Desde o atentado terrorista às torres gêmeas do Word Trade Center em 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, observamos uma espécie de complô por parte da grande mídia (ou mídia internacional) no sentido de se espetacularizar o fenômeno do terrorismo, reforçando sutilmente estigmas como: a ligação direta do Islamismo ao fundamentalismo e um etnocentrismo através de uma “exemplar democracia ocidental contra o atraso dos orientais” (ou seja, o reforço da luta travada desde George W. Bush e Tony Blair do ‘bem contra o mal’).
O espetáculo é um fenômeno típico das sociedades ocidentais modernas e as imagens tem
um papel fundamental neste processo confusão entre o real e o virtual. A repetição excessiva de determinadas notícias na mídia, a veiculação de imagens repletas de emotividade, o reduzido tempo dos telejornais e a carência de pontos de vista conflitantes, são alguns elementos que colaboram com este processo de espetacularização e ficcionalização dos acontecimentos.
Ou como diria Guy Debord, em sua obra ‘A sociedade do espetáculo’, “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação”. De forma que a relação entre o espetáculo e a mídia pode ser pensada entendendo que “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens”. Retomo aqui, como exemplo, acontecimentos como o conflito entre Israel e Palestina, tomado de banalidade devido a sua excessiva repetição nos telejornais e carência na mídia aberta de um debate mais amplo sobre suas raízes e aspectos ideológicos. Ou seja, este conflito transformou-se num filme de guerra como aqueles que passam na sessão da tarde.
E quem não lembra a invasão ao Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003, tendo como justificativa a “apreensão de armas de destruição maciça e a necessidade de se levar democracia a um país oprimido pelo ditador Saddam Russein?”. Conflito este transmitido em tempo real para todo o mundo. E, dias antes da transmissão, o milho para a pipoca e o refrigerante já tinham sido guardados por muitos para se assistir a morte de milhares de civis. Lembro que no dia anterior à transmissão, muitas pessoas se dirigiam a mim, eufóricas, perguntando: “E aí, vai assistir a guerra amanhã?”
E para reforçar esta argumentação, cito aqui também o acontecimento da semana passada relativo ao atentado em Boston, no qual se repetiu excessivamente a notícia de uma operação policial a qual envolveu uma caçada humana que paralisou a região metropolitana de Boston durante cerca de 20 horas. O aparato de segurança montado para a captura dos dois suspeitos ao atentado, transformou a cidade em um palco fantasiado de guerra civil.
Assim, especulações apressadas em torno da ‘possível ligação dos jovens com grupos terroristas russos da Chechênia’ veio logo à tona. A divulgação da rede social dando ênfase à religião de Dzhokhar Tsarnaev, 19 anos, como adepto ao Islã, apesar da aparente imparcialidade, também não deixa de ser um sutil julgamento. E o mais interessante é a atitude das autoridades norte americanas em fazer de tudo para que Dzhokhar Tsarnaev, que estava quase morto por conta da perseguição policial, continue vivo no sentido da construção de um garnd finale coroado com uma pena de morte possivelmente transmitida em cadeia nacional. Ou seja, “para morrer, basta estar vivo!”.
Apesar das mortes ocasionadas pelas bombas na maratona de Boston que, sem dúvida nenhuma, merecem todo o nosso luto, o jargão popular “fez-se uma tempestade num copo d’água” é a análise mais adequada que encontro para se pensar a excessiva ênfase dada pela mídia aberta a todo um processo de captura de duas pessoas por parte de todas as forças policiais e bélicas norte-americanas. Agora fiquei na dúvida, a série CSI é realidade ou ficção?!