Violência Urbana

Por Cristiano Bodart

Uma aluna me fez uma pergunta que acredito não ter uma resposta conclusiva: “Por que de tanta violência urbana no país?”

Como o tempo para respondê-la era muito curto, pedi que visitasse posteriormente meu blog para ler, não uma resposta, mas alguns apontamentos necessários para a compreensão do problema. Outro motivo de aqui postar tais apontamentos está no fato de possibilitar um debate aberto com os leitores, especialmente com aqueles que constantemente têm deixado registrado suas perspectivas sobre as questões colocadas por mim. Vamos aos apontamentos:
Primeiramente julgo necessário delimitar o fenômeno em pauta. Violência urbana é o conceito do fenômeno social de comportamento deliberadamente agressivo e transgressor exercido por indivíduos ou coletividades nos limites do espaço urbano, sendo ela determinada localmente por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade, podendo variar no tempo e no espaço.
Existem diversos fatores para a existência de tanta violência urbana. Podemos começar citando a
influência da globalização que disseminou pelo mundo comportamentos violento, como aqueles originários nos Estados Unidos e na Europa (gangues de rua, a pichação de prédios). O mal funcionamento dos mecanismos de controle jurídicos colaboram para a disseminação da violência de todas as espécies. A falha no exercício da coerção é um dos fatores mais apontados como causadores de condições para o exercício da violência.
Ao contrário do que comumente ouvimos em conversas informais, a violência não tem sua causa na pobreza. Se fosse correto essa afirmação, o continente africano seria o mais violento, assim como seria aqui as Regiões Nordestes e Norte, perspectivamente as mais violentas. O que constatamos é que a violência tem estado relacionada à desigualdade social (veja os níveis de violência na América Latina, assim como na Região Sudeste). A imposição do modelo de consumo capitalista não tem sido condizente com as condições para obtê-lo. Muitos por não conseguirem “ser alguém” (ler-se consumidor em potencial) por meios legais, acabam buscando outras vias (é claro que não é apenas um fator isolado o motivador de tais práticas ilegais).
O Brasil possui características propiciadoras de violência urbana, como a existência de instituições frágeis (entre elas a família), profundas desigualdades sociais e uma tradição cultural violenta (embora camuflada pelo “tipo cordial”). Outra questão importante é a aceitação de condutas ilegais, que dependendo da gravidade é classificada pelos próprios indivíduos como “jeitinho brasileiro”. O brasileiro aceita facilmente o rompimento com as normas jurídicas, seja por parte do Estado (por exemplo, o uso de tortura ao pobre como meio de punição de criminosos ou de investigação), como por parte da sociedade civil (ocupação de espaços públicos por camelôs; infrações de trânsito; desrespeito ao consumidor; empregador que não paga os direitos dos empregados, etc.).
Somado a tais fatores soma-se a exclusão política e o baixo desempenho do sistema educacional de nosso país. Em fim, realizo esses breves apontamentos para reflexão. Não creio que seja uma resposta (o que não é o objetivo), mas um caminho para a reflexão do fenômeno.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

10 Comments

  1. Caro Bodart,
    O professor Michel Misse do IFCS tem dito em diversas entrevistas que, comparativamente, o percentual de violência não aumentou, por exemplo, no Rio de Janeiro. Ele demonstra com dados estatísticos que o percentual é quase o mesmo do início do século passado. No entanto, diz ele, que a percepção da violência é que tem aumentado. Ou seja, estatisticamente é a mesma coisa, mas a percepção é outra. Como a sociedade não é feita só de números, mas também de sensações, a questão, se ele estiver certo, é pensar o que tem permitido o aumento desta sensação.
    Um abraço.

    • Imagino meio superficialmente que o aumento dessa sensação se deve a supervalorização por parte das pessoas em relação aos seus bens. Coisa que o sistema capitalista nos levou a valorizar.

  2. Obrigado pela colaboração.
    Mas se pensarmos em violência urbana,acredito que números maiores de casos (e não proporcinais) nos dão a sensação de maior desconforto.
    Acredito que pensar em proporção para afirmar que a violência não aumentou é um pouco estranho, uma vez que não podemos comparar uma cidade onde existem 1500 habitantes com o Rio de Janeiro, pois se nesta cidade ocorrer dois homicídios, proporcionalmente, será uma cidade mais violenta que o Rio de Janeiro.

  3. A violencia urbana hoje é uma preocupação que está se engrandecendo cada vez mais , então geralmente essas coisas que são erradas e crescem desordenadamente preocupam as pessoas e os moradores de várias cidades que crescem constantemente e a desordem global cresce junto a elas , mas todos nos esperamos que esse mal seja ameninizado .

  4. A violência urbana não está presente somente nas grades cidades, ela está presente em todo o país, desde as cidades do interior do país até as grandes metrópoles. É geralmente praticada contra os mendigos e homossexuais o que é uma vergonha para toda nossa sociedade.

  5. A criminalidade não é um “privilégio” exclusivo dos grandes centros urbanos do país, entretanto o seu crescimento é largamente maior do que em cidades menores. É nas grandes cidades brasileiras que se concentram os principais problemas sociais, como desemprego, desprovimento de serviços públicos assistenciais (postos de saúde, hospitais, escolas etc.), além da ineficiência da segurança pública. Tais problemas são determinantes para o estabelecimento e proliferação da marginalidade e, consequentemente, da criminalidade que vem acompanhada pela violência urbana. A superpopulação tem repercussão funesta na sociedade, e como consequência mantem um número crescente de criminosos, paranoicos, esquizofrênicos, maníacos e oligofrênicos.

  6. A pobreza não é causa da violência. Mas quando aliada
    à dificuldade dos governos em oferecer melhor distribuição
    dos serviços públicos, torna os bairros mais pobres mais
    atraentes para a criminalidade e a ilegalidade.Se as pessoas agirem apenas em função do medo, se retraírem simplesmente, elas não vão conseguir operar bem, não vão conseguir enfrentar a violência. Só vão replicar e aumentar o processo, vão reproduzi-lo.”

  7. A pobreza não é causa da violência. Mas quando aliada
    à dificuldade dos governos em oferecer melhor distribuição
    dos serviços públicos, torna os bairros mais pobres mais
    atraentes para a criminalidade e a ilegalidade.Se as pessoas agirem apenas em função do medo, se retraírem simplesmente, elas não vão conseguir operar bem, não vão conseguir enfrentar a violência. Só vão replicar e aumentar o processo, vão reproduzi-lo.”

  8. Creio que como foi afirmado no texto, a violência urbana não se trata exclusivamente das classes mais baixas,acontecendo de forma geral.Muitas vezes acarretada pela "ambição " de ser "alguém" na vida,mesmo que isso prejudique a terceiros,pode vir a acontecer nas famílias mais carentes pela falta de recursos para se estabilizar,vendo a "melhoria de vida" algo distante da sua realidade dentro dos meios legais.O governo deveria se atentar para mais oportunidades para os mais carentes e consequentemente diminuiria a violência no meio dos mesmos.

  9. Como o tema é bem abrangente e sendo a violência sendo motivada por n fatores, creio que não exista um único texto que explique todos os tipos e causadores de violência. Mas foi bem colocado no texto (superficialmente falando). Muito bem colocada a explicação e espero mais muito outros textos com temas … digamos assim….polêmicos ! um abraço Dyanara

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