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Avaliação escolar: o que é e quais os tipos?

avaliação escolar

Apresento aspectos básicos em torno da avaliação escolar. Isso mesmo, no plural. Irei direto ao ponto. Busco responder duas perguntas: o que são avaliações escolares? Quais os principais tipos de avaliações escolares? Importa destacar que cada tipologia de avaliação é orientada por uma perspectiva pedagógica e mobiliza diferentes técnicas e instrumentos, mas isso seria assunto para outro texto

Avaliação escolar: o que é e quais os tipos?

 

Cristiano das Neves Bodart[1]

Cristiano Bodart
Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP).

Conceituando

As avaliações escolares referem-se àquelas realizadas pelo(a) docente para aferir a aprendizagem dos(as) estudantes ou avaliar suas próprias práticas docentes. Por meio delas é possível direcionar a prática docente visando potencializar o desempenho dos(as) estudantes.

Grosso modo, podemos categorizar as avaliações em dois tipos, sendo elas, respectivamente, avaliação da aprendizagem e avaliação de ensino. A avaliação da aprendizagem, como indica o termo, visa diagnosticar o quanto os(as) estudantes estão aprendendo. Já a avaliação de ensino se volta a analisar o desempenho das ações docentes no processo de ensino.

Infelizmente há docentes que utilizam as avaliações como instrumento de dominação autoritária sobre os(as) estudantes. Há gestores públicos que as utilizam como meros dados estatísticos. Contudo, trata-se de uma prática fundamental no processo de ensino-aprendizagem e o(a) docente não pode abrir mão de utilizar.

Como prática formalmente organizada e sistematizada, a avaliação escolar possui objetivos escolares implícitos ou explícitos, que se baseiam em valores e normas sociais (CHUEIRI, 2008), tornando a escola uma instituição reprodutora dos sistemas sociais estabelecidos. Seja no sentido durkheimeano de reproduzir as normas, valores, signos, etc., que permite a coexistência entre os indivíduos que forma a sociedade; ou no sentido bourdieusiano, sendo a escola responsável pela manutenção do status quo e, consequentemente, reproduzindo as desigualdades de classe. O fato é que, em geral, a escola mais reforça a estrutura social do que a transforma; ainda que hajam práticas que visam uma educação libertadora.

Como destacou Chueir (2008), historicamente a avaliação escolar tem sido utilizada no propósito de: medir para avaliar; examinar para avaliar; avaliar para classificar ou regular e; avaliar para qualificar. Para tanto, foram desenvolvidos diversos tipos de avaliação da aprendizagem, dos quais destacarei alguns a seguir.

Tipos de avaliação da aprendizagem

Avaliação formativa:

Avaliação formativa ocorre no processo de ensino e não ao final dele. É realizada ao como objetivo fornecer feedback aos estudantes e aos(às) docentes sobre o desempenho dos(as) estudantes e a eficácia do processo de ensino. Por meio dela é possível “mudar a rota” ainda durante o processo de ensino-aprendizagem. O(A) docente desenvolve meios de realizar registros e acompanhamento dos(as) estudantes, devendo favorecer o exercício de duas das funções principais desse tipo de avaliação:

A função de diagnosticar o progresso do aluno, registrando e apreciando seus pontos fortes e fracos de forma contínua, como parte do processo interativo em sala de aula, de modo a oferecer orientação ao aluno enquanto ele aprende;

A função de encorajar o estudante, fornecendo feedbacks positivos que orientem seus processos cognitivos, favoreça sua auto-avaliação e seu envolvimento e responsabilização pessoal no desenvolvimento de tarefas que o levarão a uma aprendizagem efetiva (GREGO, 2013, p. 4)

Avaliação somativa

Avaliação somativa é realizada ao final de um período de ensino, como no final de um trimestre ou semestre, e tem como objetivo avaliar o desempenho geral dos(as) estudantes e fornecer informações para a tomada de decisões sobre a promoção serial ou não dos(as) estudantes (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983), por isso facilmente utilizada para impor punições aos estudantes. As avaliações possuem um conceito ou nota a ser alcançado pelos(as) estudantes. Quem alcança é promovido e quem não atinge a nota ou conceito estabelecido é retido no sistema seriado. É o tipo de avaliação mais comum no Brasil, inclusive em avaliações de grande escala, tal como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Avaliação diagnóstica

Avaliação diagnóstica é realizada no início de um período de ensino, com o objetivo de identificar as habilidades e conhecimentos prévios dos(as) estudantes, para que os professores possam planejar seu ensino de forma mais eficaz. Para Luckesi (2003, p. 47), “a sala de aula é o lugar onde, em termos de avaliação, deveria predominar o diagnóstico como recurso de acompanhamento e reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exames como recursos classificatórios.

Na avaliação diagnóstica o(a) docente busca identificar o nível de conhecimento e habilidades dos(as) estudantes antes do fim de um período, de um conteúdo ou mesmo no seu início. Ela é realizada com o objetivo de identificar as necessidades de aprendizagem dos(as) estudantes e planejar a metodologia e definir os conteúdos de ensino de acordo as necessidades observadas. Por meio desse tipo de avaliação, o(a) docente tem por objetivo principal compreender as dificuldades e os pontos fortes dos(as) estudantes, para poder planejar sua atividade docente de modo mais produtivo.

Avaliação por projetos

Avaliação por projetos é um tipo de avaliação na qual os estudantes são desafiados a desenvolver um projeto baseado em um tema ou problema específico criado pelo(a) professor(a). Ela é uma abordagem de ensino-aprendizagem que valoriza a participação ativa dos estudantes no processo educativo e a solução de problemas reais ou não. Trata-se de uma avaliação que envolve atividades individuais ou em grupo. A avaliação por projetos permite aos estudantes mostrar seus conhecimentos, competências e habilidades. Esse modelo de avaliação está alinhado aos moldes neoliberais, focando competências a serem promovidas, mais especificamente, “aprender a ser”, “aprender a conviver”, “aprender a fazer” e “aprender a conhecer” (CHAVES, 2009).

Avaliação por observação

Avaliação por observação é um tipo de avaliação na qual o desempenho dos(as) estudantes é avaliado através da observação de suas ações e comportamentos durante as atividades de ensino-aprendizagem. As observações podem ser formais, como observações planejadas e registradas pelo professor, ou informais, como observações feitas durante a rotina diária da sala de aula. É uma forma de avaliação mais imediata, pois permite ao(à) professor(a) ver o desempenho do(a) estudante em tempo real e tomar decisões educacionais baseadas nessa observação. É um modelo de avaliação muito presente quando o professor precisar elaborar um plano que será avaliado em um concurso cuja duração é de apenas uma aula.

Segundo Aranha (2007) há três momentos que integram a observação avaliativa, sendo eles: a) a pré-observação; b) observação e; c) pós-observação. Em síntese, o(a) docente ao adotar esse tipo de avaliação precisará previamente sistematizar o que será observado e posteriormente deverá sistematizar as observações realizadas e mensurar/avaliar cada aspecto notado.

Avaliação [instrumento] por portfólio e por diário do bordo

Por fim, cito o portfólio e o diário de bordo (ou de campo). O portfólio e o diário de campo são compreendidos como técnicas de aprendizagem ou instrumentos avaliativos. Devido seu uso recorrente, destaco aqui como possibilidade de avaliação. Os usos de portfólio ou diário de campo para avaliar a aprendizagem podem ser combinados com outros tipos de avaliações, tal como avaliação por pesquisa.

Na avaliação por portfólio os(as) estudantes coletam e(ou) selecionam amostras de seus trabalhos produzidos ao longo de um período (bimestre, semestre ou ano) e apresentam ao(à) docente ou à turma ao final de um processo (DEY; FENTY, 1997). Essas amostras são organizadas e presentadas em um portfólio (daí o nome da avaliação), que é avaliado pelo(a) professor(a) ou pelos(as) próprios(as) estudantes, tornando-se uma estratégia de autoavaliação.

Com as TICs, as possibilidades de formatos dos portfólios ou diário de bordo não inúmeras. Tem sido comum professores(as) adotar a produção de um material (não necessariamente um livro) em forma de coletânea produzido e organizado pelos(as) estudantes.

Operacionalização da avaliação

Sua “aplicação” ocorre no contexto de escolarização, o que não significa que esteja subordinada aos limites da sala de aula, ou mesmo ao espaço escolar. Por meio delas o(a) docente afere o rendimento dos(as) estudantes em relação ao conteúdo ensinado, o que pode acontecer em dois momentos: a) durante o ensino do conteúdo; b) após o fim do ensino do conteúdo.

As estratégias e ferramentas de avaliação podem variar de acordo com o tipo, conteúdo envolvido, objetivos educativos e a perspectiva pedagógica adotada. Mas dentre as estratégias e ferramentas mais utilizada destaco o questionário, trabalhos escritos, entrevistas, observações, debates, entre outras formas.

Independente do tipo de avaliação adotada pelo(a) docente, o fato é que “a melhoria da instrução está condicionada a uma avaliação eficiente e eficaz da organização [e] o desenvolvimento pessoal só se concretizará se houver parâmetros que incentivem e motivem o processo de crescimento” (SANT’ANNA, 2013, p. 13-14). Não há uma avaliação melhor ou pior, há avaliações mais ou menos adequadas à certas circunstâncias.

Considerações finais

Como apresentado, a avaliação é parte importante na atividade escolar, sendo uma forma de acompanhar, avaliar, mensurar a aprendizagem dos(as) estudantes e a prática docente. É bom deixar claro que não há uma avaliação melhor que a outra, uma vez ela deve ser adotada de acordo com a perspectiva pedagógica do(a) docente, os objetivos da aula e as necessidades dos(as) estudantes. É possível, por exemplo, usos combinados de tipos de avaliações visando alcançar os objetivos educacionais desejados.

O que nós, docentes, não podemos fazer é tomar a avaliação como uma ferramenta de persuasão e de autoritarismo na relação estudante-docente. Sob tal uso pouco agregará ao direcionamento da atuação profissional e à aprendizagem dos(as) estudantes.

 

Referências bibliográficas

ARANHA, A. (2007). Observação de aulas de Educação Física. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

BLOOM, B.; HASTING, T.; MADAUS, G. Manual de avaliação formativa e
somativa do aprendizado escolar.
São Paulo: Editora Pioneira, 1983.

CHAVES, Paloma. Aprendizagem por Projetos: O Desafio da Avaliação. EduTec: Blog da Professora Paloma, 2009.

CHUEIRI, Mary Stela Ferreira. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008.

DEY, Eric L.; FENTY, Joseph. M. Avaliação em Educação Superior: técnicas e instrumentos de avaliação. In: MACHADO, E. C.B.S. Técnicas e instrumentos de avaliação. Brasília: UnB/Cátedra UNESCO, 1997.

GREGO, Sonia Maria Duarte. A avaliação formativa: ressignificando concepções e processos – volume 3 – D29 – Unesp/UNIVESP – 1º edição, 2013.

LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando
conceitos e recriando a prática. Salvador: Malabares Comunicação e
Eventos, 2003.

SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Comoavaliar?: critérios e instrumentos. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

Como citar este texto:

BODART, Cristiano das Neves. Avaliação escolar: o que é e quais os tipos? Blog Café com Sociologia. jan. 2023.

Nota:

[1] Doutor em Sociologia (USP). Docente do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). E-mail: cristianobodart@gmail.com

 

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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