Preconceito Linguístico: Uma perspectiva sociológica
Por Beatriz Regina Guimarães.**
O preconceito linguístico, cuja origem é remota, uma vez que as variações de cada idioma têm dado margem para a distinção intelectual e de classe há tempos, continua ainda mais presente nos dias de hoje. Com a internet, a língua escrita fica muito mais evidente, o que acaba por reforçar certas distinções.
Afinal, não são raras as situações nas quais um amigo comenta ter considerado menos uma pessoa por ela ter escrito “jesto” ao invés de “gesto”, ou ter escrito sem a concordância verbal da norma culta, o que destoa das típicas variações consideradas toleráveis no idioma da internet, como, por exemplo, as abreviações “vc”, uso de “h” após vogais para indicar acentuação na sílaba final de palavras ou abreviações.
Sintoma ainda maior desse processo se percebe por uma das figuras virtuais bem conhecidas: o grammar nazi. É aquele que, em postagens alheias, seja na rede social que for, aparece apenas para corrigir o português dos outros, ou, em meio aos seus comentários, faz questão de evidenciar o erro do outro. Autoafirmação do próprio conhecimento? Necessidade de fazer valer uma regra? As motivações de um preconceito linguístico e grammar nazi podem ser várias, entretanto, ele faz parte daqueles que, por encararem o idioma como um padrão a ser obedecido, discriminam e expõem aqueles que, pelo motivo que for, acabam cometendo erros.
Uma variante desse assunto foi de particular polêmica em 2011, quando os livros didáticos de língua portuguesa do MEC foram censurados por “ensinarem o português errado”, ao mostrarem aos alunos que as variações linguísticas cotidianas podem ser usadas, mas que elas não são bem consideradas em situações onde o uso do português concordante com a norma culta é exigido.
No caso do preconceito linguístico e grammar nazi, que não censura propriamente uma variação linguística em alguns casos, mas se aferra ao combate aos erros de ortografia, há a própria imposição de regras como forma de preconceito linguístico. Se você escreve “naum” ao invés de não, provavelmente sua inteligência será questionada e julgada. A questão é: todo julgamento é passível de erros.
No fundo, se o local onde se escreve não exige o cumprimento de normas formais, o que importa na linguagem, de fato, é sua função principal: comunicar. Entretanto, as formas pelas quais isso é feito e do jeito que tomamos de acordo com as normas impostas classificam os interlocutores, cabendo a nós repensar a segregação que acabamos causando por conta disso.
*Texto originalmente publicado no blog parceiro “Crítica Nossa de Cada Dia“, mantido por Marcela Tanaka, graduanda em Ciências Sociais (IFCH/Unicamp).
**Beatriz Regina Guimarães estudou Ciências Sociais no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/Unicamp) e é,
atualmente, estudante de Estudos Literários pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp).
atualmente, estudante de Estudos Literários pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp).