Inúmeras cores do capitalismo

Capitalismo Colorido

Por Felipe Onisto*
Discutir o sistema econômico vigente é uma das tarefas de inúmeros teóricos. Colocar em jogo os conceitos que permeiam essa lógica resulta em divergentes argumentações, sendo colocadas em jogo nesse ensaio inteligível e curto.
Segundo Hegel, filósofo moderno, o capitalismo deve ser pensado por uma instância maior, visto que o homem é egoísta, resultando um colapso sistemático. Dito de outra maneira, a ganância humana elevaria a condição econômica a superioridade, fomentando assim a desigualdade social e o caos político. Sinteticamente os postulados hegelianos convergem para uma regulação econômica e social frente às decisões do Estado, colocando em jogo uma ordenação coletiva. Na dinâmica do filósofo, o Estado denominado Razão Absoluta é a garantia da felicidade humana, as diretrizes que conduzem a participação enaltecem o espírito comum, sendo a instância política sine qua non.
A conhecida Lei de Say caminha oposta a essa orientação. Segundo o discurso: a oferta cria a demanda, estabelecendo um ponto de equilíbrio no emprego, renda e juros. Esta lei coloca o objeto como fundamento da manutenção econômica, visto que sua geração fomenta o emprego e a compra pressupõe montar outro e assim sucessivamente. O consumo sustenta a linearidade absoluta, sendo as relações de mercado primordiais na conservação do paradigma. Para Jean-Baptiste Say o gasto do salário geraria emprego, porém sua retração resultaria no desemprego, medida esta natural, tendendo ao equilíbrio com a volta do consumo estimulado pelos empresários com novos investimentos e a queda dos juros.
As leituras de Marx apontam outras diretrizes para dinâmica econômica. Refutar a Lei de Say é simples, ela converge em cíclicas crises, tornando-a insustentável. Além disso, sua teoria aponta o capitalismo como uma lógica de divergência entre classes sociais, é a dicotomia, burgueses e proletários. Resumindo a teoria os burgueses são os donos dos meios de produção e utilizam esta ferramenta para extrair ganhos financeiros dos trabalhadores. Segundo Marx, isso é resultado da mais-valia, expropriação indevida do excedente produzido. Esta exploração é assegurada por outras práticas como a sustentabilidade do exército de reservas, complexo sistema de ideologia e alienação, frente a outros mitos do sistema. Porém este pensador se desafiou na solução da problemática dos trabalhadores, sistematizando o socialismo científico, teoria e prática que ficarão para um próximo artigo.
John Maynard Keynes, economista contemporâneo, sistematiza uma célebre crítica aos teóricos clássicos. Como forma de abalar a Lei de Say, aponta o equilíbrio do mercado livre como insustentável em tempos de declínio econômico, visto que a queda de juros e preços seria lenta frente à demasia dos desinvestimentos.
Na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda o economista coloca como primordial o consumo para sustentabilidade do capitalismo. Segundo o pensador o homem pende naturalmente para as compras e é esta propensão que garante o emprego e sistematicidade. O ponto de equilíbrio econômico se dá no que considera pleno emprego, status permitido pelo investimento, gerando renda e gastos cíclicos. Caso ele seja rompido estará instaurada a crise, crítica à lei de Say, visto que seu funcionamento garante o triângulo com consumo e emprego, não podendo cessar.
Quanto a Marx, Keynes relata antipatia, pensa que sua teoria é obsoleta e um erro científico, coloca como inadmissível frente aos pressupostos modernos.
Certamente essas teorias não se limitam a simplicidade apresentada, porém o reduzido número espaço  não permitiu aprofundamento, ficando assim o desafio de entender os clássicos conforme seus estudos. A provocação deve ser estendida a compreensão do capitalismo, afinal, uma cor apontou sua extinção, outra seu equilíbrio perante as liberdades de mercado, contrária foi à necessidade de intervenção estatal, diferente a reformulação do sistema, distinta a criação de uma terceira via e nesse debate caminhamos para qual lugar? O desafio econômico hodierno é esse. O resultado pode permitir o próximo prêmio Nobel de economia.

 

*Sociólogo, professor de graduação do Curso de Ciências Sociais da Universidade do Contestado – UnC – Campus Canoinhas.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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