Por Roniel Sampaio Silva
Em Teresina o assunto da ordem do dia é a profecia do morador do Parque Universitário que se diz mensageiro de Deus. A imprensa local e os citadinos têm procurado ultimamente oxigenar as conversas se referindo ao caso, no mínimo, curioso. É comum a crítica ao sujeito, responsabilizando-o individualmente pelo episódio.
O discurso generalizado é voltado a adjetivá-lo de fanático religioso, maluco ou desocupado. Uma indagação parece ser necessária para a compreensão da situação: Por que o “profeta” tem tamanha adesão? Por que justamente o palco do é o bairro Parque Universitário? Tal fato não deve ser visto compreendido tendo como foco apenas as “profetadas”.
A situação pode ser o ápice dos resultados regrados pelo abandonado do local pelas autoridades, as quais têm se organizado de forma velada em torno de um paupericídio. Isso mesmo, um massacre de pessoas sem oportunidade, sem renda e sem escolaridade, as quais se
viram obrigadas a invadir terras da União para que pudessem ter onde morar.
viram obrigadas a invadir terras da União para que pudessem ter onde morar.
É possível fazer uma releitura desse fato destacando semelhanças com o caso Canudos. O Senhor Luís Pereira, profeta do Parque Universitário representa uma situação sintomática no bairro. Faltam ali políticas públicas: falta iluminação pública; falta água quase todos os dias em horário programado. Será que seria para que os moradores das áreas nobres adjacentes possam encher suas piscinas? Talvez seja.
O local abriga um nicho de consumo de drogas e de violência. Boa parte dos jovens não tem oportunidade de trabalho e acabam entrando no mundo das drogas. E sabem o porquê isso não vai ser feito? A suspeita é que seja propositalmente para que tais jovens ingressem na criminalidade e acabem matando uns aos outros. Assim suas mães, desesperadas, teriam que vender suas casas para especuladores de plantão.
O bairro existe desde 2004 e nunca houve regularização efetiva. Apenas promessas de campanhas. A gestão pública municipal, seja a anterior ou a atual, ainda não chegou a um acordo efetivo com União a fim de garantir o direito de propriedade das milhares de família que moram no local. O que houve foram meras ações eleitoreiras a fim de garantir votos. Várias autoridades procuram o bairro em época de campanha e depois simplesmente desaparecem.
Desta maneira é possível concluir que o, “Antônio conselheiro do Parque Universitário” pode até ser um desvairado, mas leva toda culpa que não é sua. O Canudos de Teresina é um lugar tão abandonado quanto o Canudos de Conselheiro, isso para que um grupo privilegiado “tire” votos dos desesperados e para que outro grupo se aproprie das terras que hora está sendo ocupada por um “bando” de moradores, cuja dignidade tem sido paulatinamente negada pelas autoridades. Seguramente a profecia acontece desde 2004 e o profeta chegou atrasado. O mundo daqueles dos moradores mais pobres daquele bairro parece ter já acabado há muito tempo. O mais curioso é que a data do fim do mundo, revelada pelo Antônio Conselheiro de Parque Universitário, está marcada para o dia das crianças. Simbolicamente o mundo termina quando as crianças dali já não têm oportunidade.