7 de setembro: Hoje é feriado. E daí?

Por Cristiano Bodart

Hoje é feriado… e daí?

Quantos brasileiros sabem o porquê
hoje é feriado? Maior parte dos brasileiros não possui condições para refletir sobre
isso. Os motivos são variados. Dentre eles destaco a desinformação, falta de acesso à cultura e o cansaço
físico. Isso mesmo, cansaço físico! Além de termos uma educação de baixa
qualidade, de vivemos em uma sociedade que pouco valoriza o conhecimento, estamos imerso em uma sociedade voltada para o
consumo (esse sendo o novo deus, tendo o shopping Center como o principal local
de culto) e, consequentemente, voltada para o trabalho.

O feriado surge no imaginário
popular apenas como um dia de descanso. Seu sentido se perde em meio a
ignorância e ao desejo de um dia de alforria, longe dos olhos de seu senhor.

Ao me referir à “ignorância”
não estou pensando apenas no fato de não saberem que trata-se do dia da “Proclamação da República”. Me refiro ao motivo de termos tal dia. Me refiro à
falta de percepção
de que é, em grande medida, uma data marcada por uma “ideologia positivista” e elitista e que, em
parte, irreal. Ignorância por não saber que tal data é reflexo da alternância do
poder, esse longe (e coloque longe nisso) das mãos do povo brasileiro. A ideia de Republica (res pública, em latim), designando a forma de Governo eleito pelo povo ainda me parece uma quimera. Vejo que nossos governantes são escolhidos pelas grandes corporações que adotam seus representantes em época de campanha e eles, os “nossos” governantes, governam não “a coisa pública”, mas aquilo que já foi privatizado por meio dos financiamentos milionários de campanha eleitoral. A ideia de que tais representantes do povo possuem tempo limitado no poder parece igualmente ilusório quando tiramos o foco sobre o indivíduo e olhamos para os grupos… esses nos “representando” de longa data… bem mais que quatro anos.Ainda
creio que teremos um marco histórico que, de fato, represente nossa independência.
Por ora, vamos chorar…
Para refletir um pouco sobre essa
questão, convido-o a ler e ouvir a música “É pra rir ou pra chorar?”, de
Gabriel, o Pensador. Segue:

 

O Brasil proclamou sua independência, mas o
filho do rei é que assumiu a gerência.
O povo sem estudo não dá muito palpite, e a nossa
república é só pra elite.
(E quem faz greve o patrão ainda demite).
É pra rir ou pra chorar?
O Brasil aboliu a escravidão, mas o negro da senzala
foi direto pra favela.
Virou um homem livre e foi pra prisão.
Só que a tal da liberdade não entrou lá na cela.
(E a discriminação ainda é verde e amarela).
É pra rir ou pra chorar?
O Brasil foi parar na mão dos militares, que calaram o
povo no tempo da ditadura.
Torturaram e prenderam e mataram milhares, mas ninguém
foi condenado pelos crimes de tortura.
(E tem até torturador lançando candidatura).
É pra ri ou pra chorar?
O Brasil conseguiu as eleições diretas, mas a gente
que vota ainda é semi-analfabeta.
O Collor foi eleito e roubou até cansar.
O povo deu um jeito de cassar o marajá.
Mas ele não foi preso e falou que vai voltar!
É pra rir ou pra chorar?
O Brasil tem mais terra do que a china tem chinês, mas
a terra tá na mão dos grandes latifundiários.
A reforma agrária, ninguém ainda fez.
Ainda bem que os sem-terra não são otários.
(E tudo que eles querem é direito a ter trabalho).
É pra rir ou pra chorar?
O Brasil tem miséria mas tem muito dinheiro, na mão de
meia dúzia, no banco suíço.
O rico sobe na vida feito estrangeiro, e o pobre só
sobe no elevador de serviço.
(E você aí fingindo que não tem nada com isso?)
É pra rir ou pra chorar?
O Brasil tem um povo gigante por natureza que ainda
não percebe o tamanho dessa grandeza.
Sempre solidário no azar ou na sorte, um povo
generoso, criativo e risonho.
Poderoso, e tem um coração batendo forte que põe fé no
futuro do mesmo jeito que eu ponho.
E vai ter que ser independência ou morte. Um por
todos, e todos por um sonho.
É pra rir ou pra chorar?
É pra ir ou pra voltar?
Pra seguir ou pra parar?
Pra cair ou levantar?
É pra rir ou pra chorar?
Pra sair ou pra ficar?
Pra ouvi ou pra falar?
Pra dormir ou pra sonhar?
É pra ver ou pra mostrar?
Aplaudir ou protestar?
Construir ou derrubar?
Repetir ou transformar?
É pra rir ou pra chorar?
Pra se unir ou separar?
Agredir ou agradar?
Pra torcer ou pra jogar?
Pra fazer ou pra comprar?
Pra vender ou pra alugar?
Pra jogar pra perder ou pra ganhar?
Dividir ou endividar?
Dividir ou individualizar?
É pra rir ou pra chorar?!

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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