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Poder ter poder… poderia ou podaria? Reflexões em torno dos conceitos de poder

 

Por Cristiano Bodart
Quando mais novo eu queria possuir o poder… eu queria ter poder! Se poder eu tivesse, eu poderia… se eu o possuísse eu iria poder… ter coisas que me dariam poder, para assim poder possuir mais poder… ingênuo parece que eu era!
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Acreditava que o poder estava apenas na riqueza econômica; na posse dos bens de produção. Aprendi isso “lendo” Karl Max, sobretudo seus [péssimos] comentaristas. Com Max Weber, comecei a entender que existiam outras fontes de poder, tal como o carisma e a tradição.
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Depois, tentando entender Pierre Bourdieu, comecei a perceber que o poder também está nos símbolos e que esses são socialmente estruturados, assim como são estruturantes. Percebi que eu, macho, detinha poder sobre a fêmea… foi aí que comecei a não desejar o poder. Percebi que eu, um aspirante de intelectual, tinha poder sobre meus amigos “não estudados”, sobre meu pai quase iletrado… não quero mais o poder…
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Pensei em deixar todos os simbolismos que me proporcionavam tal “heresia intelectual”… depois, encontrei Foucault. A partir desse momento parece que percebi que minha perspectiva estava “desfocada”… faltava uma pitada de Foucault/foco.
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Parece que percebi que o poder estaria impregnado em toda parte… em todo o canto. Comecei a perceber que sendo eu um ser cultural em toda a minha vida, para além dos instintos, sou vitimado pela microfísica do poder… parece que voltei à estaca inicial… Tenho o poder que outrora desejava? Nem sei mais se quero poder. Não tenho pod

er sobre mim mesmo… sou vítima direta e constante dele: do poder. Ah! Queria poder desmontar, desfigurar, destruir, destituir o poder. Poderia? A tal microfísica do poder permitiria? Acho que seria podado.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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