Sociologia e Senso Comum: uma perspectivas das relações humanas

Sociologia e Senso Comum: uma perspectivas das relações humanas



Sociologia e Senso Comum
Por Silas Souza Savedra*
A ideia de pensar sociologicamente tem como principal objetivo se afastar do senso comum a fim de realizar uma análise mais minuciosa das relações humanas. Não é a proposta julgar o senso comum como uma forma totalmente equivocada de enxergar os fenômenos sociais, mas limitada. A proposta é expor que esse modo de analisar as relações humanas não é suficiente para compreende-las, uma vez que o senso comum não vai à raiz dos fenômenos, assim como não apresenta uma explicação sistematizada e racionalizada da realidade social, apesar de rica e interessante.
Sociologia e senso comum
A Sociologia desde sua formação vive uma relação de “amor e ódio” com o senso comum. Se por um lado há uma relação de proximidade (geralmente são as mesmas temáticas em jogo), na maioria das vezes existe um confronto explícito entre eles. Enquanto o senso comum fortalece suas explicações do mundo ao longo do tempo, nos parece bastante interessante a tarefa árdua e intrigante da Sociologia em romper com paradigmas que foram criados pela própria sociologia. Isso evidencia que o discurso sociológico é responsável, baseando-se no método científico.
É corriqueiro ouvir um “indivíduo comum” falar que “bandido bom é bandido morto” e que “a redução da maioridade penal é a solução para a violência”. No entanto, ouvir de um sociólogo um discurso do tipo não é comum, sobretudo se este tiver pesquisado sobre esses assuntos, isso porque o discurso sociológico deve ser resultado de um apuração sistemática das relações, com alto grau de vigilância.
Para um melhor entendimento da “relação-diferença” entre o senso comum e a Sociologia, tomamos como exemplo um dos trabalhos de Durkheim. Quando este publicou sua obra “O Suicídio” – depois de uma minuciosa pesquisa sobre este fato social, claro que limitado aos recursos que eram possíveis em seu tempo – já existiam explicações dadas para essa ação. Além da visão psicanalista, existia o entendimento do senso comum sobre a prática do suicídio. O senso comum atestava que os indivíduos que se matavam, eram pessoas de “cabeça frágil” ou que estavam possuídas por demônios, o que demostra como esse conhecimento é insuficiente para explicar os fatos sociais, os quais precisam de maior compreensão.
Esse confronto não acontece nas disciplinas exatas. Dificilmente ouvimos uma pessoa comum falar sobre Física quântica em um boteco ou sobre Astronomia em um jantar em família. Mas em ambos ambientes é bem comum existirem discussões sobre identidade de gênero, maioridade penal, discussões em torno da política, entre outros assuntos pertinentes às relações humanas. É por compartilhar os mesmos abjetos de análises que a Sociologia e o senso comum se aproximam. Mas só nesse ponto. Para uma análise responsável, é necessário que o sociólogo se afaste o máximo de sua “lente”, de suas compreensões comuns e meramente empíricas. É certo que não é possível um distanciamento e desligamento completamente de sua cultura (em alguns momentos o pertencimento a mesma cultura que analisa traz falsas impressões, em outro caso colabora para a compreensão do fenômeno estudado).
O que buscamos transmitir por meio desse texto é que para melhor entendermos as relações humanas devemos tirar a “poeira” que as encobrem, isso para não termos visões erradas ou incompletas. Devemos ir para além das explicações do senso comum e pensar sociologicamente nos ajuda nessa tarefa.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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