Por Cristiano Bodart
Meu primeiro contato com uma língua estrangeira ocorreu ainda na educação básica. No entanto, pouco aprendi naquela etapa e, sinceramente, quase nada retive. Foi apenas quando iniciei o mestrado que percebi a necessidade de aprender, ao menos, a ler em espanhol e inglês. Ao me preparar para o doutorado, surgiu também a exigência de leitura em francês. Desde então, venho percebendo, de forma cada vez mais evidente, que dominar outros idiomas amplia significativamente as possibilidades de atuação tanto como docente quanto como pesquisador.
Essa percepção se tornou ainda mais concreta durante uma recente experiência de mobilidade acadêmica: uma estadia de trinta dias na Europa, como pesquisador visitante. Nesse contexto, senti diretamente os limites impostos por uma formação linguística insuficiente. A dificuldade de comunicação em contextos internacionais, bem como o acesso restrito a redes de interlocução científica, evidenciaram o quanto uma formação mais sólida em línguas estrangeiras é necessária.
Sabemos – ainda que, por vezes, finjamos não saber – que, no atual contexto de formação docente, marcado pela crescente internacionalização das redes de ensino, dos fluxos de pesquisa e da produção de conhecimento, o domínio de línguas estrangeiras não é mais um luxo ou um diferencial: tornou-se uma necessidade. Entre os idiomas mais estratégicos para profissionais das Ciências Humanas na América Latina, destaca-se o espanhol. Sua ampla difusão regional e seu papel nas trocas acadêmicas e culturais tornam o aprendizado profissional desse idioma um recurso valioso para docentes e pesquisadores que desejam ampliar horizontes, estabelecer parcerias e qualificar suas práticas pedagógicas e investigativas. Não saber ler, por exemplo, o espanhol, restringe o acesso a produção cientifica latino-americana. Não falar o espanhol, dificulta participar de eventos acadêmicos, inclusive online.
Não me coloco aqui como especialista no ensino de línguas, tampouco pretendo oferecer fórmulas prontas. Peço apenas licença para compartilhar algumas reflexões e sugestões que, a meu ver, podem ser úteis a quem reconhece a importância de aprender outro idioma como estratégia de desenvolvimento acadêmico e profissional.
Antes de tudo, é fundamental compreender que aprender uma nova língua com finalidades profissionais exige objetivos bem definidos. Afinal, qual seria o benefício mais direto em aprender, por exemplo, o espanhol? A lista é extensa. A leitura, escrita e conversação em espanhol podem viabilizar a publicação de artigos em revistas internacionais, além de permitir atuar como parecerista ou editor em periódicos estrangeiros. Também possibilitam uma participação mais efetiva em eventos acadêmicos e o fortalecimento de redes colaborativas de pesquisa. E, não menos importante, contribuem para a ampliação do repertório cultural, pedagógico e político do educador.
Se você decidir investir no aprendizado de outro idioma, ter clareza sobre seus objetivos ajudará na escolha de estratégias e materiais didáticos e de pesquisa mais adequados, otimizando o tempo e os esforços investidos. Compartilho, a seguir, algumas dicas que coletei ao longo do tempo – algumas das quais tenho tentado seguir – e que considero particularmente interessantes.
Invista em cursos com enfoque profissional e acadêmico
Mais do que cursos voltados ao público geral, docentes e pesquisadores se beneficiam de formações específicas que priorizam o vocabulário técnico, a leitura crítica de textos científicos, a produção escrita formal e a compreensão oral em contextos acadêmicos. Diversas universidades e centros de línguas oferecem esse tipo de formação, muitas vezes com foco na comunicação científica e na atuação docente bilíngue. Se ainda estiver vinculado a uma universidade, veja se ela oferece curso.
Priorize a leitura de textos acadêmicos em espanhol
O contato direto com artigos, livros e documentos produzidos em espanhol amplia o repertório teórico e metodológico, além de fortalecer a capacidade de interpretação e de tradução. Essa prática é fundamental para o aprimoramento da língua, assim como para acessar a produção científica latino-americana.
Participe de eventos e redes de pesquisa internacionais
Congressos, simpósios, seminários e grupos de trabalho que envolvam pesquisadores hispano-americanos são excelentes oportunidades para praticar o idioma em situações reais. Essas experiências não apenas ajudam na fluência, como também fomentam a construção de redes colaborativas e o intercâmbio de saberes. No contexto atual, os eventos online são oportunidade de participar com custos reduzidos.
Utilize recursos digitais e práticas autônomas de aprendizagem
Podcasts, vídeos acadêmicos, cursos online, apps para aprender espanhol e clubes de leitura são instrumentos e estratégias interessantes que podem ser incorporados à rotina. Uma imersão contínua no idioma e com flexibilidade e alinhamento aos temas de interesse pode ser mais produtivo do que algo mais rígido que não terá condições de seguir.
Produza textos em espanhol e submeta-os a periódicos e eventos
A prática da escrita acadêmica em espanhol pode ser uma forma de gerar uma maior obrigação em aprender o espanhol. Enviar artigos, resenhas e comunicações orais a eventos internacionais pode contribuir para a consolidação do domínio linguístico, além de gerar a ampliação da visibilidade da sua produção científica.
Valorize a dimensão intercultural do idioma
Aprender espanhol não se resume a regras gramaticais ou vocabulário. É preciso compreender as diferenças culturais, políticas e epistêmicas que atravessam os países hispano-falantes. Essa sensibilidade é indispensável para construir diálogos interculturais mais éticos, respeitosos e colaborativos. Isso é de grande importância, por exemplo, durante uma exposição de um tema durante eventos acadêmicos.
Para nós, professores e pesquisadores comprometidos com uma formação crítica, humanizada e internacionalizada, o domínio de outras línguas representa mais do que uma habilidade instrumental: é uma ponte para novas possibilidades de atuação profissional, produção de conhecimento e participação em redes de transformação social.
Espero manter o foco e avançar nessa direção – por mim, por minha prática docente e pelas conexões que ainda posso construir.