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Estratificação Social Segundo Octavio Ianni

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL SEGUNDO OCTAVIO IANNI*

 
Por Cristiano das Neves Bodart
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Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)
A temática de estratificação social foi de interesses de diversos trabalhos do saudoso Octavio Ianni. O sociólogo uspiano dedicou-se à compreensão das diferenças sociais e das injustiças a elas associadas, tendo por objeto criar condições compreensivas que favorecem o desenvolvimento de meios de superá-las.
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No início da década de 1970 Ianni foi convidado pela Companhia Editorial Nacional para organizar a obra “Teorias de Estratificação Social”, na qual dedicou-se a selecionar os melhores textos que tratavam do tema, tendo reunido textos clássicos e contemporâneos (dentre eles artigos de Mills, Durhkeim, Marx e Engels, Weber, Toennies, Sombart e Lukács). De acordo com ele, a “intenção foi apresentar textos que suscitassem reflexões e temas para pesquisa” (IANNI, 1973, p. 9).
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A obra foi publicada em 1973, sendo composta de 19 artigos, agrupados em 4 capítulos (Mudanças Estruturais, Castas, Estamentos e Classes). No início de cada capítulo escreveu breves introduções, as quais nos apontam elementos riquíssimos para uma compreensão introdutória da temática geral do obra: estratificação social. A seguir destacamos parte dessas contribuições.
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Em se tratando de estratificação social, Octavio Ianni afirma que para uma melhor compreensão é necessário entender as estruturas econômicas e políticas da sociedade analisada, uma vez que para ele,
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“A maneira pela qual se estratifica uma sociedade depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente. E a maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente está diretamente ligada ao modo pelo qual eles organizam a produção econômica e o poder político” (IANNI, 1973, p.11).

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Nesse sentido, os três tipos clássicos de estratificações sociais (castas, estamentos e classes) estão ligados a essas duas estruturas de poder (econômico e político); ainda que elementos culturais também são importantes estruturadores da sociedade e, consequentemente, classificadores. Desta forma, não pode escapar ao cientista social uma interpretação desses dois elementos. Em suas palavras, “[…] não se pode compreender o processo de estratificação social enquanto não se examina a maneira pela qual se organizam as estruturas de apropriação (econômica) e dominação (política)” (IANNI, 1973, p. 11).
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Para Ianni, a principal diferença entre os tipos clássicos de estratificação está na abertura ou rigidez das estruturas sociais para a possibilidades dos indivíduos migrar de um estrato para outro. “Na medida em que as estruturas de apropriação e dominação são mais ou menos abertas (ou rígidas) as condições e possibilidades de classificação e mobilidade social serão mais ou menos abertas (ou rígidas)” (IANNI, 1973, p. 11).
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Nesse sentido, o que caracterizaria as classes sociais seria as estruturas sociais próprias do Capitalismo que se apresentam abertas, possibilitando ao indivíduos a migração entre as classes ao longo de sua vida (podendo acender, quando descender no estrato social).
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No caso das Castas, as estruturas econômicas e políticas se apresentam em decorrência das condições religiosas, raciais, hereditárias e ocupacional e essas categorias parecem predominar no pensamento coletivo e influenciar fortemente as ações das pessoas. Como tais categorias são tradicionais e pouco mutáveis, os indivíduos acabem não tendo condições de migrar estrato social (de casta).
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Em se tratando das sociedades estamentais, é indispensável a compreensão do modo pelo qual as categorias tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo estão presentes no pensamento e na ação das pessoas, pois é a partir delas que se organiza a sociedade em estratos social. Os estamentos são característicos de sociedade feudais.
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Assim, “[…] as diversas configurações histórico-estruturais mencionadas correspondem a distintas modalidades de organização das condições de reprodução social […]” (IANNI, 1973, p. 13). Para compreendermos a estratificações no interior de cada sociedade é importante considerar as formas de “cristalização” da divisão social do trabalho no âmbito de toda estrutura social e em sues diversos setores produtivos, de organização política, religiosa e intelectual. Em síntese, “a divisão social do trabalho é um processo condicionado pelo modo de produção (asiático, escravocrata, feudal e capitalista)[…] Isto é, as contradições estruturais inerentes às relações e hierarquias de castas (e subcastas), estamentos e classes sociais exprimem a maneira pela qual se distribui o produto (econômico) e o poder (político), no conjunto da sociedade, bem como em seus seguimentos” (IANNI, 1973, p. 13-14).
Quadro 1 – Estratos Sociais.
Estratificação social segundo Octavio Ianni
Fonte: elaboração própria com base em Ianni (1973).
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Referência

IANNI, Octavio. Teoria de estratificação social: leitura de sociologia. São Paulo: Editora Nacional, 1973.
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Principais obras de Octavio Ianni:

“Cor e Mobilidade Social em Florianópolis” (1960, em colaboração com Fernando Henrique Cardoso), “Homem e Sociedade” (1961, em colaboração com Fernando Henrique Cardoso), “Metamorfoses do Escravo” (1962); “Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil” (1963), “Política e Revolução Social no Brasil” (1965), “Estado e Capitalismo no Brasil” (1965), “O Colapso do Populismo no Brasil” (l968), “A Formação do Estado Populista na América Latina” (1975), “Imperialismo e Cultura” (1976), “Escravidão e Racismo” (1978), “A Ditadura do Grande Capital” (1981), “Classe e Nação” (1986), “Dialética e Capitalismo” (1987), “Ensaios de Sociologia da Cultura” (1991), “A Sociedade Global” (1992).
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Como citar esse texto:
BODART, Cristiano das Neves. Estratificação Social segundo Octavio Ianni. Blog Café com Sociologia.com. jan. 2011. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/estratificacao-social-segundo-octavio/>. Acessado em: dia mês ano.
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* Originalmente publicado em 11 de janeiro de 2011.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

4 Comments

  1. “A maneira pela qual se estratifica uma sociedade depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente. E a maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente está diretamente ligada ao modo pelo qual eles organizam a produção econômica e o pode político” (IANNI, 1973, p.11).

    terceira linha última palavra: pode
    troque por: poder*

  2. Ótimo texto! Mas discordo da posição de Ianni quando diz que na sociedade capitalista há muita mobilidade social. Há mais do que na sociedade de Estamentos; mas, ainda assim, constatamos que – em geral – os descendentes dos trabalhadores assalariados também serão assalariados…

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