A democracia é um tema que desperta paixão, debate e desafio. Mas afinal, o que é democracia? Inicialmente, precisamos não apenas ampliar o escopo e o conceito, mas também dividi-lo em elementos que possam ser melhor compreendidos.
Por Roniel Sampaio Silva
Desta forma, pode ser simplificado como um conjunto de normas teoricamente definidas como procedimentos para a realização de decisões conjuntas desde que haja espaço para o contraditório, ampla defesa, liberdade de expressão e ação, bem como, o direito a ser oposição política. Contudo, essa definição, por mais que Bobbio seja sofisticado, ainda é muito limitado dado à complexidade dimensional cujo universo complexo e fascinante que vale a pena explorar. Essas decisões podem ser tomadas em diferentes momentos e lugares, independentemente se estão relacionados ou não a um determinado tempo. Portanto, o que de fato existe é a democracia que segundo o autor se caracteriza da seguinte forma, recaptuladamente:
“A democracia é um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados.” (Bobbio, 2000, p. 14)
Na prática da economia politizada, a democracia volta a se afirmar: sua base, a expectativa que todos dispõem de algum dominado invisível sem autoridade, precisa tornar-se elemento público. Com a Ágora ateniense, que era em espaço, onde as mulheres não estavam e os ferramentas se moviam e faziam a política, no entanto é desejado o ambiente onde todos os tantos quanto possível pudessem precisar. Ao contrário das praças atenienses que excluíam mulheres, escravos, e estrangeiros, estes visam ser mais inclusivos e sim a adesão plena é critica para a sobrevivência. Portanto, é preciso convir que a democracia está em movimento e em constante aperfeiçoamento. Ela não é apenas um dispositivo de exclusão e legitimação política, como na democracia burguesa, ela é plural e emgloba várias dimensões não apenas relativo ao processo de produção política, mas também diz respeito à partilha de recursos, serviços e meios de produção para garantir da produção e reprodução da vida material.
Uma das forças centrais da democracia é a sua capacidade de lidar com as diferenças. Essa capacidade se encontra em três pilares:
Tolerância: Em um sistema democrático, mesmo as vozes minoritárias são respeitadas e suas opiniões e crenças vêm sendo aos poucos aceitas. Essa tolerância é o alicerce para a convivência em uma sociedade devotada a ser plural, respeitando os direitos das minorias.
Resolução dos conflitos de forma menos violenta ou sangrenta: O sistema democrático viabiliza que as mudanças dos governantes seja feita sem que seja necessário o uso da violência, essa acontece através da realização de eleições democráticas e justas. Esse é um mecanismo que estimula a harmonização da sociedade e a estabilidade política.
Renovação paulatina da sociedade: As ideias podem ser questionadas, adaptadas e melhoradas a partir do debate público.
Apesar das suas vantagens, a democracia enfrenta sérios desafios. Os mais patentes são:
Poderes invisíveis: Mesmo em governos democráticos, existe a influência de lobbies, interesses privados e poderes ocultos que podem distorcer as decisões públicas. Estes factores minam a transparência e a confiança no sistema.
Apatia política: Muitos cidadãos não estão motivados ou preparados para participar activamente na vida política. A falta de educação para a cidadania agrava este problema, criando um fosso entre as instituições e o público.
Burocracia e baixo rendimento: O crescimento da burocracia tem tornar a resposta do poder público lenta, frustrando os cidadãos que esperam uma resposta rápida.
Esses desafios são intransponíveis os quais requerem um compromisso coletivo.
Ao contrário dos sistemas autoritários, as democracias podem identificar e corrigir sueus próprios erros. Esse fato tem sinalizado para um otimismo de que haverá sempre uma melhora contínua.
Para garantir tal melhoria, precisamos ampliar a participação política, pressionando o Estado em diversos espaços tais como escolas, locais de trabalho e movimentos sociais.
Nese sentido, a educação política desempenha um papel importante neste processo. Isto não só informa os cidadãos, mas também cria cidadãos conscientes que compreendem a importância do seu papel na democracia. As tecnologias digitais também oferecem novas oportunidades para envolver os cidadãos, promover o debate e monitorizar as instituições de formas mais acessíveis e eficazes.
A democracia direta e a democracia representativa são frequentemente consideradas sistemas opostos. Contudo, podem e devem ser complementares. A democracia direta permite que os cidadãos tomem decisões sobre questões específicas, e a democracia representativa garante que as necessidades complexas da sociedade sejam geridas no dia-a-dia.
Um exemplo claro é o uso de referendos e referendos para envolver diretamente o público em questões importantes. Desempenhar funções legislativas e executivas. Esta combinação torna o sistema mais inclusivo e receptivo às necessidades das pessoas.
É importante lembrar que a democracia não exige consentimento unânime. Pelo contrário, o oposto é importante. A existência de minorias dissidentes é vital para uma democracia saudável. Ao debater e comparar ideias, podemos tomar melhores decisões que se baseiem e representem verdadeiramente os nossos interesses comuns.
Este aspecto também destaca a importância da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa como pilares da democracia. Sem estes elementos, o debate é limitado e o risco de autoritarismo aumenta.
Finalmente, a democracia é o Estado de direito definitivo.Isto significa que as regras do jogo são claras e respeitadas por todos, independentemente de estatuto ou influência. A igualdade perante a lei garante justiça e estabilidade no sistema.
Num bom governo democrático, a lei não é apenas uma ferramenta de governação, mas também uma ferramenta para proteger os direitos dos cidadãos. Esta relação de respeito mútuo entre governantes e governados é o que torna a democracia um sistema único e desejável.
Bobbio traz algumas reflexões sobre como a democracia funciona, como deve funcionar e quais dispositivos precisam ser aperfeiçoados. O autor italiano dedicou-se profundamente aos estudos das instituições políticas e cabe uma leitura minuciosa dos seus textos para um maior aprofundamento. É necessário definir conceitualmente e analisar critamente as dimensões da democracia para que seja possível viver em uma sociedade mais participativa, plural, inclusiva e, acima de tudo, democrática.
Bobbio, Norberto. O futuro da democracia (uma defesa das regras do jogo). Trad. Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986. 171 p.
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