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Cultura surda: alguns apontamentos

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A cultura surda é um tema relevante para a educação e para a sociedade como um todo, pois envolve uma comunidade de pessoas que possuem uma língua e uma identidade cultural próprias. Esse conceito de é fundamental para a compreensão da identidade, da linguagem e da comunicação das pessoas surdas. Ela é visual-espacial, baseada na língua de sinais, que envolve uma série de práticas, valores, crenças e comportamentos compartilhados por pessoas que são surdas ou que têm conexões com essa comunidade. Neste texto, discutiremos tal conceito , suas características e importância, com base em autores como Lodenir Becker Karnopp (2004), Ronice Müller de Quadros (1997) e Tom Humphries (1996).

O que é cultura surda?

Tal cultura é um conjunto de valores, crenças, comportamentos, tradições e conhecimentos compartilhados por pessoas surdas que utilizam uma língua de sinais como principal meio de comunicação. Segundo Karnopp (2004), ela  é caracterizada por uma forte identidade coletiva, baseada em uma língua visual-espacial, e por uma história de opressão e luta por reconhecimento e respeito. De acordo com Karnopp (2004), Ela é minoritária que se desenvolveu historicamente como resposta à opressão e à marginalização das pessoas surdas na sociedade ouvinte. A cultura surda é baseada na língua de sinais, que é uma língua natural e completa, com gramática e estrutura próprias, e que é visual-espacial, ou seja, utiliza gestos, expressões faciais e corporais para transmitir significados. A língua de sinais é a principal forma de comunicação das pessoas surdas e é um elemento central, já que é por meio dela que as pessoas surdas constroem significados, estabelecem relações e expressam sua identidade.

Quadros (1997) destaca que a cultura surda não se restringe apenas à deficiência auditiva, mas abrange uma forma particular de vivenciar o mundo, de se relacionar com os outros e de construir significados. A autora enfatiza a importância da língua de sinais para a cultura surda, pois é por meio dela que as pessoas surdas têm acesso ao conhecimento e à comunicação. Quadros (1997) destaca que a cultura surda é bicultural, ou seja, envolve a convivência e a interação entre duas culturas distintas: a cultura surda e ouvinte. A educação bilíngue e bicultural é fundamental para o desenvolvimento das pessoas surdas, já que permite que elas tenham acesso à língua de sinais desde cedo e que possam se desenvolver em um ambiente que valoriza a cultura surda e respeita suas diferenças. Além disso, a educação bilíngue e bicultural contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa, que reconhece a diversidade linguística e cultural presente em nosso país.

Humphries (1996) enfatiza que a cultura surda não deve ser vista como uma versão deficiente da cultura ouvinte, mas como uma cultura legítima e autônoma, com suas próprias normas, valores e expressões artísticas. O autor destaca que a cultura surda é uma cultura visual, que valoriza a expressão corporal, a criatividade e a imaginação. Humphries (1996) ressalta que a cultura surda é caracterizada por uma série de valores e comportamentos compartilhados por suas membros. Entre esses valores, podemos destacar a comunidade, a solidariedade, a autodeterminação e o orgulho surdo. A comunidade surda é um elemento central da cultura, já que permite que as pessoas surdas se sintam acolhidas e respeitadas em um ambiente que valoriza suas diferenças. A solidariedade é outra característica importante da cultura surda, já que as pessoas surdas muitas vezes enfrentam desafios e preconceitos na sociedade ouvinte, e precisam se apoiar mutuamente para enfrentá-los. A autodeterminação é outro valor importante da cultura surda, já que as pessoas surdas precisam lutar pelos seus direitos e pela valorização de sua cultura e identidade. Finalmente, o orgulho surdo é um valor que se relaciona com a valorização da identidade e desse campo cultural, e que se manifesta em diversos comportamentos e práticas culturais.

É importante ressaltar que a cultura surda é ainda pouco conhecida e valorizada pela sociedade como um todo, o que pode levar a preconceitos e discriminações. Karnopp (2004) destaca que é importante que a sociedade ouvinte reconheça e respeite a cultura surda como uma cultura legítima e valiosa, e que se esforce para promover a inclusão e o respeito às diferenças. Isso passa por medidas como a valorização da língua de sinais, a inclusão de intérpretes de língua de sinais em eventos públicos, a promoção de políticas educacionais bilíngues e biculturais, e a adoção de medidas de acessibilidade que garantam a inclusão das pessoas surdas em diversos espaços sociais.

A importância da cultura surda para a educação

Ela  é fundamental para a educação de pessoas surdas, pois é por meio dela que os surdos podem desenvolver uma identidade positiva e uma autoestima saudável. Karnopp (2004) enfatiza que a educação de surdos deve ser bilíngue e bicultural, ou seja, deve contemplar tanto a língua de sinais quanto a língua oral da comunidade ouvinte, e valorizar a cultura surda como um patrimônio cultural importante. Quadros (1997) destaca que a educação bilíngue e bicultural de surdos contribui para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das pessoas surdas, ao mesmo tempo em que valoriza a diversidade cultural e linguística. A autora enfatiza que a escola deve ser um espaço inclusivo, onde as pessoas surdas se sintam acolhidas e respeitadas em sua diferença. Humphries (1996) destaca que a educação de surdos deve ser pautada por uma abordagem pedagógica que valorize a criatividade, a imaginação e a expressão corporal, que são características da cultura surda. O autor enfatiza que a escola deve ser um espaço de valorização da identidade surda, onde as pessoas surdas possam se expressar livremente e desenvolver seu potencial criativo.

Em síntese, a cultura surda é um elemento fundamental da identidade e da comunicação das pessoas surdas, e envolve uma série de práticas, valores e comportamentos compartilhados por essa comunidade. A língua de sinais é um elemento central, já que é por meio dela que as pessoas surdas constroem significados e expressam sua identidade. A educação bilíngue e bicultural é fundamental para o desenvolvimento das pessoas surdas e para a promoção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. Por fim, é importante que a sociedade ouvinte reconheça e valorize a cultura surda como uma legítima e valiosa, e se esforce para promover a inclusão e o respeito às diferenças.

Referências:

KARNOPP, Lodenir Becker. A cultura surda na contemporaneidade. Revista Diálogos Possíveis, v. 3, n. 1, 2004.

QUADROS, Ronice Müller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa: novos perfis e atuação. Secretaria de Educação Especial, 1997.

HUMPHRIES, Tom. Compreendendo a cultura surda. Artmed, 1996.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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