Rosa Luxemburgo: uma mulher marxista, militante e na vanguarda*

Rosa Luxemburgo (1871-1919) foi uma revolucionária e teórica marxista polonesa naturalizada alemã. Ela se tornou uma líder notável do movimento comunista internacional. Rosa Luxemburgo nasceu em 5 de março de 1871 em Zamosc, Polônia, uma região do Império Russo. Rosa (Rosa) cresceu na Polônia sob o domínio da Rússia czarista, e logo foi atraída pela luta entre os estudantes e o regime repressivo mantido na escola, eles se engajaram em movimentos de protesto e revolucionários contra a opressão e o socialismo.

“…enterrai vossas desavenças”
Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos jovens amigos, não é verdade? Rosa Luxemburgo
“Liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros de um partido – por mais numerosos que sejam – não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de modo diferente. Não por fanatismo pela ‘justiça’, mas porque tudo quanto há de vivificante, salutar, purificante na liberdade política depende desse caráter essencial e deixa de ser eficaz quando a ‘liberdade’ se torna um privilégio”. (Rosa Luxemburgo)

No dia 15 de janeiro do ano de 1919, em Berlim, Rosa Luxemburgo era presa mais uma vez. Desta vez não lhe permitiram prosseguir com sua luta, sendo neste fatídico dia executada cruelmente, aos 48 anos de idade, com um tiro na nuca. Luxemburgo, que chegou a receber a alcunha de “Rosa sangrenta”, nasceu para ser uma lutadora, em 1871, ano em que foi proclamada a comuna de Paris. Judia, polonesa e portadora de deficiência física em uma das pernas desde os cinco anos de idade, lutou até seu último suspiro. Todas essas características, a colocavam em desvantagem e poderiam comprometer o futuro brilhante desta mulher. Luxemburgo pertenceu às minorias discriminadas, comumente perseguidas.
Sendo judia, de família de comerciantes – embora não tivesse nenhuma ligação com a religião – não escapou do antissemitismo. Como outras precursoras das lutas feministas, pela igualdade e contra o capitalismo, viveu de forma autodeterminada, contra os preconceitos e pressões sociais do seu tempo. Inteligente, desde cedo falava fluentemente Russo, alemão, francês e polonês. Com apenas treze anos ingressou na escola secundária de Varsóvia, algo significativo para uma moça em sua época. Doutorou-se em um tempo em que mulheres raramente iam para as universidades. Fez parte da Revolução Russa a partir de Varsóvia.

Luxemburgo lecionou de 1907 até 1914 na escola do SPD em Berlim, sendo uma das poucas mulheres politicamente ativas. Era uma expatriada, pois apesar de sua cidadania alemã, conseguida através de um casamento de conveniência, era vista como polonesa e judia aos olhos de seus inimigos políticos.

Ela percebia a “revolução social” à maneira de Karl Marx: eliminação de todas as relações em que “o homem é um ser humilhado, subjugado, abandonado e desprezível”. Luxemburgo fundou, em 1894, o Partido Socialdemocrata. Para ela a liberdade e a democracia não eram um luxo que os políticos socialistas podiam ofertar ou abdicar, mas a condição para a existência da política socialista, estabelecendo assim os princípios do socialismo democrático (A Liberdade é Sempre a Liberdade de Ter Opiniões Diferentes).

Rosa Luxemburgo foi uma crítica entusiasmada e persuasiva do capitalismo. Como revolucionária e democrata, manteve-se numa posição crítica e cautelosa, batalhando contra a política ditatorial dos bolcheviques, recusando as teses centralistas de Lênin (Problemas Organizativos da Social-Democracia Russa, 1904). Defendeu suas convicções com toda intensidade. Apaixonada, fundou o Grupo Internacionalista, do qual surgiu, em 1917, o Movimento Espartaquista e, um ano depois, o Partido Comunista da Alemanha. Presa durante a guerra, apoiou, em 1918, os conselhos de trabalhadores e soldados. Fundou o jornal Bandeira Vermelha, futuro diário oficial do KPD.

Nas palavras de Luxemburgo : “A revolução proletária não precisa do terror para realizar seus fins, ela odeia e abomina o assassinato. Ela não precisa desses meios de luta porque não combate indivíduos, mas instituições; porque não entra na arena cheia de ilusões ingênuas que, perdidas, levariam a uma vingança sangrenta. Não é a tentativa desesperada de uma minoria de moldar o mundo à força, de acordo com o seu ideal, mas a ação da grande massa dos milhões de homens do povo, chamada a cumprir sua missão histórica e a fazer da necessidade histórica uma realidade. Mas a revolução proletária é, ao mesmo tempo, o dobre de finados de toda servidão e de toda opressão (…)”
\\\”Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem\\\” disse a heroína, mártir, revolucionária. Suas palavras eram como navalhas. Sabiamente afirmou: \\\”A massa não é apenas objeto da ação revolucionária; é, sobretudo, sujeito\\\”. Justamente pela sua persuasão e brilhantismo calaram-na definitivamente em 15 de Janeiro de 1919. Viveu conforme as palavras que proferiu, sempre fiel aos seus ideais: \\\”No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo.\\\” Em 1919, Bertolt Brecht escreveu um epitáfio poético em homenagem a Luxemburgo, onde dizia:

Aqui jaz Rosa Luxemburgo, judia da Polônia, vanguarda dos operários alemães, morta por ordem dos opressores. Oprimidos, enterrai vossas desavenças!

*Bianca Wild é colaborada do Café com Sociologia, licenciada em Ciências Sociais – FIC/FEUC Professora de sociologia-SEEDUC RJ, Especialista em gênero e sexualidade -UERJ/IMS e membro do Comitê Editorial da Revista Café com Sociologia.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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