Por Cristiano Bodart
Foto: Ernesto Neves |
A Reportagem “A praia dos riquinhos” de Ernesto Neves para a Veja Rio (aqui) inicia da seguinte maneira: “Ponto de encontro de todas as classes sociais e tribos, as praias cariocas sempre fizeram jus ao epíteto de ‘espaço mais democrático da cidade’”. Até aí nenhuma novidade. A reportagem nos chama atenção para um fato que acaba sendo evidenciado devido a participação de uma socióloga: a situação da formação acadêmica no
Na reportagem fica claro, para quem tem uma formação
acadêmica mínima em Sociologia (e muitas outras áreas), que trata-se de um “empreendimento” que pode estar se
materializando como uma possível prática de privatização do espaço público
associado a segregação social no espaço outrora mais democrático da cidade do
Rio.
acadêmica mínima em Sociologia (e muitas outras áreas), que trata-se de um “empreendimento” que pode estar se
materializando como uma possível prática de privatização do espaço público
associado a segregação social no espaço outrora mais democrático da cidade do
Rio.
Geralmente em casos de segregação social e
privatização de espaço público, como parece ser o caso, um(a) sociólogo(a) é
entrevistado(a) para explicar a prática, o que acabava naturalmente se
convertendo em denuncia. No caso em questão, a socióloga entrevistada parece
fugir do que estamos acostumado ouvir de um profissional da área. Ao repórter
ela teria dito:
privatização de espaço público, como parece ser o caso, um(a) sociólogo(a) é
entrevistado(a) para explicar a prática, o que acabava naturalmente se
convertendo em denuncia. No caso em questão, a socióloga entrevistada parece
fugir do que estamos acostumado ouvir de um profissional da área. Ao repórter
ela teria dito:
“Deixei de frequentar Ipanema e passei a vir
aqui todos os dias porque o público é muito mais selecionado […] Posso beber
champanhe na taça e fazer escova no cabelo após mergulhar. […]Vale muito a
pena. Nem em Paris os garçons entendem tanto de bebida”.
Por que a socióloga teria fugido da regra? Sua fala
parece ir contrário a uma explicação sociológica, o que nos leva a uma questão:
será que sua fala “vazia” de explicação teórica é reflexo da qualidade dos
cursos de graduação no Brasil? Certamente muitos diriam que sim. Talvez seja. Vou
ousar ir além e afirmar que trata-se de questão de conflito de papéis muito
comum nas reportagens jornalísticas.
parece ir contrário a uma explicação sociológica, o que nos leva a uma questão:
será que sua fala “vazia” de explicação teórica é reflexo da qualidade dos
cursos de graduação no Brasil? Certamente muitos diriam que sim. Talvez seja. Vou
ousar ir além e afirmar que trata-se de questão de conflito de papéis muito
comum nas reportagens jornalísticas.
Por certo, estava ali a “jovem descolada”
aproveitando suas férias. Teria ela, por certo, respondido a partir da
perspectiva do papel social que no momento desempenhava. A pergunta certamente
não foi destinada à socióloga, mas a “jovem descolada” que deve ter, ao fim, ou
ao início, da entrevista dito sua formação acadêmica.
aproveitando suas férias. Teria ela, por certo, respondido a partir da
perspectiva do papel social que no momento desempenhava. A pergunta certamente
não foi destinada à socióloga, mas a “jovem descolada” que deve ter, ao fim, ou
ao início, da entrevista dito sua formação acadêmica.
Dito isto, levanto uma
questão ainda mais problemática a ser pensada: a formação acadêmica no Brasil não
cria um habitus, uma pré-reflexão sociológica da realidade, ainda que
estivéssemos na praia? A formação acadêmica não tem sido capaz de mudar a
perspectiva do indivíduo em relação ao mundo que o cerca, ainda que esteja fora
dos muros da universidade? A formação acadêmica não “marca” em nós um papel social que sobressai sobre os demais quando nos é perguntado sobre uma questão tão ligada a nossa formação?
questão ainda mais problemática a ser pensada: a formação acadêmica no Brasil não
cria um habitus, uma pré-reflexão sociológica da realidade, ainda que
estivéssemos na praia? A formação acadêmica não tem sido capaz de mudar a
perspectiva do indivíduo em relação ao mundo que o cerca, ainda que esteja fora
dos muros da universidade? A formação acadêmica não “marca” em nós um papel social que sobressai sobre os demais quando nos é perguntado sobre uma questão tão ligada a nossa formação?
O certo é que a reportagem, ao buscar evidenciar o
“empreendimento”, deixou “nua e crua” a formação acadêmica brasileira. Pena que
seus tutores não tenham vergonha dessa condição.
“empreendimento”, deixou “nua e crua” a formação acadêmica brasileira. Pena que
seus tutores não tenham vergonha dessa condição.