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Mutirão: origem da palavra

O conceito de mutirão, em suas manifestações históricas e contemporâneas, apresenta uma notável diversidade e dinamismo. No entanto, predominantemente, pode ser definido como uma prática laboral que visa à construção, reabilitação ou renovação de unidades habitacionais (CALDEIRA, 1956).

De acordo com Cardoso e Abiko (1994), o processo de construção através do mutirão pode ser categorizado em três tipos fundamentais, com base na sua forma de gestão: (i) mutirão por gestão institucional ou administração direta, em que o poder público assume a administração do empreendimento, controla o projeto e contrata a assessoria técnica para gerir a obra e seus recursos financeiros; (ii) mutirão por cogestão, no qual o poder público repassa os recursos para as comunidades, que por sua vez contratam a assessoria técnica para planejar, dirigir, executar e administrar os recursos para as obras; e (iii) mutirão autogestionado, em que a própria comunidade, de forma coletiva, é responsável pela gestão das obras, incluindo a administração dos recursos financeiros a elas destinados.

A origem etimológica da palavra “mutirão” pode ser rastreada até a família linguística Tupi-Guarani, da palavra “motyrõ”, que significa “reunião para a colheita ou construção” ou simplesmente “trabalho em comum” (Carneiro, 1957). Embora a palavra tenha raízes indígenas, refletindo uma antiga tradição de trabalho coletivo solidário entre os povos originários da América, Caldeira (1956) observa que a prática do mutirão autogestionado é universal, sendo uma forma de apoio mútuo que pode ser observada em diversas comunidades ao longo da história. Pode ser compreendida como uma característica intrinsecamente humana que qualifica o sentimento de solidariedade entre os povos.

De acordo com a definição da Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1998, p.4136), o mutirão é um “sistema cooperativo alternativo em que os próprios participantes são os trabalhadores e beneficiários do produto final”. Esse sistema pode ser aplicado em várias situações, incluindo colheitas, plantios, construção de açudes e outras obras rurais, bem como na construção de moradias populares em ambientes urbanos, na coleta de lixo e em diversas outras atividades.

No Brasil, a origem do mutirão representa uma forma de ajuda mútua em que os trabalhadores rurais participavam de certa obra necessária a um dos membros da comunidade que, sozinho, não teria recursos e possibilidade de levar a cabo o empreendimento. Assim, todos reunidos, partilham da construção das obras necessárias a cada membro segundo certas regras definidas pela própria comunidade (Larousse , 1988, p.4137).

Neste contexto, é possível observar a evolução e a adaptabilidade do conceito de mutirão ao longo do tempo, demonstrando sua importância tanto como um método de construção colaborativo como um reflexo da solidariedade inerente à natureza humana. Através das diferentes modalidades de gestão, o mutirão continua a desempenhar um papel significativo na promoção da habitação e na construção de comunidades mais resilientes e coesas.

Referências:

CALDEIRA, Clóvis.  Mutirão: formas de ajuda mútua no meio rural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956.

CARNEIRO, Edson. A Sabedoria Popular. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1957.

CARDOSO, L. R. A.; ABIKO, A. K., Construção Habitacional por Mutirão: Gerenciamento e Custos. Boletim Técnico – Escola Politécnica da USP. Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/111, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1994.

GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural. Nova Cultural: Plural, 1998

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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