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Globalização: para além da mera ideia de um mundo interligado, de trocas e intercâmbios culturais

Globalização: para além da mera ideia de um mundo interligado, de trocas e intercâmbios culturais

Por Cristiano das Neves Bodart
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A globalização é um fenômeno que marca nosso tempo. Isso é indiscutível. Discutível é o termo usado para designar esse fenômeno.
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Ao usarmos a expressão “globalização” ou “aldeia global” estamos fazendo alusão à ideia de que o mundo tornou-se menor, seus cantos mais acessíveis e marcados por trocas de bens materiais e imateriais em um fluxo nunca visto antes; assim como idealizamos que os países se influenciam mutualmente. Em parte isso é verdadeiro. Digo em parte porque a ideia de que existe uma troca entre as nações é um tanto exagerada. O que existe, em muitos casos, é uma imposição da cultura ocidental sobre os demais países do mundo.
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Como destacou Milton Santos:

Apenas os atores hegemônicos se servem de todas as redes e se utilizam de todos os territórios. Mas o espaço reticular é o de sua eleição. Eis por que os territórios nacionais se transformam num espaço nacional da economia internacional e os sistemas de engenharia mais modernos criados em cada país são mais bem utilizados por firmas transnacionais que pela própria sociedade nacional (SANTOS, 1999, p 15).

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Por isso a expressão “ocidentalização do mundo” utilizada por Serge Latouche, em 1989, na obra “L’occodentalisation du Monde”.
O conceito de “Ocidentalização do Mundo” desenvolvida por Latouche (1989) nos fornece caminhos interpretativos do fenômeno que recorrentemente chamamos de globalização. Para Latouche (e nisso estamos de acordo), o que existe é uma imposição da cultura europeia sobre as demais regiões do globo; fenômeno que teve origem ainda nas primeiras Cruzadas, no século XI, sendo ampliada nos séculos XV e XVI, com as Grande Navegações – que culminaram com a descoberta de novas terras – e aprofundada no final do século XX, sendo agora chamada de Globalização.
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Tanto nas Cruzadas, nas Grandes Navegações, quanto no fenômeno conhecido como globalização, o que observamos é uma imposição de hábitos culturais e não uma troca simétrica. É certo que no contato como outros grupos sociais acabamos sendo, em alguma medida, influenciados por esses. Alguns hábitos dos índios americanos certamente foram incorporados pelos europeus, porém não tão claramente como no sentido contrário. No caso dos índios americanos, quase todos passaram pelo processo de aculturação, caracterizado pela imposição de uma nova cultura: a europeia.
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Atualmente, o processo de aculturação continua em curso. À todo tempo somos influenciados pela cultura europeia – muitas vezes via Estados Unidos da América. Bastamos olhar para as últimas tendências da moda. O quanto o Camboja influencia a cultura francesa? E o inverso? Temos uma troca de hábitos culturais ou trata-se de um caminho quase que de mão-única?
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Frente a essa atual tendência de aculturação constantes, sobretudo nos hábitos culturais, nos vêm a pergunta: por que isso ocorre? Uma palavra me parece bastante completa para tal indagação: poder. Outrora, poder religioso e, posteriormente, poder econômico. Em tempos de globalização, a aculturação, ou padronização da cultura acaba padronizando, igualmente, os hábitos de consumo. Uma vez o consumo padronizado, torna-se possível as grandes empresas venderam seus produtos para todos os cantos do mundo, obtendo de forma mais fácil e eficiente poder econômico .

 

Com o advento do capitalismo e sua busca pela maximização do lucro, o objetivo dos “homens poderosos” passou a ser a ampliação dos lucros, o que se dá via ampliação do mercado consumidor. Em um mundo “mais igual” é muito mais fácil e barato ofertar os seus produtos por todos os cantos do mundo. Os benefícios da globalização, tais como a facilidade de deslocamento de passageiros e a maior informação é uma realidade, mas sobretudo de mercadorias.

O fenômeno está ai. Resta-nos compreende-lo para além da mera ideia de um mundo interligado, de trocas e intercâmbios culturais. Não há troca simétrica, o que temos é a imposição de certos valores sobre outros.

Referências Bibliográficas

LATOUCHE, S. L’Occidentalization du Monde. Paris: Éditions La Découverte, 1989.

SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. Geographia, UFF, Programa de Pós-graduação em Geografia, Niterói, 1 (1), p. 7-13, 1999.

Como citar esse texto:
BODART, Cristiano das Neves. Globalização: para além da mera ideia de um mundo interligado, de trocas e intercâmbios culturais. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em: endereço aqui. Acesso em: dia, mês, ano. 

 

Dica de documentário

 Documentário: “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá”

Cineasta: Sílvio Tendler

O documentário discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias.

Duração: 1h.29s

Dica de atividade pedagógica 

Solicite que os/as estudantes façam um levantamento em suas casas das origens dos produtos que consomem, observando os:

  1. Alimentos;
  2. Eletrodomésticos;
  3. Roupas e sapatos/tênis;
  4. Meios de transportes (carro ou/e bicicletas);
  5. Ferramentas;
  6. Eletrônicos e;
  7. Programas e aplicativos (App) de celular/computador.

 

Use o quadro a seguir para organizar os dados:

Produto Marca/Fábrica País de origem de fabricação

 

 

Realizado o levantamento, oriente na criação de um ranking (o que pode ser na aula, escrevendo na lousa) a partir da necessidade de tecnologia utilizados na produção, como na tabela a seguir. Feito o levantamento, discuta com os/as estudantes se os primeiros lugares ficaram os países “mais desenvolvidos” ou “menos desenvolvidos” e quais as explicações dessa situação.

Ranking Produto País de origem de fabricação

 

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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