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Dica de projeto para as aulas de Sociologia: “Memórias de um jovem cientista social”

Projeto sociologia

 

Projeto: Memórias de um jovem cientista social

Trazemos aos leitores do Blog Café com Sociologia uma experiência bastante enriquecedora idealizada e coordenada pela Licencianda em Ciências Sociais Karla M. Barros (UFES) aplicada em uma escola no município da Serra (ES) sob a supervisão da professora de Ensino Médio Fabíola Cerqueira.

>>> O projeto consistiu, em síntese, de uma atividade que buscou criar condições para que os alunos desenvolvessem uma interpretação de suas biografias a partir de um olhar sociológico. Tal atividade pode ajudar os alunos a compreenderem suas realidades e de que forma suas biografias particulates estão entrelaçadas a muitas outras biografias, bem como ao contexto a qual estão inseridos.

 

Aos alunos foi entregue as seguintes orientações:

 

Toda nossa trajetória de vida é perpassada por acontecimentos sociais (fatos sociais) dos quais alguns podem afetar direta ou indiretamente nossa história de vida, e da qual são influenciadas por uma diversidade cultural que nos atravessa dentro do espaço-tempo em que vivemos e daqueles que nos rodeiam, ou seja, nossa família.

Importante aqui destacar que consideramos família o grupo com o qual convivemos e com quem temos laços afetivos e, não necessariamente, mãe, pai e filhos, já que vivemos numa época em que esse modelo tradicional de família vem sendo questionado. Seja porque os homens abandonam suas mulheres e filhos; Seja porque casais de homossexuais resolveram adotar crianças que não puderam ser cuidadas por suas famílias biológicas; Seja porque avós, tios ou outros sujeitos assumem para si a tarefa de educar.

Todos nós temos uma história. Talvez nunca a vejamos publicada num livro ou tornando-se um filme, mas, certamente, temos muito o que falar sobre os acontecimentos que nos cercam. E, contexto politico, econômico, social e cultural em que vivemos também influencia na forma como nossa história de vida vai se desenvolver.

Com base nisso, propomos a escrita de suas histórias e memórias. É importante lembrar que em muitas situações será necessário que você recorra a outras pessoas de sua convivência ou a documentos (como certidão de nascimento e casamento, por exemplo) para fazer seu registro e assim construir sua linha do tempo.

Ao final perceberá que sua história e memórias estão conectadas com o mundo. Que estamos todos conectados pelos acontecimentos sociais de nossa época, mesmo que sequer saibamos.

 

1ª PARTE DO TRABALHO – Customização dos cadernos

Cada estudante levará para a sala de aula de caderno brochura pequeno de 48 folhas, o qual deverá customizar a capa, deixando-a com a sua personalidade/identidade, tendo que obrigatoriamente conter os seguintes dados: “Memórias de um jovem cientista social” e seu nome e turma. A criatividade ficará por sua conta.

 

2ª PARTE DO TRABALHO – A escrita de sua história. Comece pensando na seguinte pergunta: ”Quando começa a sua história?”. Escreva sobre isso e, se necessário, pergunte a pessoas próximas como se deu o seu nascimento. Descreva tudo minuciosamente, ilustre com fotos, se tiver (ou desenhe). No final esse caderno será devolvido a você. Ah, apenas a professora Fabíola e a estagiária Karla terão acesso à sua história, a menos que queira socializar com a turma ou com alguma outra pessoa. Depois de descrever como começou sua história, responda as perguntas a seguir, lembrando que em alguns momentos terá que consultar as pessoas que convivem ou conviveram com você e em outros terá que pesquisar em livros ou sites de História.

  • Em que ano você nasceu?

Pesquise e identifique pelo menos um fato histórico importante que ocorreu no ano de seu nascimento. Por exemplo: A professora Fabíola nasceu em 1974. Em 1974 o Brasil ainda vivia a Ditadura Militar e, no cenário nacional, a Guerra do Vietnã fazia várias vítimas, ou seja, a Fabíola não nasceu num contexto histórico de democracia, mas de Ditadura Militar. Não havia eleição direta e nem liberdade de expressão. Durante a infância, quando entrou na escola, tinha que cantar o hino nacional e aprender sobre os “heróis nacionais”.

  • Pensando na sua infância, quais são suas recordações (onde você nasceu, por quem foi criado/educado, como era tratado pelas pessoas com quem convivia, quais lugares gostava de frequentar, ia em muitas festas, quais as suas brincadeiras preferidas, costumava ir à igreja, quem eram seus amigos, sua família tinha/tem muitas tradições, comemoravam/comemoram datas como natal, ano novo, aniversário, primeira menstruação, festa de 15 anos, casamento, etc.)? Descreva os fatos positivos e negativos da sua infância. Descreva com detalhes e, se possível, cole fotografias.
  • Mesmo sendo um jovem adolescente você já vivenciou muitas situações, qual delas mais te marcou (positiva ou negativamente)? Descreva com detalhes.
  • Vimos nas aulas que o povo brasileiro formou-se através da mistura entre brancos, negros e nativos (indígenas). Você consegue identificar em sua família alguma “herança cultural” (comidas, tradições, costumes, danças, gestos, vestimenta, superstições, etc) destes povos (negros, nativos, italianos, alemães, pomeranos, portugueses, etc.)? A “herança” pode estar na cor da pele, no tipo de cabelo, no formato dos lábios ou do nariz, mas também na cultura. Se possível ilustre com foto(s) a sua família, para demonstrar esta mistura cultural (pode ser foto 3×4 (ou desenho) de seus pais, avós e irmãos…sua também).

3ª PARTE DO TRABALHO – A sua história e as suas memórias não são finalizadas com este trabalho escolar. Nosso maior objetivo com esse trabalho foi fazer você refazer sua trajetória de vida e avaliar os pontos que devem ser melhorados e/ou aperfeiçoados para que seu futuro seja exatamente como planejou e/ou desejou. Escreva nesta parte do trabalho, como a sua trajetória influenciará o seu futuro, no sentido positivo ou negativo.

 

Relato da supervisora do projeto:

 

 

Fabíola e Karla, agradecemos por compartilhar essa inspiradora experiência.

Parabéns pelo belo e importante trabalho!

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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