A sociedade de corte, de Norbert Elias (2001 [1983])
Por Cristiano das Neves Bodart
A edição publicada pela Zahar traz um prefácio do renomado historiador de Roger Chartier que destaca a originalidade de Elias em buscar equalizar a dicotomia Sociedade-indivíduo presentes nas análises de sua época. Estas, ora focavam na capacidade do indivíduo de agenciar-se, ora nas determinações da estrutura sobra a ação dos sujeitos. Elias buscou romper com essa dicotomia e para isso desenvolveu uma teoria que buscou aplicar em alguns casos empíricos, tais como o leitor verá na obra aqui mencionada.
A obra é iniciada sob uma discussão envolvendo “Sociologia e História”, na qual Elias evidencia sua perspectiva teórica, enunciada no que denominou de “figuração” (ou configuração). Ao fazer isso, distancia-se das teorias sociológicas hegemônicas daquele momento (sobretudo de Talcott Parsons) que, para ele, mantinham um abismo entre sociedade e indivíduo.
Como destacou Elias em outra obra,
[…] conceber que os indivíduos formam em conjunto as figurações particulares, que possuem suas regularidades, suas estruturas e suas dinâmicas. E com base nisso perceber, ao mesmo tempo, a estrutura de personalidade e a dinâmica dos indivíduos que formam essas figurações, assim como a estrutura e dinâmica das próprias figurações como inseparáveis, mas nitidamente como diferentes níveis dos acontecimentos sociais (ELIAS, 2006, p. 301).
A obra “A sociologia da corte” revela a operacionalidade da teoria configuracional de Norbert Elias, evidenciando na empiria as relações entre os sujeitos (redes de interações) e as estruturas sociais; considerando que as figurações são construtos históricos que se dão nas sociabilidades (vistas como jogos) ordinárias que envolvem emoção, vivência, perda, conquista, existência, etc.
Na obra “A sociedade de corte”, Elias faz analisa as relações sociais presentes nas sociedades do Antigo Regime. Seu recorte temporal são os séculos XVII e XVIII, o que se deu por buscar compreender o surgimento de uma cultura cortesã. O recorte espacial da obra delimita-se na corte do Rei francês Luís XIV, conhecido como o Rei Sol.
A leitura de Elias é imprescindível para quem deseja se aprofundar no pensamento teórico social do século XX.
Referência
ELIAS, Norbert. A Sociedade de corte.Trad. Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
NEIBURG, Federico; WAIZBORT, Leopoldo (orgs.). Escritos & ensaios.Vol. 1: Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2006.
Muito interessante essa análise.