Feliz dia dos professores; parabéns aos que lutam!

Por Roniel Sampaio Silva

 

Pra mim hoje é uma data como qualquer outra, 15 de outubro de uma data comemorativa qualquer. Mais um dos tantos dias de trabalho, labuta e sobretudo de luta. Neste dia só faria sentido se fosse uma data que boa parte dos docentes encampassem uma luta por uma educação melhor e não para ser um mero
desencargo de consciência no calendário.Apesar disso, agradeço imensamente meus alunos e amigos que me felicitaram nesta data pela consideração a minha pessoa nesta ocasião. Sou feliz com o trabalho que desenvolvo e é motivante saber que há pessoas de boa índole que o reconhecem.

Todavia, dia do professor para mim é só mais uma data qualquer assim como dia do índio, dia da mulher e dia do trabalhador quando não se tem reflexão crítica. É possível que essas datas tenham sido criadas com a finalidade de criar um espaço temporal com reconhecimento simbólico que não ocorre minimamente no universo material. Na mesma medida, a fala do professor “heroi” e que “trabalha por amor” é um discurso sorrateiro para camuflar a ideia desprofissionalizante da categoria.

Sempre fui muito defensivo quanto às datas comemorativas, sejam elas quais forem. Tenho a impressão de que muitas destas datas e feriados brasileiros servem, em certa medida,  tão somente para desviar o foco das pessoas em relação  às lutas uma vez que tais datas criam um discurso de memória do passado distante a fim de sublimar as lutas futuras.

Por curiosidade, pesquisei quais países os quais comemoram o tal “Dia do professor”. A maioria deles – por coincidência – são Estados nações cujo nome não aparece na lista dos que mais valorizam os profissionais da educação. Isso é um caso a se pensar…

Diariamente somos massacrados com trabalhos precarizados, desvalorização salarial, descaso e violências de todos os tipos. Ao contrário do que se pensa, o calendário está aí pra  marcar a ferro e fogo  desvalorização e não a desvalorização. Nos lugares em que se valorizam de fato a educação todo dia é dia do professor.

Por fim, apesar de agradecer tais felicitações sinto que não sou digno delas uma vez que não estou na rua lutando por uma educação melhor como tantos outros professores. Façamos dessa data não uma memória distante do passado pseudoglorioso, mas uma brado de esperança de lutas futuras, do contrário ela ficará presa para sempre no calendário e no universo do “simbólico” e não passará de uma exclamação infeliz e vazia.

Parabéns aos professores, sobretudo, os que lutam!

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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