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Entrevista com Arlei Sander Damo

 

Entrevista realizada por Radamés de Mesquita Rogério

 

CAFÉ COM SOCIOLOGIA: Gostaria de pedir que o senhor apresentasse um breve
resumo de sua trajetória como pesquisador, professor e autor.
ARLEI SANDER DAMO: Tive muitas idas e vindas até me estabelecer na antropologia. Fiz vestibular para diversos cursos e cheguei a cursar dois anos de engenharia mecânica. Então tentei uma transferência para a filosofia, ao mesmo tempo em que me inscrevia para novo vestibular em educação física. Isso dá uma ideia das minhas convicções; ou da falta delas. Na educação física logo me interessei por disciplinas mais reflexivas, que não eram muitas, mas tinham professores qualificados. Uma bolsa de iniciação científica me permitiu incursionar por vários cursos da área de humanidades e me encontrei na antropologia. Fiz mestrado, investigando os vínculos dos torcedores com seus clubes, e doutorado, inventariando o processo de formação de jogadores profissionais. Desde então sigo desenvolvendo projetos na área da antropologia do esporte – sobre a constituição dos circuitos de competição futebolística, circulação de jogadores, megaeventos esportivos, entre outros – e também na área da antropologia da economia e da política – desenvolvi um projeto sobre democracia participativa e orçamento participativo anos atrás. No âmbito da antropologia, tenho me dedicado bastante a temas da antropologia do esporte, por afinidade e compromisso no desenvolvimento desta área, mas me interesso também por outros campos– a maior parte dos meus orientandos trabalha com antropologia da economia e da política, buscando uma interface entre esses domínios.
Como docente atuo desde 2006 na UFRGS, mas antes fui professor na Universidade de Santa Cruz do Sul/RS (1999-2006) e também atuei na Secretaria de Esportes, Recreação e Lazer de Porto Alegre (2000-2003) – neste caso atuei em dois projetos: uma brinquedoteca itinerante que circulava pela periferia da cidade e outro que cuidava da organização do futebol de várzea. Tenho umas três dezenas de artigos/capítulos de livro publicados, quase todos envolvendo o futebol, além de três livros – um deles em parceria com Ruben Oliven. Neste momento estou concentrado num projeto bem amplo sobre os megaeventos esportivos no Brasil. Tento abarcar quatro aspectos principais: a construção/reforma dos estádios, as diferentes modalidades de produções discursivas; os protestos; e os eventos satélites (que ocorrem antes, depois ou nas bordas das competições propriamente ditas).
CAFÉ COM SOCIOLOGIA: Como o esporte, o futebol especificamente, transformou-se em objeto de investigação social para o senhor?
ARLEI SANDER DAMO: Quando eu migrei da educação física para a antropologia, passei a ser visto como alguém que desejava trabalhar com o futebol. Meu leque de opções era mais amplo, envolvendo questões relacionadas ao lazer, ao corpo, à cultura popular. Na educação física havia sido muito influenciado por uma perspectiva crítica aos valores do esporte de alta performance, que ainda hoje é bastante forte, embora não seja hegemônica. Não estava no meu horizonte imediato trabalhar com torcidas de futebol ou formação de jogadores, mas no decorrer do curso fui sendo convencido de que havia uma lacuna de pesquisas sobre o futebol no Brasil e fui acomodando as leituras mais amplas e as mais restritas, sobre esporte/futebol – na época a bibliografia era efetivamente escassa e mais difícil de ser acessada. E havia, sobretudo, a pressão pela definição do tema, a urgência de iniciar um trabalho de campo, formatar um projeto, essas coisas que acompanham os mestrandos. Então não havia tempo para me experimentar em outras áreas. Eu havia feito várias disciplinas de antropologia em currículo suplementar na graduação, mas o meu
domínio teórico teve de ser aprimorado para que pudesse acompanhar a turma. No fim das contas, a opção pelo futebol se deveu a muitas razões discretas – pois nenhuma delas, isoladamente, explica-a -, uma mescla de interesses pessoais, urgências, competências e, claro, possibilidades epistemológicas.
Leia a entrevista na íntegra na revista Café com Sociologia, 3ª edição (AQUI)
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