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Grande Irmão de Orwell é a internet –  The Big Brother

Por Roniel Sampaio Silva

 

Capa da obra

Pretendo, em linhas gerais fazer algumas analogias entre a Internet e a figura do Grande Irmão –  The Big Brother, personagem da obra de Orwell. Não aponta para a internet em sua totalidade, mas uma dimensão cuja semelhança remonta a obra Inglesa: o mecanismo de controle.

Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo de George Orwell, em 1949, escreveu a obra 1984 (Nineteen Eighty-Four), livro de ficção que narrava como uma revolução modificava tacitamente a vida social e política. A partir desse evento, os grupos revolucionários criam um Partido único e figuram o Grande Irmão como autoridade a ser idolatrada, criando-se um complexo sistema de controle.
A vida das pessoas era condicionada pela vigilância do Teletela, espécie de aparelho televisor bidimensional utilizado pelo Partido. Concomitante a isso, era criado outros mecanismos para limitar o pensamento e criar estratégias de condicionamento, de modo que as pessoas entrassem, gradativamente, num universo criado para resguardar o governo  Depois da revolução, o governo manipulava as estatísticas criar a impressão de que as coisas estavam melhorando. Além disso, foi instituída a Novilíngua como idioma
oficial. Todo ano, eram lançadas novas edições de dicionários com palavras resumidas. No ápice das modificações da língua foi criada a palavra “Duplipensar“, que na língua Novilíngua significava
“aceitar e conviver com duas ideias totalmente contrárias”.
Cena do Filme
Com base nas ideias centrais do texto, percebemos que há algumas correspondências com as interações online. Com efeito, na mencionada obra literária, a figura do “Grande Irmão” pode ser associada a as interações na internet. Embora tenha surgido como alternativa da comunicação televisiva em massa, a interatividade da web
proporciona não apenas a ampliação da cultura de massa, mas também o monitoramento de seus usuários.
Do ponto de vista micro, criamos uma necessidade de expressão em redes sociais que nos expõe e nos vigia. O tempo todo passamos pelo crivo não apenas de nossos amigos virtuais, mas de toda uma sociedade em rede. Nesse ponto, a Internet tem se tornado um “Grande irmão” aprimorado, no qual, nós mesmos nos denunciamos ao relatar muito de nossa vida pessoal e pensamentos nas redes sociais.
Com a popularização da internet vemos nosso mundo envolto pelo que se chama de “nuvem”. Essa nebulosa cibernética nos conecta e proporciona um excelente mecanismo de comunicação e traz consigo vários aspectos positivos.
A Teletela não exibe a figura de um “grande irmão” conhecido. O “olho que tudo vê”, o olhar panóptico teorizado por Foucault, revela “Grandes irmãos” a todo momento, os quais são impressões imagéticas e narcisistas que tanto servem de espelho, quanto figura as informações mais fúteis e sem sentido.
Nas redes sociais é comum algumas informações serem a todo tempo inventadas tais com as estatísticas adulteradas do Governo. Ao mesmo tempo, nossa linguagem parece está sendo reduzida tanto aos assuntos mais banais, quanto a pobreza de leitura e de vocabulário. Mesmo não havendo proibição ou limitação de vocabulário por parte do governo, a repetição do conteúdo faz repetir palavras, limitando a linguagem e, por conseguinte, o pensamento.
E a consequência de tudo isso? A pseudo-liberdade proporcionada pelo “Grande irmão”, ou melhor, pela internet, faz com que o sujeito seja bombardeado ideologicamente; direcione sua linguagem repetitiva e banalize o pensamento. Tal qual o pensamento era limitado, na obra, com a reedição através do corte de palavras, nossa limitação tem se dado na internet pelo tempo cada vez menor dedicado a literatura. Tudo isso, concretiza nosso Duplipensar, expresso por Orwell, uma vez que na internet temos um comportamento direcionado para uma construção virtual de um
mundo melhor que não se estender para o mundo concreto. Se pensa de uma forma na internet e de outra no mundo real. Duplipensar!
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