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O mundo ainda não acabou, nós é que acabamos

O mundo ainda não acabou, nós é que acabamos

Estamos diante de uma série de fatos históricos: guerras, ingerências econômicas, desigualdades sociais, hecatombes ambientais. Os telejornais me dizem que o mundo vai acabar nas próximas décadas e a mídia instalou um grande relógio do juízo final. Todos nós olhamos para ele e, ocasionalmente, nos distraímos com os bobos das cortes das redes sociais.

Por Roniel Sampaio-Silva

Uma parte dos intelectuais diz que a história acabou e que não há nada mais a se fazer. Eles dizem que não há alternativa e que a história humana está no fim da linaha. Criticam a materialidade e o determinismo de tal fim enquanto devaneiam acerca dos detalhes do Ragnarok. Suas etnografias fatalistas são cheias de adjetivos “metatransbiônicos”. Suas omissões são pautadas ou no idealismo delirante ou em uma indiferença idealista de uma ciência supostamente neutra. Pois eu lhes digo, a história não acabou e tampouco o mundo, ainda.

O mundo ainda não acabou. Nós é que acabamos.

Nós acabamos enquanto projeto civilizatório porque o nosso modo econômico e de vida não é –  e nunca foi – compatível com a civilização. Muitos dos modelos civilizatórios sucumbiram diante dos incontáveis genocídios. O veneno foi apresentado como remédio. Nós falhamos miseravelmente e ainda temos chance de correção, embora o mundo tente dizer que não temos alternativa. O capital segue impune enquanto uma dúzia de bilionários brincam de roleta russa com o mundo cujas apostagem dobram dia após dia. Essa dúzia de pessoas rifam vidas com tragédias as quais poderiam ser evitadas.  Tais pessoas promovem fome,  guerra e desigualdade. Eles inspiram os burocratas, que por sua vez, se regozijam com o aumento da produtividade e ritmo da nossa própria destruição. O sentido teleológico do mundo tem sido “caminhar para a autodestruição”. Estes burocratas amolam os chicotes para se certificar que todos acelerem rumo ao precipício. Os burocratas ignoram o abismo para o qual estamos correndo, todavia se extasiam com  gráficos da velocidade, aceleração e rimo dos passos rumo ao desfiladeiro do fim.

Esta humanidade acabou, precisamos inventar uma nova

A humanidade deixou de sonhar. Precisamos inventar uma humanidade que sonhe, que acredite em um mundo melhor. Que faça dessa crença um horizonte para mudar radicalmente o modo que vivemos.  Resgatemos a diversidade de civilizações exterminadas. Elas nos dão  pistas de como agir. Quem sabe assim, temos teremos alguma chance de protelar o juízo final para pensar melhor no rumo que devemos tomar enquanto espécie. Precisamos resgatar urgentemente uma humanidade que partilhe coletivamente das conquistas materiais e imateriais da humanidade, que emancipe o trabalho, que incentive o ócio e a criatividade, que conviva de forma respeitosa com a natureza porque percebe que faz parte dela. Quero dizer a você que não você não está sozinho e que estamos trabalhando na construção dessa nova humanidade. O mundo não acabou, nós acabamos e estamos criando uma nova humanidade.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

5 Comments

  1. Excelente reflexão, Roniel! Eu pergunto,: será que matamos as utopias? Eu sempre digo que não são as utopias nos meus sonhos, mas os sonhos nas minhas utopias que me fazem acreditar nessa possibilidade de realizar um mundo melhor.

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