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A (des)construção de um país conhecido como “país do futebol”

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A (des)construção de um país conhecido como “país do futebol”
Por Cristiano das Neves Bodart
Pedro Cardoso, autor consagrado da televisão brasileira, sobretudo por meio do personagem Augustinho Carrara, da série “A Grande família”, em entrevista datada de 27 de julho de 2015* levanta questões importantes para nossa reflexão. No entanto, a questão é ainda “mais em baixo”.
Teria este autor dito que “A TV constrói um país que não é verdadeiro”. Essa afirmativa é certeira, porém apenas um sobrevoo.
Segundo ele,

“O mundo mudou muito. E uma coisa principal: o Brasil mudou, muito mais que a televisão brasileira. A TV brasileira ainda está igual ao Brasil do FH [Fernando Henrique Cardoso] e nós estamos num Brasil pós-Dilma, embora ela ainda esteja [no governo]. E a gente tem que retratar este Brasil que mudou. Se a gente ficar fazendo a televisão que era da época do Fernando Henrique, o público vai fazer outra coisa.”

E continuou:

“[…] a televisão brasileira está com muito medo da internet”. “E está um pouco acovardada, um pouco conservadora. Ela está mudando só na maquiagem.”

Pedro Cardoso, parece não perceber, ou preferiu não tratar, que os “donos do poder” (em grande parte controladores ou donos da grande mídia) já estão disputando essa nova arena, a internet. Não percebe que no país do futebol o jogo pode mudar, mas os jogadores não, assim como quem ganha e quem perde.
O fato é que a disputa pela construção simbólica da realidade social já migrou para a internet, onde os embates ideologizantes são igualmente fortes.
Os grupos de interesses que sempre dominaram e/ou se beneficiaram do “país de mentira” não largarão o osso simplesmente por conta de um desligar de TV.
Lamentavelmente no Brasil ( país do futebol), o jogo e suas regras podem até mudar, porém permanecem os mesmos jogadores na linha. Os técnicos e cartolas não são ou foram eleitos democraticamente e não abrirão mão do poder apenas por conta da tomada de consciência da arquibancada (o que é difícil de ocorrer). Resta a arquibancada deixar de ser torcedores fanáticos e não mais comprar o ingresso e aplaudir os “craques fabricados” que propiciam o espetáculo do “pão e circo”.
A TV, de fato constrói um país que não é verdadeiro, no entanto, não é apenas ali que dar-se a construção ideologizante desse país.  Além de tudo, a torcida ajuda (já que foi criada para isso)!
 
* Entrevista concedida a Mauricio Stycer, Crítico do UOL. (27/07/2015).

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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