Tag: análise de conjuntura

A análise de conjuntura é uma técnica que tem como objetivo analisar o contexto histórico, político, social e econômico em que uma determinada situação se insere. Ela é utilizada por diversos profissionais, como jornalistas, cientistas políticos, economistas e sociólogos, para compreender os processos sociais, identificar tendências e projetar cenários futuros.

Para realizar uma análise de conjuntura, é preciso coletar e analisar dados sobre o contexto em que a situação está inserida. É importante identificar os principais atores envolvidos, as suas motivações, interesses e estratégias, bem como as dinâmicas de poder e as relações de força que se estabelecem.

Além disso, a análise de conjuntura deve levar em conta as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais que estão ocorrendo na sociedade. É fundamental considerar fatores como as mudanças demográficas, as inovações tecnológicas, os movimentos sociais, as crises econômicas e as mudanças no campo político.

Uma boa análise de conjuntura requer também a capacidade de interpretar os dados coletados e estabelecer relações entre eles. É preciso compreender as causas e consequências dos processos em curso, identificar os desafios e oportunidades que se apresentam e formular hipóteses sobre os possíveis desdobramentos da situação analisada.

Por fim, é importante destacar que a análise de conjuntura não é uma atividade neutra, mas sim influenciada pelas concepções políticas, ideológicas e valores do analista. Por isso, é fundamental que a análise seja realizada de forma ética e transparente, levando em conta as diferentes perspectivas e pontos de vista envolvidos na situação analisada.

  • Currículo Lattes: o apagão e o desmonte da ciência, tecnologia e inovação

    Currículo Lattes: o apagão e o desmonte da ciência, tecnologia e inovação

    O apagão do Currículo Lattes e o desmonte da ciência, tecnologia e inovação no Brasil

    Por Leonardo de Araújo e Mota

    Recentemente houve outro apagão da ciência no Brasil, quando caiu o sistema do currículo lattes na plataforma do CNPq, o qual não foi ainda reestabelecido enquanto escrevo essas linhas. O sistema de Currículo Lattes é um rico banco de dados de informações sobre a trajetória pessoal, profissional científica e tecnológica do Brasil com quase 5 milhões de currículos registrados desde seu lançamento em 1999 por meio da Plataforma Lattes na Internet, com imensa importância para o ingresso no mercado de trabalho e para quem pretende seguir carreira acadêmica. Na maioria dos casos ele serve de pré-requisito para candidatos que disputam bolsas de pesquisas, financiamento de projetos, concursos e outros tipos de processos seletivos. O Currículo Lattes registra o que se produz cientificamente em âmbito nacional auxiliando, de forma insubstituível, a gestão da Ciência, Tecnologia e Inovação do país.

    Leonardo
    Leonardo de Araújo e Mota
    Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
    Professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

     

    A percepção da população brasileira acerca do papel da ciência e tecnologia na sociedade na média é muito rasteira, quando não alheia ou preconceituosa. Ao contrário daqueles que defendem a ideia de que a ciência não passa de uma atividade meramente utilitária e que por isso deve ser financiada pelo capital privado, pois os agentes estatais possuem uma “ineficiência inata” em dirigir essa atividade – mesmo que os rankings das universidades atestem o contrário – os países desenvolvidos sempre tiveram aportes estatais no desenvolvimento de suas bases científicas e tecnológicas. Aqui os cortes são constantes.

     

    Durante a recessão que se seguiu logo após a crise de 2008, ao invés de reduzir os orçamentos destinados à ciência, tecnologia e inovação, países como os Estados Unidos e a China praticamente dobraram os investimentos estatais nesse setor, mesmo em cenários de restrições nas contas públicas. Na contramão dessa lógica, quando os efeitos da crise de 2008 se abateram sobre a economia brasileira no período de 2014-2015, o Ministério da Educação foi o mais atingido dos então 39 ministérios, com cortes de gastos equivalentes a R$ 7 bilhões de reais em 2015. Por outro lado, para gastos com a dívida pública, ou seja pagar dívidas junto ao sistema financeiro, foram reservados R$ 1,3 trilhão. Desde então, o arrocho em direção ao atraso e à ignorância tornou-se persistente. Em 2013, os recursos para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações chegou a superar os 11 bilhões de reais, caindo progressivamente para menos de 2 bilhões em 2021.

     

    No Brasil, o percentual de empresas que inovaram em produtos ou processos caiu de 36% em 2014 para 33,6% em 2017 em decorrência desse cenário desalentador. Bolsas de mestrado e doutorado para formar novos cientistas estão com seus valores congelados há anos e sofreram vários cortes. Já as bolsas de pós-doutorado, que permitem pesquisadores promissores engajar-se em grupos de pesquisa nacionais e internacionais que eram de 580 em 2018, caíram para 123 em 2021.

     

    gráfico redução recursos ciência no Brasil

    Para o sistema “não afundar de vez”, as Fundações Estaduais de Pesquisa tornaram-se protagonistas diante do recuo do governo federal. E a despeito dos cortes de recursos, os cientistas brasileiros ainda conseguiram manter um bom nível de produção científica, passando de 78 para 80,4 mil artigos científicos entre 2018 e 2019. O número de grupos de pesquisa aumentou 149% entre 2002 e 2016, tendo nesse período o contingente de pesquisadores com nível de doutorado aumentado em 278%. Mas que não se engane o leitor: tal desempenho tem o seu preço. Inúmeras pesquisas realizadas em universidades brasileiras entre estudantes de pós-graduação, professores e pesquisadores comprovaram um alto nível de adoecimento psíquico entre essas categorias. E pior: esse assunto é muitas vezes ocultado nas próprias Universidades e os professores que comunicam o seu sofrimento são aconselhados a “normalizar” suas emoções, posicionando-as como uma questão meramente individual, psiquiátrica ou jurídica.

    A educação não caminha sem a industrialização, a qual também é incapaz de modernizar-se sem investir em ciência, tecnologia e inovação. Nosso sistema ficou muito fragilizado com os sucessivos cortes de recursos. Na América do Norte, por sinal, sopram outros ventos…

    Não obstante a crise da pandemia, o recém eleito presidente Joe Biden anunciou um plano arrojado de incremento dos investimentos estatais em ciência e tecnologia nos Estados Unidos, revalorizando esse setor após a quebra dessa tradição pelo ex-presidente Donald Trump. Para o orçamento de 2022, Biden sinalizou um aumento de 20% de verbas para a National Science Foundation (NSF), principal agência de fomento da ciência do país. Um acordo bipartidário propõe ainda a criação de um departamento de tecnologia e inovação na NSF, com investimento de mais de US$ 100 bilhões nos próximos cinco anos em pesquisa básica e aplicada. Para os países desenvolvidos, historicamente o Estado assumiu os riscos do empreendedorismo para estimular a inovação, isso é fato corriqueiro.

    Enquanto as nações mais desenvolvidas não medem esforços em situar o Estado como agente estratégico no fomento da ciência e tecnologia, a miopia da maioria de nossos políticos condena nossos jovens a restringirem seus futuros a empregos precários, de baixa qualificação e produtividade muito aquém do que se poderia alcançar com uma política consistente e duradoura de industrialização vinculada à ciência, tecnologia e inovação. A ciência não serve apenas para construir foguetes espaciais. Cientistas sociais bem capacitados poderiam efetuar pesquisas junto à comunidades de várias regiões brasileiras e, identificando suas potencialidades, para criar políticas específicas de ciência, tecnologia e inovação que poderiam gerar bons retornos econômicos e sociais a partir da produção de diversos produtos tecnológicos de alto valor agregado.

    Um jovem brasileiro desfrutando de educação de qualidade e usufruindo do resultado de bons programas de ciência, tecnologia e inovação não viveria em contínua condição de precariedade material e existencial sendo coagido a viver sob a lógica da “uberização”, informalidade ou dependendo de empregos formais, porém insalubres e instáveis. Esse mesmo jovem poderia ser treinado para trabalhar em indústrias de alta tecnologia. Nosso problema não é incapacidade intelectual de nossa juventude, mas a ausência de estímulos concretos para que ela se desenvolva satisfatoriamente. É por isso que o Brasil tem sua história marcada por constantes crises econômicas, desigualdades e instabilidade política crônica.

    Uma nação que trata mal os seus cientistas não está apenas sendo injusta com uma categoria em detrimento de outra. Muitas pesquisas no Brasil são abortadas em sua melhor fase em decorrência da instabilidade nos orçamentos, muitos são os esforços desperdiçados. Nos países desenvolvidos é seguro dar continuidade a uma pesquisa por décadas em virtude da estabilidade de verbas de financiamento. No Brasil, por sua vez, as instituições científicas são muitas vezes desacreditadas por muitos gestores públicos que não lhes proporcionam as mínimas condições para o seu funcionamento.

    Atualmente tornou-se rotineiro em nosso país um museu ou laboratório incendiar-se em decorrência da ausência de mínimos cuidados com equipamentos de prevenção a incêndios. O apagão da plataforma do Currículo Lattes é apenas mais um desses lamentáveis episódios. A ciência não pode ser vista como algo estranho à sociedade ou uma prática elitista. Essa interpretação é consequência da falência de nosso sistema educacional como um todo. A perpetuação da ignorância costuma ser muito útil aos demagogos, por isso é sempre ficar atento antes que a última luz se apague.

  • Austericídio: mais reformas à vista, rumo à barbárie total!!

    Austericídio: mais reformas à vista, rumo à barbárie total!!

    Austericídio: O Brasil em queda-livre e o aprofundamento das reformas*

     

    Antes de tudo você deve estar se perguntando o que é austericídio. Este termo se deve às políticas de austeridade fiscal radicalizadas por políticas neoliberais que visam criar uma situação de falta de investimento do Estado que não apenas compromete educação, saúde e demais serviços públicos, mas também congela o crescimento econômico. A resposta das políticas de austeridade são: queda da arrecadação que necessariamente criam uma situação econômica ainda menos favorável que legitima o aprofundamento das políticas de austeridade, gerando uma espiral descendente que vai minando qualquer iniciativa de equalização oriunda do Estado.

    Nos últimos cinco anos a classe trabalhadora no Brasil, tem sido posta à prova, submetida a tal nível de tensionamento, que se se tratasse de uma sociedade com nível civilizatório mais elevado, poderia seguramente resultar em maior confronto, digo, maior avanço através da luta efetiva contra a destruição dos direitos sociais duramente conquistados ao longo de décadas. Devemos lutar contra o austericídio e assumir que a apatia dos movimentos populares, sejam sindicais, partidários, populares e a polarização entre diferentes projetos de sociedade não foram capazes de evitar a realização das contrarreformas trabalhistas e a genocida reforma financeira que impõe o Teto dos Gastos Públicos (Emenda Constitucional nº 95), cujo resultado imediato foi o aprofundamento do fosso da divisão de classes, a concentração da renda e à precarização do trabalho e por consequência o empobrecimento dos trabalhadores. Isso é visível nas ruas das cidades, pelo constante aumento da população vivendo nas ruas, pelo aumento exponencial do trabalho infantil e pelo aprofundamento do fenômeno conhecido como “uberização” do trabalhador, produto direto das contrarreformas trabalhistas,  as quais retiraram direitos históricos e colocaram os trabalhadores em condição de extrema fragilidade na sua relação com seus empregadores, muitos dos quais nem mais existem como figura jurídica. Contexto também responsável pela transformação dos trabalhadores em pseudos “empreendedores”, seja dirigindo um veículo por aplicativo ou entregando comida com uma bicicleta alugada, sem qualquer direito ou garantia em relação ao futuro imediato ou no longo prazo.

    A eclosão da trágica crise humanitária causada pela Pandemia da Covid19, se constituiu em grande oportunidade para os grandes capitalistas aumentar ainda mais o nível de espoliação sobre o trabalhador, seja pela adoção do trabalho remoto, redundando no enxugamento do quadro de pessoal, seja pelo aumento vertiginoso dos lucros do setor da saúde privada, dos banqueiros, grandes redes atacadistas, inclusive pela elevação do preço dos alimentos, dentre outros. Também não é exagero constatar que o isolamento social – extremamente necessário do ponto de vista sanitário, não foi uma realidade para aos grupos mais empobrecidos, obrigados a continuar se expondo ao risco diário da infecção pelo novo coronavírus, afinal, para quem padece do trabalho precário, que via de regra é o provedor de sua família, não resta alternativa: melhor correr o risco de tombar pelo vírus que pela fome. É quando a sobrevivência se impõe.

    Próximos de alcançar a cifra de 250.000 (duzentos e cinquenta mil) mortos pela Covid-19, deparamo-nos agora de imediato, com a ameaça real do avanço das contrarreformas que visam de imediato reduzir a contraprestação do Estado no que diz respeito aos serviços sociais. A eleição das novas mesas diretoras da Câmara Federal e do Senado – resultando diretamente de um dado tipo de Pedalada Fiscal – nesse caso troca de votos por Emendas Parlamentares junto ao chamado Centrão, alterou a correlação de forças do Governo Federal, tornando muito mais viável a aprovação de matérias do interesse do executivo. É aqui que o quadro muda de grave para gravíssimo. Dentre as prioridades já publicizadas pelo Governo em pleno acordo com o Poder Legislativo, constam pelo menos três medidas estruturantes que se aprovadas, farão com que o movimento de aprofundamento da pobreza e da destruição do que restou do Estado Social, a exemplo do SUS e da Educação Pública, alcance inclusive setores denominados como classe média.

    É o que consta da Proposta de austericídio de Emenda à Constituição – PEC 186, também conhecida como PEC emergencial, cujo principal objetivo é reduzir em até 25% o salário dos servidores públicos de todos os poderes, com realce para os Governos Federal, Estaduais e Municipais, congelar os salários, impedir progressões na carreira e a realização de novos concursos públicos. Como contrapartida a PEC promete reduzir em 25% a jornada do servidor público, que para além de agredir diretamente esses servidores, aumenta drasticamente o sofrimento de quem depende dos serviços públicos, como a assistência social, serviços de saúde e educação.

    A PEC 32/2020, articulada à anterior, prevê o fim da estabilidade dos servidores públicos. Trata-se de um grande golpe contra a boa prestação de serviços à população. O texto da proposta de austericídio, indica que apenas as chamadas “Carreiras de Estado” continuarão a desfrutar do direito à estabilidade. Na prática, os concursos públicos ficarão muitíssimo restritos e o serviço público se tornará um verdadeiro cabide de emprego para apadrinhados políticos. Com isso é evidente a consequente perda de dimensão e de qualidade do serviço prestado aos cidadãos. Áreas como a Assistência Social, Saúde e Educação seguramente serão drasticamente afetadas, caso a reforma seja aprovada.

    No dia 10 deste mês a Câmara Federal aprovou o Projeto de Lei nº 19/2019, que concede autonomia ao Banco Central do Brasil, instituição responsável pela política monetária do país. Isso significa basicamente que o governo vai transferir do campo da política para o campo da “gestão financeira” parte da política macroeconômica do Estado. Ou seja, o próprio governo abdica de sua autonomia diante dos desafios que são postos pelas diferentes conjunturas, deixando um dos seus principais instrumentos de manobra nas mãos do Mercado Financeiro, portanto, aprofundando o austericídio.

    Estes são apenas alguns dos projetos que muito provavelmente serão pautados na Câmara e no Senado da República. Todos eles estão articulados entre si, mas principalmente buscam ajustar o gasto público aos ditames da infame Emenda Constitucional nº 95/2016 que congela os gastos sociais do governo durante 20 (vinte) anos, com o fito propósito de fazer superavit fiscal primário voltado ao pagamento de juros e serviços da dívida pública, algo que não encontra precedente na   história republicana brasileira. É a restrição brutal dos direitos sociais para as massas populares, transformando-os em mercadorias às quais apenas uma pequena parcela terá acesso, comprando-os no mercado. De fato trata-se de uma perigosa aproximação com a barbárie total, dado que oficialmente cerca de 14% da população está desempregada e outros milhões desenvolvendo trabalhos precários ou subempregados, os quais não conseguem com seus míseros rendimentos, mais do que sobreviver penosamente.

    Caso a classe trabalhadora não consiga reagir a tal ataque de um governo ultraneoliberal de contornos fascistas, o que temos no horizonte é, primeiramente o enfraquecimento das nossas já combalidas liberdades democráticas presentes na Constituição de 1988, bem como o brutal aumento da desigualdade e da violência policial contra os excluídos desse sistema – principalmente a nossa juventude pobre e negra, num país no qual os marginalizados da riqueza social são totalmente descartáveis, e alvos de uma política genocida, que elimina fisicamente seja pelo aparato repressivo, seja pelo negacionismo, de uma lógica perversa em que a pandemia, ao eliminar os mais fracos e dependentes  da assistência do Estado, favorece as estatísticas da previdência social em benefício do capital especulativo e fatalmente alimentando o austericídio.

    Fontes consultadas:

    https://www.camara.leg.br/noticias/690350-pec-muda-regras-para-futuros-servidores-e-altera-organizacao-da-administracao-publica/

    https://www.sintrajud.org.br/aprovacao-da-pec-186-deixara-milhoes-de-processos-sem-solucao-e-reduzira-arrecadacao-fiscal/

    https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/zeina-latif-reforma-administrativa-nao-pode-vilanizar/

    josue ifg

    *Josué Vidal Pereira, é professor efetivo do Instituto Federal de Goiás.