Identidade surda: alguns apontamentos

A surdez é uma condição que afeta a comunicação e a percepção sonora de um indivíduo, e tem sido historicamente associada a uma série de estereótipos e preconceitos. No entanto, o movimento surdo tem defendido a valorização da identidade surda como uma forma de afirmar a diversidade e combater a discriminação. Neste texto, serão abordados alguns aspectos teóricos sobre a identidade surda, levando em consideração autores como Skliar (2009), Lopes (2011), Quadros (2016), Strobel (2018) e Sacks (1998).

Segundo Skliar (2009), a identidade surda é uma construção social que se refere à maneira como as pessoas surdas se percebem e se relacionam com o mundo. Ela não é determinada pela deficiência auditiva em si, mas sim pela experiência de viver em uma cultura visual e gestual, que é diferente da cultura auditiva predominante na sociedade ouvinte. Nesse sentido, a língua de sinais é um elemento central para a formação da identidade surda, pois ela representa uma forma de comunicação natural e acessível para essas pessoas.

Lopes (2011) destaca que a identidade surda é um processo contínuo de construção, que envolve tanto aspectos individuais quanto coletivos. Ela se desenvolve a partir da interação entre o sujeito e seu meio social, e pode ser influenciada por fatores como a educação, a história de vida e as relações familiares. Além disso, a identidade surda é caracterizada por uma forte relação de pertencimento com a comunidade surda, que se baseia em valores como a solidariedade, a cooperação e a valorização da língua de sinais.

Quadros (2016) destaca que a identidade surda não se limita a uma dimensão linguística ou cultural, mas também está relacionada à forma como as pessoas surdas se percebem em relação a sua deficiência. Ela defende a ideia de que a identidade surda pode ser positiva ou negativa, dependendo da maneira como cada indivíduo lida com a surdez e como ele é percebido pelos outros. Para a autora, a valorização da identidade surda pode ser uma forma de enfrentar a discriminação e promover a inclusão social.

Strobel (2018) ressalta que a construção da identidade surda pode ser influenciada pela presença de outras deficiências ou condições associadas, como a cegueira ou a paralisia cerebral. Esses aspectos podem afetar a forma como as pessoas surdas se relacionam com o mundo e com a própria identidade, e precisam ser levados em consideração nas políticas de inclusão. A autora destaca a importância de se promover uma educação inclusiva e acessível, que respeite as diferenças e valorize as potencialidades de cada indivíduo.

Sacks (1998) traz uma perspectiva mais subjetiva sobre a identidade surda, a partir de sua experiência pessoal como um indivíduo surdo. Ele destaca que a surdez não deve ser vista apenas como uma limitação ou um problema médico, mas sim como uma forma de percepção e de experiência estética. O autor enfatiza a importância da valorização da cultura surda e da língua de sinais como elementos fundamentais para a construção da identidade surda. Ele defende a ideia de que as pessoas surdas têm uma forma única de compreender o mundo e de se relacionar com as outras pessoas, e que essa diversidade deve ser respeitada e valorizada.

Diante dessas reflexões, é possível afirmar que a identidade surda é uma construção social e histórica, que se relaciona com a experiência de viver em uma cultura visual e gestual e com a valorização da língua de sinais. Ela não se limita apenas à dimensão linguística ou cultural, mas também envolve aspectos individuais e coletivos, como a forma como as pessoas surdas se percebem em relação a sua deficiência e como elas se relacionam com a comunidade surda e com a sociedade em geral.

A promoção da identidade surda pode ser uma forma de enfrentar a discriminação e promover a inclusão social, desde que seja acompanhada de políticas públicas e práticas educacionais que respeitem as diferenças e valorizem as potencialidades de cada indivíduo. Isso envolve o reconhecimento da língua de sinais como língua natural das pessoas surdas e a promoção de uma educação inclusiva e acessível, que considere as especificidades da cultura surda e as necessidades educacionais de cada aluno.

Em suma, a identidade surda é uma construção social e histórica que se relaciona com a experiência de viver em uma cultura visual e gestual e com a valorização da língua de sinais. Ela envolve aspectos individuais e coletivos, e pode ser influenciada pela educação, pela história de vida e pelas relações familiares. A valorização da identidade surda pode ser uma forma de enfrentar a discriminação e promover a inclusão social, desde que seja acompanhada de políticas públicas e práticas educacionais que respeitem as diferenças e valorizem as potencialidades de cada indivíduo.

Para promover a valorização da identidade surda e a inclusão social das pessoas surdas, é necessário que as escolas e demais espaços educativos sejam acessíveis e que ofereçam recursos que permitam a comunicação efetiva entre as pessoas surdas e ouvintes. Além disso, é importante que os profissionais da educação estejam capacitados para lidar com as especificidades da cultura surda e para promover a inclusão dos alunos surdos em todas as atividades escolares.

De acordo com Skliar (2003), a inclusão de alunos surdos na escola regular pode ser favorecida pela criação de espaços educativos plurais, que valorizem as diferenças e que ofereçam recursos pedagógicos que contemplem a diversidade cultural e linguística presente na sala de aula. Para o autor, é preciso que os professores estejam preparados para lidar com as especificidades da cultura surda e que saibam utilizar a língua de sinais para mediar o processo de ensino-aprendizagem.

Além disso, é importante que a escola ofereça recursos e tecnologias assistivas que permitam a comunicação entre alunos surdos e ouvintes e que possibilitem o acesso aos conteúdos pedagógicos. Dentre as tecnologias assistivas mais utilizadas pelos surdos estão os aparelhos auditivos, os implantes cocleares, os sistemas de amplificação sonora, os softwares de reconhecimento de fala e os dispositivos de tradução automática de texto para língua de sinais.

Outra questão importante a ser considerada na promoção da identidade surda é o reconhecimento da diversidade presente na comunidade surda. Conforme aponta Lopes (2018), a comunidade surda é composta por pessoas de diferentes origens, culturas e línguas de sinais, e é preciso respeitar e valorizar essa diversidade. Para a autora, a valorização da identidade surda deve se basear na promoção de uma cultura de respeito, em que as pessoas surdas tenham o direito de ser quem são e de se expressarem em sua língua natural.

Por fim, é importante destacar que a promoção da identidade surda não se limita ao âmbito educacional, mas envolve ações e políticas públicas que garantam a acessibilidade e a inclusão das pessoas surdas em todas as esferas da sociedade. Isso implica em garantir o direito à informação em língua de sinais, o acesso aos serviços de saúde e de justiça, e a participação plena nas decisões políticas que afetam a comunidade surda.

Em conclusão, a identidade surda é uma construção social e histórica que se relaciona com a experiência de viver em uma cultura visual e gestual e com a valorização da língua de sinais. A promoção da identidade surda envolve a valorização da diversidade presente na comunidade surda, a criação de espaços educativos plurais e acessíveis, a capacitação dos profissionais da educação para lidar com as especificidades da cultura surda, o reconhecimento da língua de sinais como língua natural das pessoas surdas, a oferta de recursos e tecnologias assistivas e a garantia da inclusão das pessoas surdas em todas as esferas da sociedade

Referências:

BAGGINI, J. The Pig That Wants to be Eaten: 100 Experiments for the Armchair Philosopher. Plume, 2006.

DELEUZE, G. Diferença e Repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

HUME, D. An Enquiry Concerning Human Understanding. Oxford University Press, 2008.

KANT, I. Critique of Pure Reason. Cambridge University Press, 1998.

SKLIAR, C. A Educação de Surdos: A Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Mediação, 2003.

LOPES, M. A. Identidade Surda e Políticas de Inclusão: Desafios para a Educação e a Sociedade. In: Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 31, n. 59, p. 177-188, jan./abr. 2018.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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