Prova invertida é uma metodologia na qual os estudantes elaboram as perguntas de modo coerente às respostas indicadas. Ao longo da minha prática docente tenho percebido que os melhores alunos são os interessados ou engajados, não os tidos como inteligentes ou bem sucedidos. Embora alguns destes engajados tenham dificuldades, esses alunos se superam e motivam os professores de modo que a aula fica muito mais proveitosa. Neste texto irei relatar a experiência bem sucedida de como estimular os alunos a se tornarem cada vez mais interessados e isso se aplica a qualquer área.
Por Roniel Sampaio Silva
Primeiro momento: aprendizado baseado em respostas
Este ano resolvi experimentar uma modalidade de avaliação que muitos professores já utilizam. A avaliação oral. Na ocasião eu pedi que os estudantes revisassem a matéria com base em questionários. Assim eles precisariam elaborar um questionário de perguntas e respostas, estudar por ele a fim de antever quais perguntas eu poderia fazer. Nesta fase os alunos tentavam simular as perguntas, porém a preocupação maior eram as respostas, afinal foi por meio delas que eles foram avaliados.
A avaliação oral consistiu em metade das perguntas feitas aos alunos foram a partir do questionário previamente elaborado pelo professor e a outra metade das outras perguntas foi a partir do questionário elaborado por eles. O resultado foi desastroso. A grande maioria dos alunos não conseguia elaborar uma pergunta de forma precisa uma vez que a preocupação era apenas a resposta.
Segundo momento: Aprendizado baseado em perguntas
A partir desse resultado eu decidi que a próxima unidade deveria ser trabalhada de modo que eles aprendessem a perguntar e tais atividades motivassem a postura de estudantes engajados. Neste sentido optei que a avaliação seria invertida, ou seja, a prova constaria não mais as pergutnas para serem respondidas e sim as respostas para serem perguntadas. Neste sentido, os alunos seriam avaliados pelas perguntas e não pelas mais respostas.
“Cientista não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas” Claude Lévi-Strauss
É neste sentido que convém ressaltar que como a ciência se faz com perguntas, o objetivo não é levá-los a produzir perguntas, mas a habituar-se a pensar a partir de perguntas. Assim o engajamento e a participação nas aulas tende a aumentar.
Guia básico de como ensinar a perguntar
Antes de chegar na avaliação eu expliquei como deve ser elaborada uma pergunta. Ela deve ser o mais específica possível. As perguntas devem ser elaboradas de tal modo que haja apenas o menor número de possibilidades de respostas. Deve-se evitar perguntas genéricas e pouco específicas, exemplo: “O que Marx falou sobre capitalismo?”. Priorize perguntas do tipo: “Como Marx descreve a estratificação social na sociedade capitalista?”.
Existe uma forma ideal para elaborar perguntas. As perguntas em uma avaliação precisam entender como os estudantes de uma turma compreenderam um determinado assunto. Portanto, elas priorizam respostas fechadas para que o enfoque seja preciso, outras palavras ela deve ser cartesiana. Devem contemplar o máximo de elementos que ajudem relacionar uma pergunta a uma resposta. Portanto, os elementos fundamentais de uma pergunta é o que (objeto), onde (espaço), quando (tempo) perspectiva (autor)?. Não necessariamente todos esses elementos devam aparecer, porém é necessário avaliar se a pergunta carece desses elementos. Se você perguntar: “qual o papel do Estado na sociedade capitalista?” haverá a possibilidade de múltiplas respostas tendo em vista que há vários autores que divergem em relação a esta resposta. Marx, Weber e Durkheim certamente dariam repospostas distintas.
As perguntas mais sofisticadas estão num nível para além do conceitual. Por exemplo, questão de diferenciar conceitos ou analisar processos.
Proponha exercícios para que os alunos se adeque cognitivamente a esta metodologia
Depois de explicar como elaborar perguntas de maneira cartesiana. Proponha exercícios no qual se derive uma pergunta a partir de uma citação.
Acesse aqui para ver o exemplo de exercício
Veja um modelo de avaliação de uma prova invertida.
Leia com atenção os enunciados abaixo e elabore a pergunta de forma coerente à resposta. Pode haver mais de uma pergunta no enunciado. Utilize o quadro de sugestões abaixo. As expressões da tabela podem ser repetidas e algumas delas podem não ser utilizadas.
Acesse aqui o modelo completo desta prova.
Considerações finais
O desiquilíbrio cognitivo é entendido por Jean Piaget como o processo no qual o sujeito (estudante) sai da sua zona de conforto ao questionar uma situação nova apresentada. É neste sentido que o papel do professor é ser um agente de promoção desse desequilíbrio a fim de motivar o aluno a fazer perguntas e a se superar-se cognitivamente. É por meio dessas estratégias que o interesse pela aula tende a aumentar.
Gostou da metodologia? Comente como você se saiu usando-a.
Poderia me enviar o modelo completo da prova?
Claro, você pode baixar no post: https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2018/02/Prova-sociologia4-desigualdade-social_-sem-respostas.docx