Privatização: lucros individuais, prejuízos coletivos
Por Roniel Sampaio Silva
É interessante destacar a lógica da grande mídia em dois contextos-chave e correlacioná-la ao legado teórico da análise do economista brasileiro Celso Furtado quanto à abordagem no que tange ao lucro e ao prejuízo. Citarei duas situações para ilustrar o caso.
No 1º momento
Empresas de ônibus aumentam a tarifa abusivamente. Nenhuma notícia é veiculada. O prejuízo público é absurdo. Diminui-se o poder de compra do trabalhador, aumenta a poluição, aumenta o número de carros, o número de acidentes e inflação. Os principais prejudicados são a coletividade.
No 2º momento
Deflagração de greves e passeatas e mobilizações decorrentes deste aumento.
Notícias exaustivas sobre o caso: “Empresas chegam a ter prejuízos de 1 milhão por conta da greve/manifestação”. (Quando o prejuízo é do povo a cifra é sequer contabilizada.) Além disso, outras chamadas: “Vândalos atuam em manifestações”; Comentários: “cadê o direito de ir e vir do cidadão de bem”. E quase sempre se entrevista motoristas furiosos presos no trâsito.
Por que não filmam os motoristas presos no trânsito em decorrência da precalização do transporte público e apontam a raiz do problema?
Em suma, quando o prejuízo é coletivo o fato é irrelevante. Quando o prejuízo é da propriedade privada particular, sobretudo dos altos escalões do empresariado, a mídia constroi o discurso do “inadimissível”.
Toda essa contradição nos faz lembrar do legado da obra “Formação econômica do Brasil” de Celso Furtado na qual se resume à máxima: “Lucros individuais, prejuízos coletivos”.