrário de resolver o problema, gera outros problemas os quais vão servir de argumentos para novas soluções mágicas futuras que, por sua vez, ignoram as causas primárias. Vende-se o veneno como remédio e trata-se apenas o sintoma da doença.
 Assim quando todos os supostos argumentos são derrubados, a solução defendida se revela como uma sentimento de ver o mundo não de maneira que seria melhor para todos, mas apenas na maneira que agrade o seu “extremo moralismo estritamente particular” de uma visão de mundo baseada no seu umbigo.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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