Falácia lógica: saiba identificá-las para evitá-las
O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as lógicas são “ferramentas para o raciocínio correto”.
Agora, quando falamos “construção e exposição de raciocínio ou argumentação“, isso pode ficar parecendo uma coisa meio séria, sisuda, de professor de filosofia ou discussões inflamadas entre ateus e crentes na internet. Mas a verdade é que fazemos isso o tempo todo. As lógicas são o próprio esqueleto que torna as linguagens (dos idiomas à matemática, passando, e muito, por tecnologia da informação) possíveis.
futuras referencias a exemplos específicos. Leia, entenda e não as use.
1. Falácia lógica do Espantalho
2.
Falácia lógica da Causa Falsa
3.Falácia lógica do Apelo à emoção
terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.
4. A falácia da falácia
Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a posição de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com Queijo no Burger King todos os dias.
5.Falácia lógica da Ladeira Escorregadia
Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo
sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus
macacos Bonobo de estimação.
6. Falácia lógica do Ad hominem
ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra
alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos
pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.
Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma
possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta
aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita
por uma mulher que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um
cheiro meio estranho.
7. Falácia lógica do Tu quoque (você também)
falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é
geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do
acusado ter que se defender e mudar o foco para o acusador.
implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa
o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da
contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática para evitar
ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento –
ao devolver ao acusador, o acusado não precisa responder à acusação.
Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de
retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia
anteriormente no debate.
político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter
desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não
responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente
também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.
8. Falácia lógica da Incredulidade pessoal
complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem
alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém
possa entendê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no
lugar desse entendimento.
desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo,
perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o
bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana
através de, sei lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o
passar dos tempos.
9. Falácia lógica da Alegação especial
vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um
novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas
crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é
pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas
acreditavam ser verdade deve continuar sendo verdade.
bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e
é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo
mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na
armadilha da auto-justificação.
Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram
testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente
desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem
fé nelas.
10. Falácia lógica da Pergunta carregada
desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões
racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta
carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na
defensiva. Esta falácia não apenas é um apelo à emoção, mas também
reformata a discussão de forma enganosa.
Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto
ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta
em tom de acusação: “como anda a sua rehabilitação das drogas, Helena?”
11. Falácia lógica do Ônus da prova
ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca
com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção,
de provar errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma
credibilidade.
podemos ter certeza de qualquer coisa, portanto devemos valorizar cada
afirmação de acordo com as provas disponíveis. Tirar a importância de um
argumento só porque ele apresenta um fato que não foi provado sem
sombra de dúvidas também é um argumento falacioso.
Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o
Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está
errado, a sua afirmação é verdadeira.
12. Ambiguidade
frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos, para
depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam
tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é
intrinsecamente enganoso.
julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo, tenta
convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal
crime, e não deve ser julgado como um humano normal.
13. Falácia do apostador
diz que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente
independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.
falácia de aceitação comum é provavelmente o motivo da criação da
grande e luminosa cidade no meio de um deserto americano chamada Las
Vegas.
resultado desejado ser realmente baixa, cada lance do dado é, em si
mesmo, inteiramente independente do anterior. Apesar de haver uma chance
baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de
dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de
todos os lances anteriores ou futuros.
Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório
teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma
econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.
14. Ad populum
apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas pessoas
fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação dele.
falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem
absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra
teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos
acreditavam que ela era assim.
Luciano, bêbado, apontou um dedo para Jão e perguntou como é que tantas
pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e
boba. Jão, por sua vez, já havia tomado mais Guinness do que deveria e
afirmou que já que tantas pessoas acreditam, a probabilidade de duendes
de fato existirem é grande.
15. Apelo à autoridade
importante mencionar que, no que diz respeito a esta falácia, as
autoridades de cada campo podem muito bem ter argumentos válidos, e que
não se deve desconsiderar a experiência e expertise do outro.
formar um argumento, no entanto, deve-se defender seus próprios
méritos, ou seja, deve-se saber por que a pessoa em posição de
autoridade tem aquela posição. No entanto, é claro, é perfeitamente
possível que a opinião de uma pessoa ou instituição de autoridade esteja
errada; assim sendo, a autoridade de que tal pessoa ou instituição goza
não tem nenhuma relação intrínseca com a veracidade e validade das suas
colocações.
defender a sua posição de que a teoria evolutiva “não é real”, Roberto
diz que ele conhece pessoalmente um cientista que também questiona a
Evolução e cita uma de suas famosas falas.
Um professor de matemática se vê questionado de maneira insistente por
um aluno especialmente chato. Lá pelas tantas, irritado após cometer um
deslize em sua fala, o professor argumenta que tem mestrado
pós-doutorado e isso é mais do que suficiente para o aluno confiar nele.
16. Composição/Divisão
vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o
caso. Já que observamos consistência nas coisas, o nosso
pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e
padrões onde eles não existem.
Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico.
Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por
ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma
partida de esconde-esconde.
17. Nenhum escocês de verdade…
forma de argumentação falha, a crença de alguém é tornada
infalsificável porque, independente de quão convincente seja a evidência
apresentada, a pessoa simplesmente move a situação de modo que a
evidência supostamente não se aplique a um suposto “verdadeiro” exemplo.
Esse tipo de pós-racionalização é um modo de evitar críticas válidas ao
argumento de alguém.
que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que Lachlan aponta que
ele é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, como um “escocês de
verdade”, Angus berra que nenhum escocês de verdade põe açúcar no seu
mingau.
18. Genética
no sentido de que ela usa percepções negativas já existentes para fazer
com que o argumento de alguém pareça ruim, sem de fato dissecar a falta
de mérito do argumento em si.
Acusado no Jornal Nacional de corrupção e aceitação de propina, o
senador disse que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia,
já que todos sabemos como ela pode não ser confiável.
19. Preto-ou-branco
esta tática aparenta estar formando um argumento lógico, mas sob
análise mais cuidadosa fica evidente que há mais possibilidades além das
duas apresentadas.
preto-ou-branco não leva em conta as múltiplas variáveis, condições e
contextos em que existiriam mais do que as duas possibilidades
apresentadas. Ele molda o argumento de forma enganosa e obscurece o
debate racional e honesto.
discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os direitos
do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do lado dos
direitos do cidadão ou contra os direitos.
20. Tornando a questão supostamente óbvia
argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as
pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas
verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins
principalmente porque não são muito boas.
A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso
porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais
Infalíveis Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não
Devem Nunca Serem Questionadas.
21. Apelo à natureza
porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por
exemplo, é bem natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que não é
lá uma coisa muito legal de você sair fazendo por aí. A sua
“naturalidade” não constitui nenhum tipo de justificativa.
O curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios
completamente naturais, incluindo garrafas de água pura muito especial.
Ele disse que é natural as pessoas terem cuidado e desconfiarem de
remédios “artificiais”, como antibióticos.
22. Anedótica
é bem mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no testemunho
de alguém do que entender dados complexos e variações dentro de um continuum.
quantitativas científicas são quase sempre mais precisas do que
percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é acreditar
naquilo que nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em quem confiamos,
em vez de em uma realidade estatística mais “abstrata”.
José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu até
os 97 anos — então não acredite nessas meta análises que você lê sobre
estudos metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e
expectativa de vida.
23. O atirador do Texas
escolhe muito bem um padrão ou grupo específico de dados que sirva para
provar o seu argumento sem ser representativo do todo.
falácia de “falsa causa” ganha seu nome partindo do exemplo de um
atirador disparando aleatoriamente contra a parede de um galpão, e, na
sequência, pintando um alvo ao redor da área com o maior número de
buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria.
específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira
imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal.
Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas que
mostram que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais vendida, três
estão na lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, Cocaçúcar é
saudável.
24. Meio-termo
muitos casos, a verdade realmente se encontra entre dois pontos
extremos, mas isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes uma coisa
simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também não é
verdadeiro. O meio do caminho entre uma verdade e uma mentira continua
sendo uma mentira.
a vacinação causou autismo em algumas crianças, mas o seu estudado
amigo Calebe disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa, com
provas. Uma amiga em comum, a Alice, ofereceu um meio-termo: talvez as
vacinas causem um pouco de autismo, mas não muito.
fim, questiono: onde já identificaram falácias lógicas em seu
dia-a-dia? Compartilhem suas dúvidas e percepções sobre o tema.
Fonte: https://www.papodehomem.com.br
*Trabalha em espaços de aprendizado sobre como melhorar a vida e as relações, como ter melhor equilíbrio emocional e encontrar uma felicidade mais genuína – sem oba-oba, com o pé no chão da vida cotidiana. Coordenador do lugar e do CEBB Joinville, professor do programa Cultivating Emotional Balance, desenhista e professor de desenho.
Muito bom….
Dá vontade de fazer um cartaz e sair fixando nos muros da faculdade!
Óptimo artigo, seria bom que muitíssimas pessoas o pudessem ler, assimilar e acomodar para utilização constante…