O corpo como capital: para compreender a cultura brasileira

Artigo de Mirian Goldenberg, Doutora em Antropologia Social. Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ).

Já na década de 1980, o antropólogo Gilberto Freyre, como sempre de forma pioneira e polêmica, buscou pensar o corpo da mulher brasileira e suas transformações. No livro “Modos de Homem, modas de mulher” (1987), Freyre afirmava que:

Pode-se dizer da mulher que tende a ser, quanto a modas para seus vestidos, seus sapatos, seus penteados, um tanto maria-vai-com-as-outras. Portanto, a corresponder ao que a moda tem de uniformizante. Mas é da argúcia feminina a iniciativa de reagir contra essa uniformização absoluta, de acordo com características pessoais que não se ajustem a imposições de uma moda disto ou daquilo. Neste particular, é preciso reconhecer-se, na brasileira morena, o direito de repudiar modas norte-européias destinadas a mulheres louras e alvas. (p.33).

Gilberto Freyre apontava como modelo de beleza da brasileira a atriz Sônia Braga: baixa, pele morena, cabelos negros, longos e crespos, cintura fina, bunda (“ancas”2) grande, peitos pequenos. Dizia, com certo tom de crítica, que esse modelo de corpo e beleza brasileiros estavam sofrendo um “impacto norte-europeizante ou albinizante”, ou ainda “ianque”, com o sucesso de belas mulheres como Vera Fischer: alta, alva, loira, cabelos lisos (“arianamente lisos”, como dizia Freyre). com um corpo menos arredondado.

Esse novo corpo da mulher brasileira, imitação ou “macaqueação” (como gostava de dizer) de modelos estrangeiros, que passou a se impor como modelo de beleza, já detectado por Gilberto Freyre, ganhou muito mais força nas últimas décadas. Como disse a Veja (07/06/2000): “As brasileiras não ficam velhas, ficam loiras”, mostrando que a brasileira é uma das maiores consumidoras de tintura de cabelo em todo o mundo. Além de Vera Fischer, que permanece um ideal de beleza, Xuxa e, posteriormente, Giselle Bündchen tornaram-se modelos a serem imitados pelas brasileiras, ícones “norte-europeizantes”, diria Freyre.

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

3 Comments

  1. Como disse Gilberto Freyre nas décadas de 70 e 80 a mulher brasileira tinha um conceito de beleza, no entanto hoje isso vem mudando, a mulher brasileira é considerada as mais belas podendo ser louras ou morenas, e vem sendo imitada até mesmo por mulheres estrangeiras.

  2. Oww tristeza! Não creio que exista um modelo ideal para definir a mulher brasileira. Mulher brasileira é aquela que nasce no Brasil e o ama como patria: seja branca, negra, amarela ou vermelha. Designar um protótipo feminino perfeito no meu ponto de vista além de uma tarefa díficil corre o risco de ser julgada como imprópia. Veja bem, com tantas culturas diferentes no país, no mínimo teríamos que escolher uma mulher que representasse um pouco de cada etnia, sendo assim, se de um lado Gisele não fosse a melhor opção, também deveríamos dizer o mesmo de Isabel Filardis ou Negra Lí. Na minha opinião , no mínimo teríamos que eleger uma mulher que trouxesse dificuldade aos nossos olhares na hora de definir sua etnia (algo bem miscigenado mesm). Vejo isso na nossa querida Juliana Paes.

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