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Pão e Circo: realidade política de muitos municípios brasileiros

pão e circo

pão e circo

PÃO E CIRCO” NA ROMA ANTIGA. EM KENNEDY, O “PÃO” JÁ BASTA[1].
Segue um artigo que embora se remeta a uma cidade particular, apresenta elementos que se repetem em muitos municípios brasileiros:

O termo “Pão e Circo” foi criado pelo poeta romano Juvenal, que viveu na Roma Antiga, por volta do ano 100 d.C. A expressão foi usada para denunciar a política do imperador romano e a falta de (in)formação política do povo, o qual, sendo ludibriado, se preocupava apenas com a comida e o lazer.

A prática da “Política do Pão e Circo”, praticada naquela época, parece ainda ser eficiente para manipular a sociedade atual. No início do primeiro século, a pobreza e o desejo por lazer foi administrado pelo imperador com o intuito de obter o apoio do povo, mesmo cometendo atrocidades. Na época, por conta da miséria e consequentemente do perigo de revoltas populares, o imperador romano proporcionava gratuitamente espetáculos de gladiações (onde pessoas e animais eram forçados a lutarem até a morte), distribuía pão à população como forma de tirar a atenção de seus atos malévolos e controlar as multidões, assim como, transmitir uma imagem de “bom governante”.

Hoje, soma-se à pobreza dois elementos que já existiam na época, porém maximizados em nosso tempo: o desinteresse pela coisa pública e o individualismo extremo. Presidente Kennedy parece ser um exemplo emblemático dessa lamentável realidade. Por lá, o “pão” já basta! A população não tem, de forma significativa, acesso ao lazer, mas as supostas “políticas sociais” da gestão de Reginaldinho (PTB) parece ter atingido muito bem os objetivos da “Política do Pão e Circo”. Por lá, as práticas clientelistas renderam a esse político um apoio muito forte da população, especialmente dos mais pobres e desinformados. Na Roma Antiga era distribuído gratuitamente pão aos famintos e ofertado eventos de lazer. Em Kennedy a política parece ser ainda mais sofisticada: eram concedia cestas básicas, transporte público gratuito, construção de casas populares entre outras coisas. Em um primeiro momento parecem ações legítimas, não fosse a realidade do município. Kennedy vem tendo a maior receita per capita do Espírito Santo (mais de 21 mil reais, em 2011). Sua receita total é superior a 224 milhões de reais; mais de 30 milhões acima do que teve Guarapari no mesmo ano, cuja população é do tamanho de quase 11 municípios como Presidente Kennedy. À tamanha riqueza dos cofres públicos, contrasta-se a miséria da população local. A cidade possui diversas fossas à céu aberto, mais de 73% da população não tem acesso a rede de esgoto, muitos moradores da zona rural não tem água tratada, como aqueles que residem nas redondezas da Praia das Neves.

Após a prisão de Reginaldinho, e mais 27 pessoas supostamente envolvidas em uma fraude pública de carca de 55 milhões, parte significativa da população foi as ruas para reivindicar. Pasmem! Não contra a corrupção, mas contra o Ministério Público por ter prendido o então prefeito. A lesão aos recursos públicos parece não incomodar esses; o sentimento individualista, maximizado pela pobreza (social e cultural) e, consequentemente, a busca pela sobrevivência, os levam a estar mais preocupados com as cestas básicas que recebiam do que com o bem coletivo e com um desenvolvimento social efetivo. Nota-se que parte significativa da população tende a apoiar cegamente aquele que lhe dá esmola, ainda que essa “dádiva” nunca venha retira-los da situação de miséria e dependência de assistência pública.

A política do pão e circo do petebista parece tem atingido seu objetivo: produzir eleitores dependentes e cegamente apoiadores de suas práticas paliativas. É Juvenal, Reginaldinho daria inveja ao imperador romano! Lamentamos a ignorância de parcela da população que não percebe que está sendo “lançada às arenas na miséria” para espetáculo da turma do Reginaldo.

Cristiano Bodart, cientista social, doutorando em Sociologia/USP.

 

[1] Originalmente publicado no jornal “Espírito Santo
Notícias”. Nº 23, 15 de setembro de 2012. P. 7.
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