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Valesca Popozuda: Mulher dançarina pode, intelectual não!

Valesca popozuda é mais uma vez alvo de mais uma polêmica. Temos acompanhado as declarações da jornalista Rachel Sheherazade a respeito do projeto My pussy é poder – A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural (produzido pela estudante Mariana Gomes). Na ocasião a jornalista desqualificou o trabalho da mestranda numa clara falta de entendimento sobre o assunto. Esse texto pretende fazer uma reflexão sobre o caso e evidenciar um ponto de vista que “fica nas entrelinhas”. Seria uma contradição da grande mídia ou um discurso direcionado?

 

Como sociólogos podemos fazer novas reflexões e releituras o tempo todo dos fatos ao nosso redor. Costumamos apresentar perspectivas diferenciadas para os diversos assuntos que dizem respeito à realidade social, de modo tal que, muitas vezes os ouvintes comentam que “ainda não tinha pensado dessa forma antes” ou outras vezes “isso não faz sentido algum”. Nesse sentido, sobre essa situação, é possível refletir um pouco sobre uma sutileza ideológica do discurso.

Saindo um pouco da programação pseudo-intelectual do jornal e nos transportando aos programas dominicais, lembramos que o mesmo funk que foi tão criticado pelos jornalistas, “formadores de opinião” é tão aclamado e representam horas de programação na mesma emissora. Quantas vezes a mesma Valesca Popozuda deu audiência para aquela mesma emissora? Nesses programas as mulheres não são acadêmicas, mas dançarinas seminuas rebolando voluptuosamente enquanto, em seguida, o patrocinador fatura nos comerciais. Portanto, para parte da grande mídia a mulher só é interessante quando se trata de objeto e não de sujeito, o mesmo vale para as manifestações culturais dos grupos marginalizados.

Voltando ao noticiário, como já foi citado aqui no blog, levianamente, a jornalista sequer sabe diferenciar uma tese de uma dissertação e o pior de tudo, não leu o projeto da mestranda. Revelou o lado mais reacionário de uma mídia que não suporta vê uma mulher refletindo sob sua própria condição de dominação. E o mais paradoxal: foi posto uma mulher para cometer essa grande violência simbólica.

 

Portanto, é mais interessante para parte dessa grande mídia que as mulheres continuem na condição de objeto de desejo, consumo e lucro, do que na condição de agente de reflexão da sua própria realidade. Para tanto, é necessário fazer discursos afinados e veementes para que tais formadores de opinião construam um discurso pseudo-intelectual para garantir o espaço inferiorizado da mulher no sistema de dominação masculino. Para a mídia é um grande perigo a mulher deixar exercitar os músculos inferiores do corpo para exercitar outro músculo superior e mais precioso: o cérebro.

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