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Sociologia do conflito e Sociologia da acomodação: introdução à teoria sociológica

Sociologia do conflito
Sociologia do conflito e Sociologia da acomodação são duas abordagens sociológicas a partir de dois processos sociais. Tais processos sociais são fundamentais para compreensão da dinâmica social.
Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Que tal conhecer uma forma de compreender, de maneira inicial, uma classificação das correntes teóricas que lhe ajudará a identificar os “pontos de partidas” dos pesquisadores sociólogos? Para isso, utilizaremos da estratégia de apresentar alguns conceitos utilizados na Sociologia para compreender a realidade social.

 

Assim, nesta postagem apresentaremos alguns conceitos que nos ajudam a compreender o campo da Sociologia, ciência que estuda a sociedade, a qual envolve – dependendo da perspectiva – um conjunto de indivíduos que vivem em harmonia, em conflito, em aposição e se acomodando às diferenças.

A princípio, informamos que iremos tentar expor o que queremos transmitir de forma objetiva (o que nos leva ao risco de imprecisões) e clara. Iniciando, inferimos que o campo da Sociologia pode (não é a única forma) ser compreendido a partir de duas diferentes perspectivas: a) uma “Sociologia do conflito”; e b) uma “Sociologia da acomodação”.

Sociologia do Conflito

O que aqui estamos denominando de “Sociologia do conflito” é um conjunto de teorias que parte do pressuposto que a “existência” da sociedade baseia-se no conflito e cabe o pesquisador compreender o mundo social observando-o, ainda que não aparente à primeira vista. Normalmente o grupo de pesquisas que parte desse modo de ler a sociedade é denominado de “Sociologia crítica”. Nessa perspectiva, por exemplo, encontramos a corrente marxista.

Sociologia da acomodação

Já o que estamos denominando de “Sociologia da acomodação” é o conjunto de teorias que parte do pressuposto que a “naturalidade” da sociedade é a harmonia social e o conflito é a exceção. Nesse caso, cabe ao cientista social estudar de quais formas a sociedade se agrupa e mantém sua coesão social. Nessa perspectiva encontramos a corrente durkheimeiana.

 

Essa forma de classificação das vertentes teóricas tem suas bases em oposição que já estava presente na Filosofia social, sobretudo a partir dos “Contratualistas“, os quais divergiam se “o homem nascia bom e a sociedade o corrompia“, sendo assim a “tendência natural” a harmonia social; ou se “o homem nascia mal e a sociedade o moldava“, sendo, nesse caso a “tendência natural” o conflito entre os homens.

 

Claro que trata-se de uma classificação genérica, embora útil para iniciar uma compreensão das vertentes sociológicas que se desenvolveram ao longo do século XX e ainda em voga.

Apresentamos, a seguir, quatro conceitos que nos ajudam a entender melhor essas perspectivas:

COOPERAÇÃO

É o tipo particular de processo social em que dois ou mais indivíduos ou grupos atuam em conjunto para a consecução de um objetivo comum. Na perspectiva da Sociologia da acomodação trata-se de um requisito especial e indispensável para a manutenção e continuidade dos grupos e sociedade. Esse conceito está ligado a ideia de coesão social, sendo base para os conceitos de harmonia social e solidariedade em Durkheim. Em contrapartida, a Sociologia do conflito faz pouco uso desse conceito, justamente por estar voltada a compressão dos conflitos inerentes à Sociedade.

 

A cooperação pode ser dividido em Direta, quando os indivíduos ou grupos realizam, em conjunto, atividades semelhantes; ou Indireta, quando se realiza trabalho diferentes. Relacionado a isso, encontramos os conceitos durkheimianos de solidariedade orgânica e solidariedade mecânica.

 

ACOMODAÇÃO

É um processo social de diminuição do conflito entre indivíduos ou grupos, obtendo-se nova forma de convivência entre elementos e grupos antagônicos e a restauração do equilíbrio afetado pelo conflito.

 

De conformidade com a perspectiva durkheimiana, a sociedade tente a acomodar-se pela necessidade dos indivíduos viverem em sociedade. O processo de acomodação é tido como tendência em situações de conflito. Se considerarmos grupos sociais vamos notar que esse processo pode ser: a) duradouro, como o caso das castas; b) ou transitório, como a existente entre as classes numa sociedade aberta.

 

COMPETIÇÃO

Sob a perspectiva da Sociologia do conflito, é considerada a forma mais elementar e universal de interação. É uma força que leva os indivíduos ou grupos a agirem uns, contra os outros, em busca de um melhor “lugar ao sol”. Considerando a sociedade em geral e sob a Sociologia do conflito, a competição nasceria da vontade de ocupar uma posição social mais elevada, de ter uma importância maior no grupo social, de conseguir riqueza, distinção, poder, etc.

 

Contudo, na Sociologia marxista encontraremos a presença constante de análises que se voltam a compreender as estratégias de determinados grupos para manter-se dominantes.

 

CONFLITO

É quando a competição assume elevada tensão social, fazendo surgir a hostilidade. Contudo, à depender da perspectiva teórica, o conflito pode ser velado, envolvendo, por exemplo, a violência simbólica.

 

Entretanto, na perspectiva da Sociologia da acomodação acredita-se que tal situação reforça a energia necessária aos esforços de suplantação; tratando-se de um estágio transitório. Para essa perspectiva, em geral, o conflito é tido como algo aberto, claro de ser enxergado.

 

Todavia, sob a perspectiva da Sociologia do conflito, a competição é algo permanente, existindo mesmo quando há uma falsa aparência de harmonia social. Além disso, no marxismo o conceito de alienação é fundamental para a compreensão dessa falsa aparência. Disto isto, para essa perspectiva o conflito pode manifestar-se “disfarçado” e por meio da violência simbólica ou, como apontava Foucault, da microfísica do poder.

 

Sob ambas as perspectivas o conflito manifesta-se através de rivalidade, debate, discussão, litígio, contenda e guerras.

 

Compreender as diferenças entre as correntes teóricas da Sociologia demanda ter clareza de seus pontos de partida. Utilizar a classificação aqui apresentada, ainda que genérica, é um passo inicial para a compreensão do conjunto de pesquisas produzidas ao longo do século XX e esse início de século XXI. Dito isto, esperamos que este texto tenha auxiliada sua compreensão das duas perspectivas analíticas que aqui trouxemos.

 

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Forma de citar este texto:
BODART, Cristiano das Neves. Sociologia do conflito e Sociologia da acomodação: introdução à teoria sociológica. Blog Café com Sociologia. 2020.

 

 

Nota:
Originalmente este texto foi publicado em 2009, sendo em 26 de maio de 2020 reformulado. Sociologia do conflito e Sociologia da acomodação: introdução à teoria sociológica.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

5 Comments

  1. Excelente texto, explicou os conceitos sociológicos de forma simples, clara e objetiva está de parabéns professor Cristiano.

  2. Excelente, professor. Como sou um autodidata, esse texto me fez lembrar de outro que já li: a de que existem os processos sociais que ora aproximam os homens e ora os distanciam. Obrigado por no auxiliar numa melhor compreensão da Sociologia.

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