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A “corrupção erudita” e a “corrupção popular” no Brasil

Diferenças entre a corrupção erudita e a popular

Por Roniel Sampaio Silva
O Brasil tem uma má fama no quesito corrupção política. Esta tem se generalizado em muitas das esferas da vida social. É praticada por ricos, pobres, analfabetos e doutores – em maior ou em menor grau.
No imaginário popular a corrupção adquire conotação diferente de acordo com o agente que a comete. Até parece que existe uma diferenciação estética da corrupção.
Como já foi mencionado, há vários tipos de corrupto. Em um país como o nosso, onde a segmentação social é demasiada, a corrupção se configura de maneiras diferentes. Assim como nossas relações no país são bem hierarquizadas, a corrupção também é.
Muito dos atos de corrupção dos grupos menos favorecidos estão relacionados à ordem cotidiana, tais como, fraude em medidores de energia elétrica e abastecimento d’agua; compra e venda de produtos pirateados, ou ainda, subornos de agentes públicos para evitar multas.
Já a corrupção das classes mais favorecidas estão quase sempre relacionadas com a ordem pública mais geral: desvio de verbas, fraude em licitações e nepotismo. A posição ocupada pelo agente faz com que o prejuízo à sociedade seja bem maior.
No entanto, não importa quem pratica a corrupção ou em qual grau ela se engendra. O fato é que ela é nociva e precisa ser superada, tanto pelo corrupto de “colarinho branco”, quanto o “pé rapado”. Entretanto, o tratamento a percepção e o status da ação são diferenciados.
Ao que parece, há uma aceitação velada do uso do “jeitinho brasileiro” pelas classes populares, em contrapartida é comum acusações partindo do povo de que todo político é ladrão. Quando indivíduos populares cometem ações corruptas em locais públicos são satirizados e questionados quanto a suas condutas pela classe social mais abastada. Esses os acusam de não ter o comportamento digno para estar em locais tais como os shoppings. Como diria a socialite: “Ir pra Nova Iorque perdeu a graça”. Nota-se que existem, de um lado, os “ladrõezinhos pé-rapados”, por outro os “criminosos de colarinhos brancos”.
Por extensão, quando um “homus popularis” ocupa um cargo político de um espaço tido como sagrado dessa classe favorecida, soa como feio. Parece que “não combina.” Seu lugar é na dimensão privada, praticando a corrupção de efeitos limitados.
Já a esfera pública, parece ser um dos espaços por excelência das classes dominantes. Seja porque esses grupos detêm recursos para financiar as campanhas eleitorais, seja porque os cargos indicados para compor a administração pública normalmente são por pessoas do mesmo grupo político, geralmente, pertencentes à mesma classe.
A corrupção praticada pelas classes mais agraciadas é tida – muitas vezes – como “elegante” e “sofisticada”. Diferentemente da corrupção das camadas mais populares, a qual é vista pela classes mais abastadas como repugnante e injustificável, o que acaba justificando simbolicamente uma violência de uma classe
para outra. Em alguns momentos até aparece a exclamativa: “Esse sabe roubar!”. Ouve-se isso de ambas as classes. Os corruptos pobres ver sua corrupção como “normal”, assim como o “corrupto rico”. De um lado “furar fila” não é problema, assim como não é problema uma viagem com dinheiro público. O problema está sempre no outro.
O fato é que as elites burocráticas usam o poder burocrático legal (Weber) para tirar vantagem própria. A corrupção utilizando dos meios do burocratismo é tida como mais “sofisticado”, embora é tão nociva e vil quanto qualquer outra menos sofisticada.
A estética em torno de tais corrupções são construídas e diferenciadas simbolicamente.  Muitas vezes o sonho do corrupto que comete “a corrupção popular” acaba sendo em “evoluir para o nível da “corrupção erudita”. Até quando os “artistas” da corrupção popular aspirarão um posto na academia de “belas corrupções”?
O ideal é que reinventemos uma nova estética que valorize como padrão de beleza a consciência crítica em favor da coletividade. Por enquanto, podemos tentar rascunhá-la nas escolas e torna-las em arte final na vida cotidiana e nos altos escalões do poder.

 

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