Denúncias na mídia tornam corrupção mais evidente no Brasil

REPRODUZO ABAIXO ENTREVISTA QUE CONCEDI AO JORNAL O ESTADO RJ

Cristiano das Neves Bodart, doutorando em sociologia pela USP, fala dos efeitos da corrupção na política brasileira


A política brasileira, infelizmente, está associada a palavra corrupção. Nos últimos anos, inúmeros casos tomaram conta dos noticiários como o ‘mensalão’ e, recentemente, a CPI do senador Demóstenes Torres. Esses fatos preocupam a população e geram ainda mais dúvidas na hora de escolher os representantes. E então O Estado RJ foi conversar com o doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, Cristiano das Neves Bodart, que aborda o atual cenário da política brasileira e quais os caminhos que a população pode seguir para acabar com a corrupção no país.

O Estado RJ: Como a corrupção afeta a imagem de um país como o Brasil?

Cristiano das Neves Bodart: É notório que a corrupção brasileira chama atenção da sociedade, principalmente, nos últimos anos. A partir desse atual contexto, há quem afirme que, comparando com o passado, a corrupção tomou conta da política. Isso não significa que tal constatação seja uma verdade. Uma coisa é a grande presença da corrupção, outra é a ampla sensação de sua existência.

Afirmar que os políticos brasileiros de hoje são mais corruptos do que os de ontem pode ser um engano. O que podemos afirmar sem medo de errar é que a corrupção tornou-se mais evidente. Dito de outra forma, a corrupção passou a ser identificada com mais frequência, embora isso não seja o mesmo que dizer que os corruptos estão sendo punidos.

OERJ: O que levou a corrupção ficar mais evidente no Brasil?

CB: A corrupção política brasileira sempre existiu. No entanto, hoje, o volume de denúncias e a maximização da divulgação do ato, tornam as ocorrências mais evidentes. Podemos identificar dois motivos que levaram a essa grande evidência: o processo de democratização brasileira e o desenvolvimento dos meios de comunicação. Com a democratização, a mídia deixou de ser censurada e os repórteres foram, aos poucos, podendo se expressar e agir como cidadãos defensores dos injustiçados.

A democratização ampliou o número de grupos antagônicos, o que cria um cenário propício para a fiscalização do opositor que está no poder. As denúncias passaram a entrar na pauta da competição política aberta, o que no regime militar não era possível. A liberdade de expressão que é base do regime democrático possibilita a materialização das denúncias.

OERJ: Podemos dizer que há um fenômeno desencadeando esse processo em áreas como o Senado e no próprio Governo Federal?

CB – O desenvolvimento dos meios de comunicação e, consequentemente, dos espaços de veiculação das denúncias se multiplicaram. A denúncia de corrupção em uma pequena cidade do interior do Brasil pode ganhar repercussão em várias partes do mundo em poucos minutos. Um ponto importante que merece ser evidenciado é a presença ativa da mídia.

Quanto ao papel do Senado e da justiça certamente, em alguns casos, possuem seu mérito. Mas a mídia tem sido muito importante, pois nota-se que quase sempre são os meios de comunicação que denunciam, e só depois o Senado e a Justiça tomam providências.

OERJ: O que falta para o governo começar a minimizar ou até mesmo acabar com a corrupção?

CB: O volume de denúncias existentes, ao contrario do que parece, pode ser um ponto indicador de que estamos caminhando rumo à redução da corrupção política. Acredito que o aprofundamento democrático seja um caminho promissor na redução da corrupção política. Uma maior participação social na gestão pública, maior número de concorrentes ao poder e liberdade de expressão, são elementos cruciais para seguimos bem nessa direção.

OERJ:  Como as denúncias de corrupções afetam os grandes partidos políticos?

CB: Os impactos da corrupção afetam igualmente a imagem dos partidos políticos, seja eles grandes ou pequenos. Essas denúncias acabam reduzindo o número de interessados em se afiliar a eles, bem como perdem eleitores, especialmente, quando a corrupção parte de membros que são símbolos destes partidos.

Fonte: https://www.oestadorj.com.br/?pg=noticia&id=9733&editoria=Pa%EDs&tipoEditoria=

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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