O professor Magnoli aponta questões interessantes, marcada por uma defesa à dignidade humana (a qual também sou defensor). Porém, suas argumentações utilizadas parecem equivocadas. Acredito que não foi à ciência do século XIX (como o professor disse na entrevista) quem criou o “mito da raça”. Na verdade o “mito da raça” é anterior a isso, anterior a própria ciência. No Brasil, por exemplo, já era bem clara a existência de uma classificação racial ainda no primeiro século de colonização (séc.XVI). A colonização da África, da América e da Ásia foi baseada no “mito racial”. O “mito da raça” é anterior a tudo isso. Basta buscar na História Antiga. Talvez o conceito seja mais recente, mas a ideia de que os grupos humanos são diferentes e superiores uns aos outros é algo que surgiu no imaginário popular em tempos remotos. A ciência do século XIX teria sistematizado e legitimado tal ideia e prol dos grupos dominantes – a ciência sempre esteve influenciada pela estrutura econômica e cultural predominante ou detentora de maior poder – vide as contribuições de Antonio Gramsci a esse respeito.
Outra questão está ligada ao perigo em afirmar que todos os grupos humanos são iguais em suas características biológicas. Acredito que são diferentes, mas que essas diferenças não são significativas a ponto de tornar alguém melhor ou pior, mais inteligente ou menos inteligente. São diferenças biológicas que determinam textura e cor de cabelo, cor de pele, tamanho da estrutura óssea, formato de crânio, de nariz de lábios, etc.
Em uma coisa o professor Magnoli está certo. Existe o perigo de se utilizar da raça para ações políticas que acabam criando e reforçando ideais preconceituosas marcadas por uma hierarquização de superioridade-inferioridade. Quando as diferenças são usadas no campo político o perigo torna-se enorme (vide o Nazismo Alemão). Políticas de redistribuição de renda devem ser baseadas na diferença de acesso (à escola, ao emprego, à universidade) e não na diferença de características biológicas (àquelas que reportei aqui) que tanto reforça o problema de acesso.